“Brandindo uma pistola
junto ao rosto de Nicholas, anunciou as regras básicas do estabelecimento: não
ler, não escrever, não falar.
‘E pensar?’, ocorreu ao
professor perguntar (…) Nicholas compreendeu nesse momento que não só era
possível pensar, como era necessário.”
(Steven Lukes in “O
Curioso Iluminismo do Professor Caritat”)
A problemática
dos direitos das crianças, embora mais presente na consciência social e
científica está ainda num processo de construção. Prova disso, é o entendimento
e enquadramento legal dado pelas sociedades à questão. Aprioristicamente
achamos que uma das razões para este atraso se prende com o facto de o divórcio
e a separação só agora terem atingido níveis de notoriedade social que,
obviamente, estarão relacionados com fenómenos demográficos, económicos,
culturais e sociais.
O modelo
tradicional de família está agora diluído num conjunto de paradigmas que nos
transportam a outros níveis de entendimento e de aceitação social (famílias
monoparentais, recompostas, conjugais…) que, por sua vez, conduzem os
cientistas sociais a procurar respostas no sentido de manter o equilíbrio
educacional das crianças e jovens perante o colapso familiar.
As crianças não
escolhem nascer e também não podem escolher os pais. Por outro lado, os pais
normalmente escolhem como, quando e com quem querem constituir família. Se
quisermos também acrescentar o factor dependência (física, psicológica, emocional,
económica, social…) do menor em relação ao adulto, no que toca aos rumos que
gostaria de dar à sua vida, então começamos a perceber a debilidade e
fragilidade da criança no grande palco da vida social entre os adultos. Adultos
que escolheram, de certa forma, a
sua vida e que, com as suas decisões, irão desequilibrar a vida dos seus
filhos.
O mundo hodierno
está pleno de novidades para as quais as sociedades ainda procuram
enquadramento. Em pouco mais de cem anos, a sociedade abriu-se 24 horas por dia
e assistiu ao deslumbramento tecnológico, a mulher começa a experienciar a
liberdade de decidir sobre si e a sua vida, as crianças saíram do banco do
patrão para o da escola, vivemos mais e cada vez mais com melhor saúde, a
esperança média de vida aumentou sonhos e a capacidade de amar e querer ser
amado… Mas, toda esta vertigem acarreta dificuldades que não estavam calculadas
pelo Homem, maior longevidade traduz-se rapidamente em igual aumento de
responsabilidade. Esta responsabilidade traduz-se nas preocupações actuais com
o ambiente, os valores, o emprego, a pobreza e a distribuição da riqueza… e
claro, a aprendizagem e a consciencialização de que a educação é a pedra
angular de todo o sistema.
A educação é um
dos mais, senão o mais, representativos agentes de socialização se a
entendermos, pelo menos, em dois círculos: o familiar e o escolar. Daí que, na
sociedade do capital em que hoje vivemos, a educação tem um preço para os pais
e para as nações. Entende-se que mais educação representa melhores cidadãos e
maior evolução social. Estes princípios poderão claramente ser discutíveis
quanto ao carácter manipulador e de coacção dos adultos sobre as crianças mas,
não podem ser excluídos do padrão da sociedade actual. Hoje ter filhos não é
pensar em mão-de-obra para o campo mas sim a assumpção de um amor e um
desprendimento financeiro dos pais na procura de concretizar a felicidade dos
filhos.
Os professores são chamados todos
os dias a responder às demandas das famílias e aos sonhos dos alunos. Não parar
de acreditar! Ser capaz de actuar como o grande mediador do sistema entre a
família e a escola, os pais e os filhos, os pais e as mães.
Saber actuar não só como
professor mas, acima de tudo, como um educador, torna a profissão docente cada
vez mais empolgante e exigente. Seria bom reconhecer nos professores as acções,
os modelos, a capacidade de tornar os alunos seres melhores humanos.
É bom que as famílias reconheçam
o contributo social dos professores mas, esse reconhecimento, deve ser alargado
também às instâncias políticas que, há muito tempo, se esqueceram do
fundamental do professor na construção de uma sociedade mais justa e
democrática.
Em Portugal, há cada vez mais
necessidade de políticos capazes de pensar a escola a partir de referentes
qualitativos de cidadania e conhecimento e não de tecnocratas abelhudos que
remexem no caixote dos papéis a vida dos docentes e da escola. Se é verdade que
a escola não se faz sem alunos, não deixa de ser certo que esta também não
existe sem professores.
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