Os tempos actuais são de crise
económica e social. Mais uma vez, as políticas liberais são postas à prova e, à
semelhança do passado, a economia volta a ter como salvador o Estado. A crise de
1929 parece que pouco ensinou à Humanidade… afinal, 80 anos depois, os mesmos
erros repetem-se e a uma maior escala devido à globalização.
O capitalismo impôs-se como a
assunção dos princípios democráticos adaptados à economia. Assim, a livre
iniciativa, o mercado, a lei da oferta e da procura confundem-se oportunamente
com a liberdade e o individualismo e esquecem a fraternidade e a igualdade.
O capitalismo neo-liberal teve o
condão de reduzir a vida ao económico e reformar conceitos até então claros para
as sociedades: a prostituição passou a ser um negócio onde há actrizes e
profissionais do sexo; os artesãos foram convertidos em empresários; o mesmo
aconteceu com os agricultores que hoje são empresários
agrícolas. As cartas estão baralhadas e a sociedade confundida no meio da
incerteza moral e ética.
Mas o pior defeito do capitalismo
é a ganância que se revela nas empresas, na política ou na vida social. Os
políticos assumem-se cada vez mais como pequenos burgueses que olham
sobranceiramente o seu eleitorado. Afinal, de onde vêm eles e para onde vão
depois de passarem pelos órgãos do Estado? Tornam-se administradores de
empresas!
Mas a crise que foi inventada e
reinventada nas noites do capital e da especulação não poupa o povo. O elo mais
fraco da cadeia alimentar do capitalismo. O povo que sustenta todo o sistema é
então acusado de falta de produtividade e/ou competitividade, de viver acima
das suas possibilidades. Como é possível viver “acima das possibilidades” com
400 euros por mês?
A crise e o descontentamento
aumentam e o povo torna-se no “rio descontrolado” descrito por Nicolau
Maquiavel. Parte em busca do responsável pela crise e vai acabar por
encontrá-lo no mais indefeso da sociedade: o imigrante. Ele vai acabar por ser
o culpado de tirar o emprego e contribuir para o aumento da criminalidade.
A xenofobia e o racismo têm, na
actualidade, terreno fértil para lançar sementes às novas gerações. No entanto,
este país de emigrantes que sofre(u) na pele os males da perseguição e da
insegurança, nada aprendeu com a sua experiência.
Nem todos os imigrantes imigram
por razões económicas e, a esmagadora maioria, são gente séria e trabalhadora.
Precisam de ser integrados na nossa sociedade que se quer cosmopolita e, por
isso, intercultural. E, neste capítulo, nada se tem feito no nosso país quando
nos comparamos com a Europa dos 15 e, mais particularmente, com a vizinha
Espanha.
A educação é a pedra basilar
desta mudança de atitude perante este nosso semelhante que não é o responsável,
mas antes mais uma vítima, da crise. Portugal e, em particular, o nosso sistema
educativo não está apetrechado com um observatório de convivência escolar e de
educação para cidadania ao longo da vida.
Temos um largo caminho a
percorrer: aprofundar a democracia promovendo a participação cívica e estimular
a justiça social diminuindo o fosso entre ricos e pobres. A excelência da
sociedade portuguesa e o seu reconhecimento no Mundo deveria passar pela
afirmação da justiça social e da democracia fundada no reconhecimento da pessoa
humana como fim único da realização das sociedades.
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