Artur Mas venceu o desafio da consulta simbólica sobre a
independência, com mais de 2,3 milhões de catalães a saírem à rua para
votar. Mas o mais provável é que os próximos meses sejam ocupados a
negociar com o PP de Mariano Rajoy.
Não há dúvidas que “o processo de participação
cidadã”, o 9-N, foi um êxito: votaram 2.305.290 pessoas, num universo de
5,4 a seis milhões de eleitores possíveis. Mas este resultado ficou
acima das expectativas mais optimistas. Dos que foram votar, 80,76%
responderam “sim” às duas perguntas inscritas nos boletins: “Quer que a
Catalunha seja um Estado?”; “Quer que a Catalunha seja um Estado
independente?”
A delegação de eurodeputados que aceitou o convite para observar a ida às urnas considerou que esta “foi um êxito” e confirmou que o sistema informático funcionou, não tendo havido ninguém a votar duas vezes nem voluntários a pressionarem eleitores. “Esperamos que no futuro os catalães possam participar num processo destes sem os desafios que testemunhámos”, afirmou o chefe da delegação, o escocês Ian Duncan, do Partido Conservador.
Ainda com os votos a serem contados, o presidente da Generalitat (governo regional), Artur Mas, disse que os catalães “ganharam o direito a realizar um referendo legal e vinculativo”. Segunda-feira, o líder catalão deixou que o seu partido, a Convergência Democrática (CDC), falasse. Josep Rull, coordenador da formação, disse que há duas opções: uma é dialogar com o Governo do PP, outra é marcar eleições em que a declaração de independência surgirá como único ponto do programa.
Artur Mas, explicou Rull, escreverá a Rajoy pedindo-lhe que se celebre um referendo oficial sobre a independência. Admite que são “remotas” as possibilidades de êxito dessa negociação e avisa que a resposta não pode tardar “mais de uma ou duas semanas”.
Rull insiste que num cenário de eleições plebiscitárias, a Convergência vai tentar uma candidatura conjunta, que reúna todas as forças políticas que decidiram a consulta e as perguntas ao longo do último ano. Um cenário que o maior parceiro da Convergência neste processo, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), já recusou. “As coisas aparentemente impossíveis às vezes são possíveis. Parecia impossível que houvesse urnas e elas existiram”, afirmou.
O politólogo Joan Subirats diz ter poucas certezas sobre os próximos meses, mas não acredita numa candidatura unitária. “A ERC e a CUP sabem perfeitamente que não se podem apresentar com um partido manchado pela corrupção. E [Oriol] Junqueras [líder da ERC] acredita que pode ganhar as eleições sozinho”, diz o especialista em governação e políticas públicas.
O escândalo de corrupção que envolve o fundador do partido de Artur Mas, Jordi Pujol, e muitos dos seus membros, não será esquecido a tempo de uma ida às urnas, defende Subirats. A CUP é o partido anti-capitalista que nunca se tinha apresentado a eleições autonómicas até Novembro de 2012, quando elegeu três deputados. Tanto a ERC como a CUP, independentistas de sempre, beneficiaram muito do processo de consulta e esperam ganhar votos nas próximas eleições.
O peso das “presidentas”
Junqueras tem repetido que “a independência não se negoceia” e começou a defender uma declaração unilateral de independência desde que Artur Mas recuou e decidiu transformar a consulta que tinha convocado no “processo de participação cidadã”. A pedido do Governo, o Tribunal Constitucional suspendeu a consulta depois de esgotadas as vias para um referendo legal.
A verdade é que o mesmo Constitucional suspendeu o “processo de participação cidadã” e este aconteceu, organizado pela plataforma Ara És L’Hora, que reúne a Associação Nacional Catalã (ANC), grupo independentista criado no início de 2012, e a Omnium Cultural, uma associação de defesa da língua catalã que existe desde o franquismo. Carme Forcadell, líder da ANC, e Muriel Casals, que preside à Omnium, conseguiram mobilizar 40 mil voluntários e tornaram-se nos principais rostos da consulta simbólica. Muitos referem-se às duas mulheres como “as presidentas” e estarão disponíveis para seguir as posições que estas tomarem.
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