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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Apoiar os professores é respeitar os alunos e as suas famílias



“Brandindo uma pistola junto ao rosto de Nicholas, anunciou as regras básicas do estabelecimento: não ler, não escrever, não falar.

‘E pensar?’, ocorreu ao professor perguntar (…) Nicholas compreendeu nesse momento que não só era possível pensar, como era necessário.”

(Steven Lukes in “O Curioso Iluminismo do Professor Caritat”)

 

A problemática dos direitos das crianças, embora mais presente na consciência social e científica está ainda num processo de construção. Prova disso, é o entendimento e enquadramento legal dado pelas sociedades à questão. Aprioristicamente achamos que uma das razões para este atraso se prende com o facto de o divórcio e a separação só agora terem atingido níveis de notoriedade social que, obviamente, estarão relacionados com fenómenos demográficos, económicos, culturais e sociais.

O modelo tradicional de família está agora diluído num conjunto de paradigmas que nos transportam a outros níveis de entendimento e de aceitação social (famílias monoparentais, recompostas, conjugais…) que, por sua vez, conduzem os cientistas sociais a procurar respostas no sentido de manter o equilíbrio educacional das crianças e jovens perante o colapso familiar.

As crianças não escolhem nascer e também não podem escolher os pais. Por outro lado, os pais normalmente escolhem como, quando e com quem querem constituir família. Se quisermos também acrescentar o factor dependência (física, psicológica, emocional, económica, social…) do menor em relação ao adulto, no que toca aos rumos que gostaria de dar à sua vida, então começamos a perceber a debilidade e fragilidade da criança no grande palco da vida social entre os adultos. Adultos        que escolheram, de certa forma, a sua vida e que, com as suas decisões, irão desequilibrar a vida dos seus filhos.

O mundo hodierno está pleno de novidades para as quais as sociedades ainda procuram enquadramento. Em pouco mais de cem anos, a sociedade abriu-se 24 horas por dia e assistiu ao deslumbramento tecnológico, a mulher começa a experienciar a liberdade de decidir sobre si e a sua vida, as crianças saíram do banco do patrão para o da escola, vivemos mais e cada vez mais com melhor saúde, a esperança média de vida aumentou sonhos e a capacidade de amar e querer ser amado… Mas, toda esta vertigem acarreta dificuldades que não estavam calculadas pelo Homem, maior longevidade traduz-se rapidamente em igual aumento de responsabilidade. Esta responsabilidade traduz-se nas preocupações actuais com o ambiente, os valores, o emprego, a pobreza e a distribuição da riqueza… e claro, a aprendizagem e a consciencialização de que a educação é a pedra angular de todo o sistema.

A educação é um dos mais, senão o mais, representativos agentes de socialização se a entendermos, pelo menos, em dois círculos: o familiar e o escolar. Daí que, na sociedade do capital em que hoje vivemos, a educação tem um preço para os pais e para as nações. Entende-se que mais educação representa melhores cidadãos e maior evolução social. Estes princípios poderão claramente ser discutíveis quanto ao carácter manipulador e de coacção dos adultos sobre as crianças mas, não podem ser excluídos do padrão da sociedade actual. Hoje ter filhos não é pensar em mão-de-obra para o campo mas sim a assumpção de um amor e um desprendimento financeiro dos pais na procura de concretizar a felicidade dos filhos.

Os professores são chamados todos os dias a responder às demandas das famílias e aos sonhos dos alunos. Não parar de acreditar! Ser capaz de actuar como o grande mediador do sistema entre a família e a escola, os pais e os filhos, os pais e as mães.

Saber actuar não só como professor mas, acima de tudo, como um educador, torna a profissão docente cada vez mais empolgante e exigente. Seria bom reconhecer nos professores as acções, os modelos, a capacidade de tornar os alunos seres melhores humanos.

É bom que as famílias reconheçam o contributo social dos professores mas, esse reconhecimento, deve ser alargado também às instâncias políticas que, há muito tempo, se esqueceram do fundamental do professor na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Em Portugal, há cada vez mais necessidade de políticos capazes de pensar a escola a partir de referentes qualitativos de cidadania e conhecimento e não de tecnocratas abelhudos que remexem no caixote dos papéis a vida dos docentes e da escola. Se é verdade que a escola não se faz sem alunos, não deixa de ser certo que esta também não existe sem professores.

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