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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Feira dos Santos de Cerdal (Valença): A Última Feira Romaria Galaico-Minhota

 
 
A Última Feira Romaria Galaico-Minhota
 
O 1 de Novembro é o principal dia deste acontecimento e é conhecido como o Dia da Feira dos Santos e o dia 2 tradicionalmente instituído como o Dia da Feira das Trocas.
 
A Feira dos Santos é uma feira / romaria secular e um verdadeiro ponto de encontro galaico-minhoto que cativa, ano após ano, milhares de visitantes. A feira já aparece documentada em 1758 e é um ponto de confluência de povos e onde, por excelência, se sente a alma galaico-minhota.
 
Nas Memórias Paroquiais de 1758 esta feira surge já documentada “Nesta freguesia se faz uma feira dentro do distrito dela a doze de cada mês e em dia de Todos os Santos de cada ano e esta é de bestas (gado) e somente dura naquele dia e não é franca que paga os direitos a Sua Majestade”.
 
Feira de Gado e Corridas de Cavalos
Os cavalos garranos, típicos da região, são um dos principais atrativos desta feira com as castiças e singulares licitações e mostra dos animais, por parte dos muitos criadores da região norte de Portugal e do sul da Galiza, a animarem as manhas do dia 1 de Novembro. Para além do gado cavalar este sector  contará, ainda,  com gado bovino e caprino.
As emblemáticas corridas de cavalos decorrerão no dia 1, à tarde, na Pista das Corridas.
As Tasquinhas e as Desgarradas
Nas tasquinhas da feira fazem-se, por tradição, as provas dos vinhos novos da região e, também, se apreciam os mais diversos petiscos, com destaque para os rojões, o caldo verde e as castanhas assadas. Nas noites, sobretudo, de 31 de Outubro para 1 de Novembro e deste para 2 de Novembro decorrem os cantares ao desafio e as desgarradas a cargo dos tocadores de concertina da região nas muitas tasquinhas típicas montadas na feira.
A Feira das Lavradeiras
Os espaços mais próximos à Capela de São Bento acolhem as lavradeiras da região que nesta época vendem, sobretudo, os pericos dos santos (pêras pequenas), as castanhas cruas ou cozidas, as nozes, os dióspiros e muitos outros produtos do campo.
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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Torta de Laranja do Convento de Bulhente (V. P. de Âncora)




Enquanto os nossos historiadores esgrimem diferentes perspetivas sobre S. Salvador de Bulhente nós -  que não temos dúvidas da sua existência quer como mosteiro / convento e/ou paróquia - propomos hoje, aos nossos leitores e amigos, uma viagem à pastelaria conventual ancorense.

Partilhamos a receita da Torta de Laranja do Convento de Bulhente:

Ingredientes:
  • 12 Ovos
  • 12 gemas
  • 2 Chávenas de Sumo de Laranja natural
  • 1 Kg de Açúcar
  • 1 Folha de Papel Vegetal

Modo de preparação:
Juntam-se os ingredientes todos e vai ao forno bem quente em tabuleiro apropriado forrado com papel vegetal untado com manteiga.
Quando estiver cozida retira-se do forno deixando arrefecer um pouco.
Vira-se em seguida sobre um pano molhado em água e enrola-se como qualquer torta.

Bom apetite!

Comunicação Não Verbal : Cinésica, Proxémica e Paralinguagem


A comunicação não verbal utiliza algumas espécies de suportes tais como o corpo, a dispersão dos indivíduos no espaço e uma série de outros sinais que nos envolvem no dia a dia e que nos transmitem mensagens ás quais, por vezes,  não damos a verdadeira atenção e que podem, por isso, interferir na nossa relação com o outro, nomeadamente em situações de formação. Todo o comportamento numa situação de interação tem valor de mensagem, ou seja é impossível não comunicar.

            Este tipo de comunicação transmite muitas vezes as intenções que as palavras não chegam a expressar. Assim, um sorriso ou um silêncio em determinadas situações podem comunicar mais facilmente o que sentimos, do quem simples palavras.  


Comunicação Não Verbal :


Cinésica, Proxémica e Paralinguagem


            A comunicação não verbal data dos primórdios da organização social, embora tenha sido subestimada e posta um pouco de parte. O interesse por esta, apenas surgiu em meados do século XX, e foi a partir daí que se iniciaram os estudos científicos.

            Este tipo de comunicação cria a coerência de um grupo de indivíduos pertencentes a uma mesma espécie, e também uma boa qualidade de equilíbrios biológicos interespecíficos. Devido a uma ritualização certas atitudes compreendemos como as estruturas anatómicas, ou comportamentos adaptados ao meio físico passa a servir de comunicação.

            A definição de comunicação não verbal não tem sido tarefa fácil, devendo este facto estar associado a uma vasta gama de fenómenos, desde a expressão facial e os gestos até à moda; desde a dança e o teatro até à música e a mímica, desde o fluxo de sentimentos e emoções até ao fluxo de tráfego, e desde a territorialidade dos animais até ao protocolo dos diplomatas.

            Podemos no entanto entender a comunicação não verbal como toda a comunicação que acontece para lá das palavras, que apresenta pouco controlo consciente por parte dos emissores e que varia com o padrão cultural em que nos inserimos. 

            A comunicação não verbal desempenha várias funções que ajudam o ser humano a comunicar. Desta forma podemos encará-la como o principal meio de expressão e comunicação dos aspetos emocionais., como meio primário e privilegiado para assinalar  mudanças de atitude nas relações interpessoais. Podemos vê-la também na apresentação do Eu e do seu corpo, pois, dá uma imagem de si mesmo ao mundo que o envolve, e principalmente como um apoio e complemento à comunicação verbal. Se nos lembrarmos que toda a comunicação tem um conteúdo e uma relação, podemos esperar que os dois modos de comunicação não só existem lado a lado mas que se complementam em todas as mensagens.

Cinésica (body language)


            A cinésica integra o campo dos movimentos corporais. Nenhum movimento ou expressão corporal é destituída de significado no contexto em que se apresenta e por conseguinte estão sujeitos a uma análise sistemática.

         Esta estende-se por cinco áreas de estudo que são: o contacto visual,  os gestos, as expressões faciais, a postura e os movimentos da cabeça.

            Assim como exemplos cinésicos temos uma série de expressões e movimentos que nos transmitem informações sobre os indivíduos, que podem ir desde um sorriso, à maneira como uma pessoa nos aperta a mão. 

         Contacto visual


            A frequência, a duração e a ocasião de um olhar são fatores que permitem enviar  mensagens sobre o relacionamento entre duas ou mais pessoas. Ao estabelecermos contacto visual com o outro, ele irá de alguma forma sentir-se implicado pessoalmente, ao mesmo tempo que podemos eliminar uma conversa, eliminado o contacto visual.

            Manter o contacto visual, não significa fixar visualmente o outro de uma forma continua, uma vez que isso poderá tornar-se incomodativo. Para isso existem umas normas que devemos ter em conta relativamente aos contactos visuais. Ao estabelecermos contacto visual a dois, o contacto pode ir de 5 a 15 segundos sensivelmente, enquanto que em grupo o referido contacto deverá ser mantido por 3 a 4 segundos por pessoa, percorrendo todo o grupo.

            Um olhar transmite uma série de comportamentos, desde demonstrar um comportamento passivo através de um olhar fugido e evasivo, ou um olhar direto e terno que pode indicar benevolência, entre outros.

Gestos


             Um dos aspetos mais importantes do comportamento não verbal é o da gestualidade. O comportamento motor de um indivíduo possuiu uma grande expressividade. Podemos caracterizar os gestos em cinco categorias,  que são : gestos simbólicos ou emblemas, gestos ilustrativos, gestos indicadores de estado emocional, gestos reguladores e por fim os gestos de adaptação.

                       Como gestos de simbólicos, podemos entender todos os sinais que são emitidos intencionalmente, e que possuem um significado específico capaz de ser traduzido diretamente por palavras. Ao apontarmos para alguma coisa. É um exemplo ilustrativo.

             A todos os movimentos que a maioria dos indivíduos utiliza no decurso da comunicação verbal, e que ilustram o que se vai dizendo, damos o nome de gestos ilustrativos.

             Aos gestos indicadores de aspetos emocionais, são atribuídos todos aqueles que transmitem ansiedade e tensão, e que podem produzir modificações que conseguem ser reconhecidas nos movimentos dos indivíduos. Como por exemplo um punho fechado em sinal de ira

             Quando se conversa, existem gestos que servem para manter o fluxo da conversação, indicando a quem fala se o interlocutor está interessado ou não, se deseja falar, ou interromper a comunicação. A este tipo de gestos damos o nome de gestos reguladores.

             Ao toque de um telemóvel, sem darmos por nada, estamos logo a colocar a mão no bolso, para ver se por acaso é o nosso que está a tocar. Estes gestos, como muitos outros no nosso quotidiano, são gestos não intencionais, pois já os usamos sistematicamente porque já aprendemos a sua utilidade e constituem parte do repertório de um indivíduo. A estes gestos, associamos os movimentos do corpo durante uma interação e damos o nome de gestos de adaptação.

Expressões Faciais


           O canal privilegiado de expressar as emoções é o rosto. Todos nós temos uma série de máscaras faciais que utilizamos consoante aquilo que queremos transmitir.

           As expressões faciais desempenham diversas funções, tais como, expressão das emoções e das atitudes interpessoais, o envio de sinais inerentes à interação em curso e a manifestação de aspetos típicos da personalidade de um indivíduo.

Postura


           Um dos aspetos importantes da comunicação não verbal é a postura. Esta designa os modos de nos movimentarmos, sendo algo que se vai adquirindo com o tempo e com os hábitos. Este sinal, é em grande parte involuntário, mas pode participar de forma importante no processo de comunicação. Em todas as culturas existem muitas formas de estar deitados, sentados ou de pé.

           Existem posturas variadas que correspondem a situações de amizade ou de hostilidade, bem como posturas que indicam um estado ou condição social, entre outros.

    Movimentos da Cabeça


      Importantes indicadores sobre o andamento de uma interação, são os movimentos de cabeça. Os acenos de cabeça são sinais não verbais muito rápidos, se bem que aparentemente descortináveis.

      Um aceno de cabeça de quem ouve é entendido por quem fala como um sinal de atenção e, por isso, desempenha neste um pape de reforço, pois encoraja a sua continuação, bem como é uma recompensa para o comportamento precedente.

 

Proxémica


            O termo proxémica define o conjunto de observações e das teorias referentes ao uso do espaço na comunicação pelo homem. A maneira Como um indivíduo estrutura o seu micro- espaço é de forma inconsciente, sendo esta uma questão sempre relacionada com a situação, o ambiente e a cultura.

            Existem três níveis proxémicos que são eles:

O Infracultural, que se refere ao comportamento e está enraizado no passado biológico do ser humano.

O Pré- cultural, que é fisiológico e pertence essencialmente ao presente.

O microcultural, é onde se situa a maior parte das observações proxémicas. Podemos distinguir aí três aspetos do espaço, conforme este apresente uma organização rígida, semi- rígida e informal.

Espaço de organização rígida.


           Compreende aspetos materiais, ao mesmo tempo que as estruturas ocultas e interiorizadas que regem as deslocações do homem no planeta, consistindo assim em disposições estruturais inalteráveis em torno de nós.

Espaço de organização semi- rígida.


           É o modo como são dispostos os obstáculos moveis, assim, a maneira como colocamos os nossos objetos, os lugares onde os dispomos, dependem de modelos microculturais que não só representativos de amplos grupos culturais, mas também dessas variações que cada indivíduo introduz na sua cultura e que o torna único.

Espaço de organização informal.


           É o território pessoal em trono de um indivíduo, este espaço determina a distância entre indivíduos ou seja, compreende as distâncias que observamos nos nossos contactos com o outro.

            Neste espaço existem quatro distâncias desiguais:

Distância Intima (15 a 50 cm)- Esta distância é reservada a um número limite de pessoas, permite contactos diretos corpo a corpo, bem como percecionar uma série de características da outra pessoa, tais como temperatura corporal, odores, respiração...

Uma situação radical será a de um transporte público, onde as pessoas são colocadas em relação de proximidade, normalmente, consideradas intimas com estranhos. Mas os utentes dispõem de armas defensivas permanecendo imóveis tanto quanto possível, ficando os músculos das zonas de contacto contraídos. 

Distância Pessoal (40 cm a 1,2 metros) – é a distância de relacionamento entre amigos mais íntimos e casais, pois permite conversar à vontade. Podemos imaginar esta distância sob a forma de uma pequena esfera protetora. Refere-se mais ou menos à distância do comprimento do braço.

Distância Social (70 cm a 4 metros) – esta distância é considerada como o limite do poder sobre outro. Os pormenores do rosto já não são percetíveis e ninguém se toca. Esta é a  distância recomendada e que é útil para se manter contactos pessoais.

Distância Pública (4 a 9 metros) – Serve quando não nos queremos envolver pessoalmente, situa-se então fora do círculo imediato de referência do indivíduo. Impõem-se geralmente às personalidades oficiais. 

            O homem, tal como os animais, serve-se dos seus sentidos para diferenciar as distâncias e os espaços. A distância escolhida depende das relações interindiviuais, dos sentimentos e atividades dos indivíduos envolvidos na situação. Daí a necessidade que existe em estarmos atentos a estas situações no contexto da formação, dado que a forma como utilizamos o nosso espaço e o dos outros transmite diferentes significados e o modo de relação que pretendemos estabelecer.

Paralinguagem


            A paralinguagem é um conceito que se aplica às modalidades da voz(modificações de altura, intensidade, ritmo,...) que fornecem informações sobre o estado afetivo do locutor, e ainda outras emissões vocais tais como o bocejo, o riso, o grito, a tosse.... 

A qualidade da voz e as vocalizações que emitimos durante a fala dividem-se em quatro índices paralinguísticos:

-         Qualidade de voz, que inclui a altura do tom de voz, a qualidade da articulação e o ritmo.

-         Caracterizadores vocais, que são sons bem reconhecíveis tais como o riso, o suspiro, o choro, o bocejo, o grito...

-         Qualificadores vocais, que incluem a maneira como as palavras são proferidas, tais como a intensidade, o timbre e a extensão.

-     Secreções vocais, incluem os sons que contribuem para o fluxo da fala e que não sendo considerados palavras comunicam alguma coisa: “hum”, ou “ahn”, ou “hem”, pausa e outras interrupções de ritmo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Comentário ao texto “O património inmaterial galego-portugués: riqueza e diversidade” da autoria de Santiago Veloso Trancoso


“Brandindo uma pistola junto ao rosto de Nicholas, anunciou as regras básicas do estabelecimento: não ler, não escrever, não falar.

‘E pensar?’, ocorreu ao professor perguntar (…) Nicholas compreendeu nesse momento que não só era possível pensar, como era necessário.”[1]

 

O texto de Santiago Veloso é um grito que surge do coração galaico-português para a Humanidade afirmando a identidade deste povo do noroeste da Península Ibérica. A sua prosa revela aqui a clara intenção de afirmar um povo que foi artificialmente (pela política) dividido durante a Idade Média mas que, ainda assim, resistiu à tentativa de extermínio cultural por parte dos governos nacionais de ambos os países ibéricos.

Na nossa perspectiva, o autor dedica a quase totalidade do seu escrito a argumentar, de forma exemplar e categórica, a existência de uma identidade única e original das gentes da terra que lembramos como Gallaecia. Uma nação que se construiu historicamente de forma quiçá improvável pois, por um lado, resulta de uma miscigenação de povos (celtas, romanos, suevos) e, por outro, constitui uma memória viva, resistente e combativa, dos seus valores, tradições e cultura.

Recorrendo à realidade – pois não pode ser escamoteada – concretiza com mestria a teoria da identidade cultural aplicando-a com competência à comunidade galaico-portuguesa, obrigando o leitor a reflectir sobre o conceito de identidade.

Falar de identidade obriga-nos, inicialmente, a fazer referência à noção de território que, no campo das ciências naturais, nos reporta ao estabelecimento de uma relação entre o domínio de espécies animais ou vegetais com uma determinada área física.

Posteriormente, foi incorporado pela geografia, que relaciona espaço, recursos naturais, sociedade e poder.

Em seguida, diversas disciplinas passaram a associar-se ao debate, entre elas a Sociologia, a Antropologia, a Economia e a Ciência Política.

O território surge, portanto, como resultado de uma acção social que, de forma concreta e abstracta, se apropria de um espaço (tanto física como simbolicamente) e, por isso, denominado processo de construção social enquanto que o espaço está relacionado com o património natural existente numa região.

Nas ciências sociais, as discussões sobre a identidade assumem duas formas mais importantes, a psicodinâmica e a sociológica.

A psicodinâmica, no discurso freudiano é a identificação, através da qual a criança assimila pessoas ou objectos externos. Pelo que, esta perspectiva, enfatiza o cerne de uma estrutura psíquica como tendo identidade contínua e, essa continuidade, significa a capacidade de permanecer na mesma a meio de uma mudança constante.

 Assim, a identidade é um processo localizado no âmago do indivíduo e, contudo, também na essência da sua cultura comunitária, um processo que estabelece, na verdade, a identidade dessas duas vertentes.

Numa perspectiva mais sociológica, a abordagem interaccionista simbólica ajusta-se à problemática da identidade debruçando-se sobre questões como “qual o meu?”, “quem sou eu?”. Representando o eu uma característica humana que permite às pessoas ponderar de forma reflexiva sobre a sua natureza e o mundo social através da comunicação e da linguagem.

Ora, nós somos tradição e memória e, é por isso, que Santiago Troncoso dedica grande parte do seu artigo à afirmação da identidade reflectida nos costumes, usos, tradições e território galaico-português.

Ao referir-se ao património imaterial galego-português, o autor, não se distrai do território de características específicas que conduziu este povo por um caminho único e original. Um povo, dois Estados, uma Nação… uma história comum de partilha da vida quotidiana plasmada nos cinco âmbitos que enuncia: a) o património associado às actividades agro-marítimas e fluviais; b) um património associado às actividades agrárias; c) um património associado aos processos e saberes artesanais; d) um património associado ao universo festivo, lúdico e de lazer; e) um património associado a uma literatura de tradição oral.

Santiago Troncoso, apela então à UNESCO para que este património seja, ao fim de tantos séculos, reconhecido pela Humanidade. Ao que parece esta tentativa saiu gorada mas deve constituir um estímulo para continuar a lutar.

Da nossa parte, achamos que o projecto “Ponte… nas ondas!” deve continuar e alargar-se mais ao território do norte de Portugal onde ainda é ainda pouco conhecido.
A terminar deixo o testemunho da minha terra, Vila Praia de Âncora, fundada por uma comunidade lusa e uma comunidade galega (A Garda) que vinha para cá pescar e, quando o mau tempo impedia o seu regresso, ficavam temporadas por cá. Trabalhavam a terra, o sargaço e uniram o litoral com o interior agrário onde estavam os outros habitantes autóctones. A nossa ascendência é também galega ao mesmo tempo que portuguesa pois partilhamos familiares de ambos os lados da fronteira que nos foi imposta. Dos gardeses ficou-nos o legado da gamela/masseira (barco de pesca típico desta região), do refraneiro galego marítimo, da caldeirada (“à galega” como chamam os nossos pescadores), a sardinha assada na brasa (um dos ex-libris dos ancorenses) e as histórias do demo e das meigas que sempre encantaram e fascinaram os povos deste fim da terra.

A história galaico-portuguesa ultrapassa os Estados e o tempo pelo que é nossa obrigação, enquanto docentes, não ocultar aos nossos alunos que, desde a aurora dos tempos, com a Galiza, partilhamos uma vida e um destino comum que urge continuar concretizar no nosso quotidiano.



[1] Lukes, Steven (1996). O Curioso Iluminismo do Professor Caritat, Lisboa, Gradiva.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Breve história de Vila Praia de Âncora


A freguesia de Vila Praia de Âncora já aparece mencionada na documentação do séc. X, então com a denominação de Gontinhães. Era uma paróquia com igreja e que estava organizada muito provavelmente segundo a fórmula ancestral de Villa rústica, à qual pertencia o sítio chamado da Lagarteira.
 
Esta paróquia de Santa Marinha de Gontinhães atravessou mais de 1000 anos de história local e de tal forma a denominação se enraizou, que ainda é usual na região, tal como ainda há quem chame de Gontinhães a Vila Praia de Âncora, até porque, na verdade só em 1924, a secular Gontinhães se transmutou em Vila Praia de Âncora.
 
Toda a região é rica em vestígios arqueológicos, quer do Neolítico, quer da cultura Castreja (Idade do Ferro), mas o vale do Âncora tem atraído a especial atenção dos arqueólogos. O rio nasce na Serra de Arga e após 15 km chega ao mar num sítio a 7 km, a sul da foz do rio Minho. No sítio chamado Lapa dos Mouros, pode ver-se aquele que é provavelmente o Dólmen mais notável da pré-história em Portugal (o Dólmen da Barrosa).  
 
Nos finais do século passado, Martins Sarmento deu a conhecer uma povoação castreja, hoje conhecida por Cividade de Âncora. Trata-se dum monte, excepcionalmente bem situado para cumprir missões defensivas entre o mar e uma ampla área circundante, habitada pelo menos até ao séc. I d.C.
 
Os romanos terão aqui instalado um entreposto mineiro para recolha dos metais que exploravam nas minas de Ribô, Orbacém e Gondar. Talvez por ter existido aí um entreposto com cais de embarque, se tenha gerado a ideia de que os romanos teriam baptizado o sítio com o nome de âncora, por aqui desembarcarem as suas tropas e aqui embarcarem o minério. Essa é a ideia de Argote. No séc. XIII generalizou-se a lenda de que teria sido na foz deste rio que o rei Ramiro (o da lenda de Gaia), afogou a sua adúltera e saudosa esposa com uma mó atada ao pescoço como se fora uma âncora... Ao que tudo indica no entanto, o nome é anterior e tem origem no nome que o próprio rio já teria. Quando a paróquia foi formada, ainda o sítio onde hoje está Vila Praia de Âncora seria completamente desabitado, principalmente por ser um sítio aberto e exposto aos constantes ataques dos piratas normandos. O mesmo Argote diz que aqui terá existido um fortim para vigilância e aviso. Por isso a paróquia inicial se fundou na “Villa” de Guntilares (dum tal Guntila) mais no interior e mais resguardada. Esta “Villa” teria resultado duma acção de presúria efectuada pelo Conde Paio Vermudes, aquando do repovoamento desta faixa do litoral até ao Lima (séc. IX) ou por um seu vassalo que se chamaria Guntila. O mesmo que terá povoado Bulhente. O topónimo já está documentado nos finais do séc. IX, altura em que parte das terras da Vila foram doadas ao Mosteiro de São Salvador da Torre. Data de então a primeira igreja consagrada como era usual, a Santa Marinha. Os tempos posteriores foram bem difíceis e desastrosos devido às razias muçulmanas e a foz do Âncora deve ter-se tornado um dos sítios mais perigosos de toda a costa norte. Era um ancoradouro que dava para um vale rico e fértil, por isso muito cobiçado e também frequentemente assaltado. Daí que uma outra Villa, a de Saboriz, provavelmente fundada no sítio actual de Vila Praia de Âncora, tenha tido uma vida precária, embora a documentação a relacione com uma Venda Velha ou com uma Pousada necessária para esta zona de muita passagem (séc. X) entre Braga e Tui. 
 
Igreja Paroquial, Forte do Lagarteiro, capelas da Sra. Das Necessidades (Sra. Bonança), de S. Brás, de S. Sebastião e do Divino Salvador, Gruta de N. S. de Lourdes, Ponte de Abadim, vários cruzeiros, alminhas e ninhos são patrimónios existentes da freguesia de Vila Praia de Âncora.
 
A área urbana estende-se para as zonas de Sandia e da Vista Alegre e para a zona industrial da Póvoa e também para os lados da antiga Sobreira onde se localizam as escolas, o centro de saúde e a maioria dos serviços públicos.  
 
 
Ainda a respeito da história desta freguesia, no livro "Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo" diz textualmente:
 
«Esta freguesia aparece mencionada em documentos do século X, sob a designação de Gontinhães.
 
Na lista das igrejas de Entre Lima e Minho pertencentes ao bispado de Tui, elaborada por ocasião das Inquirições de D. Afonso III, em 1258, é citada a igreja de "Guntianes". As Inquirições referem também São Salvador de Bulhente, que hoje é apenas um lugar de Vila Praia de Âncora. Nessa época, porém, possuía igreja própria, sendo o seu abade apresentado pelos moradores.
 
D. Rodrigo de Moura Teles, em 17717, transferiu os bens da capela de Bulhente para o sítio do Calvário, por esta ter deixado de ter cura e fregueses.
 
Na taxação a que se procedeu no reinado de D. Dinis, em 1320, Gontinhães figura enquadrada no arcediagado da Vinha, com a taxa de 40 libras.
 
No Censual do Cabido de Tui para o sobredito arcediagado da Terra da Vinha, elaborado em 1321, Gontinhães pagava um quarteiro de trigo, uma libra de cera e procuração.Entre 1514 e 1532, no Censual de D. Diogo de Sousa, Gontinhães rendia para a diocese de Braga 23 mil réis. A partir desta data, todas as freguesias de Entre Lima e Minho, da comarca eclesiástica de Valença, passaram a fazer parte da diocese de Braga.Na avaliação dos mesmos benefícios eclesiásticos (1545-1549), esta freguesia rendia 45 mil réis.
 
Américo Costa descreve-a como abadia da apresentação do Ordinário, como alternativa do rei, tendo anteriormente pertencido à Casa de Vila Real.
 
Só em 1924, por força da Lei 1616, de 5 de Julho, passou a denominar-se Vila Praia de Âncora.»
 
 
( Fontes consultadas: Caminha e seu Concelho, Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo e Freguesias Autarcas do Século XXI ).

A Comunicação Verbal

As pessoas comunicam de diversas formas ou tipos, mas a comunicação verbal oral, é a mais comum e refere-se à emissão de palavras e sons que usamos para nos comunicar, tais como dar instruções, entrevistar ou informar, já a comunicação verbal escrita é o registo de observações, como pensamentos, interrogações, informações e sentimentos.

Apesar dos grandes avanços tecnológicos, a palavra continua a ser um dos meios de comunicação mais eficazes que existem.

Saber comunicar é uma arte, devemos então, aprecia-la, mas não só, também devemos potenciá-la, porque está será sem dúvida, uma boa condição para o sucesso.

É importante o que se diz numa comunicação, mas mais relevante é a forma como se diz, por isso é tão essencial a letra como a música e é na conjugação destas duas que surge um bom comunicador.

Então, comunicação verbal é toda a comunicação que utiliza palavras ou signos. Através da comunicação verbal, simbólica e abstracta, que se faz por palavras, palavras estas, faladas ou escritas, o homem compreende e domina o mundo que o rodeia e entende, assim, os outros. A linguagem verbal possibilita a memorização de mensagens, vencendo assim as barreiras do tempo. Os sinais escritos substituem os signos vocais expressos nas palavras, a escrita é a representação dos sons articulados na fala, em forma de sinais gráficos, uma transformação da língua natural num código. Língua é um sistema de comunicação verbal herdado, aprendido e partilhado pelos integrantes de uma mesma comunidade. Através da comunicação verbal oral, os indivíduos de um mesmo grupo linguístico criam diversas representações do mundo, interagem, comunicam, trocam experiências e procuram soluções para seus problemas.
 

De um modo geral, as pessoas evitam falar em público, isto por um conjunto de razões, como constrangimento, com medo de confrontar a audiência, medo de não saber responder a alguma pergunta, receio de parecer risível ou de dizer asneiras, entre muitas outras, contudo, elas apenas servem para esconder a única e real razão, ou seja, uma falta de treino ou de familiaridade com a comunicação verbal. É perfeitamente normal que algumas pessoas ostentem uma maior naturalidade do que outras. A diferença, contudo, reside apenas no quanto uns se conseguem exsolver dos falsos e infundados receios e concentrar-se precisamente na comunicação, então, o importante é ser o mais natural possível e não procurar parecer natural. Jerry Seinfeld refere que, de acordo com a maioria dos estudos, o primeiro medo das pessoas é falar em público; o segundo é a morte, então, a maioria das pessoas que tem que ir a um funeral, prefere estar no caixão a fazer o discurso de despedida.

A habilidade de expressar as boas ideias, também é um elemento fundamental. A comunicação verbal interpessoal ou entre pequenos grupos, pode servir como uma importante preparação para falar em público, em ambientes mais formais ou diante de grandes audiências, como por exemplo, num congresso.
 

É muito importante cuidar a nossa comunicação verbal oral, devemos pois, tratar da nossa vocalização, entoação e o nosso timbre.

As conversações não presenciais então muito na moda, desde o aparecimento do telemóvel e da Internet, surgiram novas formas de linguagem, ou formas de se expressar e que já possuem as suas próprias expressões. As palavras, neste tipo de conversações, têm um papel muito relevante por duas razões que são fundamentais: por um lado não vemos o nosso interlocutor e, por outro, as palavras e certas expressões podem ter significados distintos, senão vejamos, no Brasil, a palavra banheiro é o que se chama à casa de banho; em algumas zonas de Portugal, banheiro é o salva-vidas; Smoking, no Brasil, significa traje de gala semelhante ao terno, em inglês, smoking tem o sentido relacionado com a acção de fumar, cachorro no Brasil significa cão adulto em Portugal associamos ao cachorro quente. Numa conversação verbal também devemos ter em conta os regionalismos, a pessoa que faz a rede de águas e saneamento é chamada, desde o sul até o centro-norte de canalizador, já no norte do país, incluindo a cidade do Porto, é chamado de picheleiro, no norte chama-se aguça ao que no sul se chama de afia; saraiva no norte, granizo no sul; cinbalino no Porto, bica em Lisboa; pingo no norte, garoto no sul; trengo no Porto, desajeitado em Lisboa; meia-hora no Porto, meio-dia em Lisboa; carapins no Porto, sapatinhos em Lisboa; cruzeta no Porto, cabide em Lisboa; bizalho, termo utilizado na Madeira para designar uma galinha, entre muitas outras.

A expressão verbal deve ser trabalhada diariamente, de forma a aumentarmos o nosso repertório linguístico, um bom comunicador é aquele que consegue transmitir a sua mensagem, para isso ele tem de conhecer rigorosamente a quem se destina a mensagem.

A comunicação começa em nos próprios mas é na mente da outra pessoa que ela é efectuada, o que importa não é apenas o que é dito, mas o que a outra pessoa entende do que foi dito.

Não podemos esquecer que comunicar não é só falar por palavras, os gestos, as expressões faciais, o olhar, o sorriso, tudo comunica, mesmo sem querermos, mesmo sem falarmos, nós estamos a comunicar.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Década de 90: os "tempos prósperos"

O otimismo e a esperança seguiram-se ao colapso do Comunismo, mas os efeitos colaterais do fim da Guerra Fria estavam só a começar, como o advento terrorista em regiões do Terceiro Mundo, especialmente na Ásia. O Primeiro Mundo experimentou o crescimento económico estável durante toda a década.

Muitos países, instituições, companhias e organizações consideraram os anos 90 como "tempos prósperos". Muitos países ocidentais tiveram estabilidade política e diminuíram as suas forças armadas devido ao fim da Guerra Fria, levando ao crescimento económico e melhores condições de vida principalmente para as classes altas. Este crescimento deveu-se também aos baixos preços do petróleo provocado pelo seu  excesso no mercado.

A adoção geral do computador pessoal e da internet aumentou a produtividade económica (mas muitas críticas foram feitas quanto à má distribuição dos rendimentos, que fez aumentar o abismo social).

Politicamente, os anos 90 foram de democracia expansiva. Os antigos países do Pacto de Varsóvia saíram de regimes totalitários para governos eleitos. O mesmo ocorreu com países em desenvolvimento (Taiwan, Chile, África do Sul, e Indonésia).
Apesar da prosperidade e democracia, houve um "lado negro" significativo. Em África, o aumento de casos de SIDA e inúmeras guerras levaram à diminuição da esperança média de vida e nada de crescimento económico. Nas ex-nações soviéticas, a corrupção, a fuga de capitais tiveram como consequência a estagnação do PIB. As crises financeiras nos países em desenvolvimento foram comuns depois de 1994, apoiados pela globalização. E eventos trágicos como as guerras nos Balcãs, genocídio de Ruanda, a Batalha de Mogadíscio e a primeira Guerra do Golfo, assim como o crescimento do terrorismo, levou à idealização do choque de civilizações. Mas estes factos só serão refletidos e relembrados com relevância na década de 2000.

Portugal assiste ao sofrimento do povo timorense e, em particular, ao massacre de Santa Cruz. D. Ximenes Belo e Ramos Horta ganham o prémio Nobel da Paz pelo seu papel na luta pacífica pela autodeterminação dos Timor-Leste. António Guterres e Ali Alatas negoceiam a saída indonésia e a realização de um referendo naquele território  que terá como consequência a independência de Timor Lorosae.

O mundo assiste à primeira guerra do golfo pela televisão e a Alemanha reunifica-se. Em 1992 a CEE passa a chamar-se União Europeia e Portugal devolve Macau à China enquanto os ingleses fazem o mesmo com Hong Kong.

Bill Clinton chega à Casa Branca e a América tem o maior crescimento económico desde o final da segunda guerra mundial, no entanto, a sua prestação é ensombrada pelo massacre dos soldados americanos em Mogadíscio e pelo seu julgamento devido ao escândalo sexual com a estagiária Monika Lewinski.

A década de noventa não termina sem que o Apartheid termine na África do Sul e que o eterno prisioneiro e símbolo da luta dos negros assuma democraticamente a presidência deste país africano.

A cultura juvenil foi caracterizada pelo ambientalismo, a antiglobalização capitalista, o empreendedorismo e a vulgaridade artística. As modas eram individualistas e as mais notáveis eram tatuagens e piercings.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Anos 80: a geração do teledisco


A década começou com o Afeganistão e a perspetiva de um Vietname à russa – ou de outro Camboja. E acabou com a queda do muro de Berlim. Fechou-se o ciclo. A partir daqui, o mundo não vai ser o mesmo.

Um ator chegou a presidente dos EUA e a conservadora Margaret Thatcher continuou a morar no nº 10 de Downing Street. A América Latina continuou a ferro e fogo, sonhando com a paz. O Brasil votou, sambou e exportou telenovelas e jogadores de futebol.

No extremo oriente continua a confusão. Na África do Sul, os negros sonham com a liberdade de Nelson Mandela e o fim do “Apartheid”…

O mundo encheu-se de “irreais sociais” – de Cicciolina bamboleando as suas formas na política italiana à impotência generalizada perante a crescente ameaça da SIDA.

Foi a década do teledisco que Michael Jackson soube tão bem usar. Nunca antes a imagem tivera tanta importância – não admira que em 1989 apareça um grupo pop a sintetizar tudo isto numa canção: “The look” dos Roxette.

E depois houve os amigos de Alex, os saudosistas dos anos 60 unidos por um filme de memórias. Onde está a revolta, o protesto, a vida num só dia como cantavam os Rádio Macau? Ficou apenas a saudade dos Trovante.

Em contrapartida, chegaram os “yuppies”, bem vestidos, ricos e deslumbrantes. E o dinheiro que fizeram em pequenas, médias e grandes aventuras.

Os 500 anos dos Descobrimentos foram e vieram e dos “sete mares” dos Sétima Legião ficou apenas a lembrança… para quem se lembra. O teatro Monumental foi abaixo e as Amoreiras acima. Houve o boom do rock português (Chico Fininho) e o crack da Bolsa.

O primeiro-ministro português, Sá Carneiro, morre em acidente de aviação, João Paulo II visita Portugal e Portugal entra para a CEE. Inglaterra e Argentina lutam pela posse das ilhas Malvinas e o “Muro de Berlim “ cai levando com ele o comunismo e a Alemanha dividida.

Os anos 80 serão eternamente lembrados como uma década onde o exagero e a ostentação foram marcas registadas. As séries de televisão, como Dallas, mostravam mulheres glamourosas, cobertas com jóias e por todo o luxo que o dinheiro podia pagar. Ao mesmo tempo, os artistas realizam mega concertos para salvar África da fome e devolver ao mundo a esperança perdida pelo pragmatismo liberal dos anos setenta.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os anos 70: a década do Eu


 
Se os anos 50 foram marcados pelo conservadorismo do pós-guerra e os anos 60 pela primeira invasão britânica no pop, os anos 70 abalaram todas as estruturas.

Pode não ser exactamente o melhor período da história contemporânea para ser visitado, mas esta década, vista à distância, teve lá os seus (muitos) encantos.

Foi a década de uma movimentada cena alternativa, a década da radicalização de experiências comportamentais, a década da contracultura, do underground, dos jornais, revistas, livros e discos independentes. Foi mais uma década de continuações do que de explosões. Uma década de revisões e ampliações, mas não propriamente de invenções. A "Década do Eu", como já foi rotulada. Do desejo de mudar o mundo passou-se à urgência de um encontro consigo mesmo. Para muitos, a década do "vazio cultural"; para outros, anos alucinados e - por que não? - divertidos.

Os anos 70 começam quando os Beatles acabam, no rescaldo do fim do sonho hippie. E terminam logo após o movimento punk anunciar o fim do mundo tal como o conhecíamos. Os anos 70 trouxeram a efervescência da era da discoteca, os filmes de catástrofe, o início da hegemonia do cinema hollywoodiano para adolescentes, os primeiros passos do hip-hop e da música electrónica, o auge e a morte do rock progressivo, além de um vestuário que deu uma identidade particular a esta época. Foram factos, movimentos e estéticas que ajudaram a enterrar definitivamente as ilusões da década de 60 e a lançar as bases do que seria a vida a partir dos anos 80.

Foi uma década em que o mundo vivenciou a derrocada norte-americana no Vietname, o escândalo político de Watergate, o surgimento do movimento punk, a crise do petróleo e a ascensão de um pensamento económico ultraliberal.

 

Em Portugal, passava-se dos anos mais repressivos da ditadura fascista para o início do processo da democracia que conduziria ao fim da Guerra Colonial (um autêntico Vietname português) e a respectiva independência de Angola, Moçambique, Guiné-bissau, Timor Leste, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.

Mas tanto aqui como lá fora, as roupas, as artes e o comportamento jovem mudaram radicalmente ao longo dos anos 70. A herança dos sessenta deu o tom nos primeiros anos, no visual e no comportamento hippie e nas artes psicadélicas. No final da década, partes significativas da juventude tinham aderido ao modo de ser soturno e agressivo do punk ou ao estilo colorido, descomprometido e hedonista na onda da discoteca e da música pop.

Foi também a época dos famosos sapatos plataforma, das calças boca-de-sino, das meias de lurex, do poliéster e dos signos do zodíaco. A moda passou a ser idealizada de fora para dentro, do povo para os fabricantes, da rua para os salões. O antigo conceito de exclusividade caducou e a massificação dominou o mercado. A criatividade aposentou o termo chic que, entre muitos outros, foi substituído por kitsch, punk, retro. A juventude era inexperiente e desconhecia o rumo a tomar - sabendo apenas que não queria obedecer aos padrões reinantes - a moda seguiu a corrente hippie. Foi a consagração da do tecido grosso, azul e desbotado que ainda hoje usamos: o jeans.

No mundo da música destacam-se grupos como Led Zeppellin, Pink Floyd, Police, Queen, Rolling Stones e o grande fenómeno do pop ABBA que vindos da Suécia conquistaram o mundo ao som de músicas como Mamma Mia, Waterloo ou Dancing Queen.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Tempos difíceis...


 
Os tempos difíceis em que andamos trazem à luz do dia a fragilidade da economia portuguesa que se traduz na maior riqueza dos ricos e na maior pobreza dos pobres. Enquanto caiem as vendas dos carros utilitários aumentam as compras de veículos de luxo. Se, por um lado, uns deixam a casa que sonharam porque o banco exige o pagamento da prestação, por outro, as casas de luxo têm lista de espera.

Dizem os entendidos na matéria que os portugueses viviam acima das suas reais possibilidades. Mas, perguntamos, que portugueses? Aqueles que trabalham, de sol a sol, por um salário mínimo que deveria envergonhar políticos e empresários? É que quem sente a crise é a classe produtiva que, do dia para a noite, viu desaparecer o emprego e tudo o que tinha conseguido, num pequeno lapso de tempo.

Mas quem faz a pedagogia dos gastos não sofre na pele os problemas do povo. Temos hoje, uma classe política aburguesada que trocou o sentido do serviço público pelo mediatismo do poder. Uma classe política que fala do povo como algo distante e até perigoso para a democracia. Esse povo que ousa tornar público o seu descontentamento com a situação paupérrima a que sua vida foi votada.

Afinal, o povo percebe aquilo que, políticos e grandes empresários, querem esconder: o povo paga a crise, nós…não!

Se um banco deve 700 milhões de euros porque mal gerido, o Estado nacionaliza. Se os bancos têm falta de liquidez, o Estado, cria uma linha de crédito. Se o povo não tem 700 euros para pagar a sua casa, o banco tira porque o cliente vive acima das suas possibilidades.

É assim a vida por cá: é bom ser gestor do dinheiro dos outros e até se ganha mais se se for incompetente. Neste particular, uma boa dose de bajulice e seguidismo dão pontos extra para nomeações para cargos melhores e com remunerações maiores. Só assim, é possível ver políticos a votar leis que tutelam o seu sector de atividade (ao qual julgam já não pertencer) que prejudicam os colegas profissionais.
 
Para concretizar Abril, é necessário que todo o país sinta não só as crises mas também os momentos de crescimento. Estamos em crise? Então ela é para todos! Os políticos que desçam do seu pedestal e a vivam com o povo. Sim esse povo que trabalha desalmadamente para ganhar 400 euros e que deita os seus filhos todas as noites a pensar como vai pagar os seus empréstimos e não o político que está a pensar onde vai passar as suas férias.
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Apoiar os professores é respeitar os alunos e as suas famílias



“Brandindo uma pistola junto ao rosto de Nicholas, anunciou as regras básicas do estabelecimento: não ler, não escrever, não falar.

‘E pensar?’, ocorreu ao professor perguntar (…) Nicholas compreendeu nesse momento que não só era possível pensar, como era necessário.”

(Steven Lukes in “O Curioso Iluminismo do Professor Caritat”)

 

A problemática dos direitos das crianças, embora mais presente na consciência social e científica está ainda num processo de construção. Prova disso, é o entendimento e enquadramento legal dado pelas sociedades à questão. Aprioristicamente achamos que uma das razões para este atraso se prende com o facto de o divórcio e a separação só agora terem atingido níveis de notoriedade social que, obviamente, estarão relacionados com fenómenos demográficos, económicos, culturais e sociais.

O modelo tradicional de família está agora diluído num conjunto de paradigmas que nos transportam a outros níveis de entendimento e de aceitação social (famílias monoparentais, recompostas, conjugais…) que, por sua vez, conduzem os cientistas sociais a procurar respostas no sentido de manter o equilíbrio educacional das crianças e jovens perante o colapso familiar.

As crianças não escolhem nascer e também não podem escolher os pais. Por outro lado, os pais normalmente escolhem como, quando e com quem querem constituir família. Se quisermos também acrescentar o factor dependência (física, psicológica, emocional, económica, social…) do menor em relação ao adulto, no que toca aos rumos que gostaria de dar à sua vida, então começamos a perceber a debilidade e fragilidade da criança no grande palco da vida social entre os adultos. Adultos        que escolheram, de certa forma, a sua vida e que, com as suas decisões, irão desequilibrar a vida dos seus filhos.

O mundo hodierno está pleno de novidades para as quais as sociedades ainda procuram enquadramento. Em pouco mais de cem anos, a sociedade abriu-se 24 horas por dia e assistiu ao deslumbramento tecnológico, a mulher começa a experienciar a liberdade de decidir sobre si e a sua vida, as crianças saíram do banco do patrão para o da escola, vivemos mais e cada vez mais com melhor saúde, a esperança média de vida aumentou sonhos e a capacidade de amar e querer ser amado… Mas, toda esta vertigem acarreta dificuldades que não estavam calculadas pelo Homem, maior longevidade traduz-se rapidamente em igual aumento de responsabilidade. Esta responsabilidade traduz-se nas preocupações actuais com o ambiente, os valores, o emprego, a pobreza e a distribuição da riqueza… e claro, a aprendizagem e a consciencialização de que a educação é a pedra angular de todo o sistema.

A educação é um dos mais, senão o mais, representativos agentes de socialização se a entendermos, pelo menos, em dois círculos: o familiar e o escolar. Daí que, na sociedade do capital em que hoje vivemos, a educação tem um preço para os pais e para as nações. Entende-se que mais educação representa melhores cidadãos e maior evolução social. Estes princípios poderão claramente ser discutíveis quanto ao carácter manipulador e de coacção dos adultos sobre as crianças mas, não podem ser excluídos do padrão da sociedade actual. Hoje ter filhos não é pensar em mão-de-obra para o campo mas sim a assumpção de um amor e um desprendimento financeiro dos pais na procura de concretizar a felicidade dos filhos.

Os professores são chamados todos os dias a responder às demandas das famílias e aos sonhos dos alunos. Não parar de acreditar! Ser capaz de actuar como o grande mediador do sistema entre a família e a escola, os pais e os filhos, os pais e as mães.

Saber actuar não só como professor mas, acima de tudo, como um educador, torna a profissão docente cada vez mais empolgante e exigente. Seria bom reconhecer nos professores as acções, os modelos, a capacidade de tornar os alunos seres melhores humanos.

É bom que as famílias reconheçam o contributo social dos professores mas, esse reconhecimento, deve ser alargado também às instâncias políticas que, há muito tempo, se esqueceram do fundamental do professor na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Em Portugal, há cada vez mais necessidade de políticos capazes de pensar a escola a partir de referentes qualitativos de cidadania e conhecimento e não de tecnocratas abelhudos que remexem no caixote dos papéis a vida dos docentes e da escola. Se é verdade que a escola não se faz sem alunos, não deixa de ser certo que esta também não existe sem professores.