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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A sorte de Carlos do Carmo

Na mesma semana, o cantor teve duas alegrias: recebeu um prémio internacional pela sua carreira e não recebeu os parabéns do Presidente da República. Isto, para mim, é a definição de prestígio

                                                         

A comoção que provocou o facto de Cavaco Silva não ter endereçado votos de parabéns a Carlos do Carmo é injustificada. Que se lixe Carlos do Carmo, esse sortudo. Na mesma semana, o cantor teve duas alegrias: recebeu um prémio internacional pela sua carreira e não recebeu os parabéns do Presidente da República. Isto, para mim, é a definição de prestígio. Desconfiamos que alguma coisa está mal na nossa vida quando Cavaco Silva nos distingue. Recordo que Cavaco distinguiu Dias Loureiro com a sua amizade e Oliveira e Costa com o lugar de secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. A recusa de fazer chegar um parabém a Carlos do Carmo acrescenta honra à semana já honrosa do fadista. Foi dos mais belos ultrajes que já vi, uma das mais dignificantes desconsiderações que o Presidente já concedeu.

Há um poema de Bertolt Brecht (que também nunca foi felicitado por Cavaco Silva) em que um escritor descobre, horrorizado, que as suas obras não constam da lista de livros que os nazis pretendem queimar em público, e escreve uma carta indignada ao governo a exigir que o queimem também. Suponho que haja, neste momento, várias pessoas condecoradas ou parabenteadas por Cavaco a passar por uma indignação semelhante. Porque é que Carlos do Carmo e José Saramago merecem o menosprezo do Presidente e elas não? Que mal fizeram elas ao País para terem caído nas boas graças de Cavaco?

O que nos leva a uma reflexão mais profunda sobre o mérito de Carlos do Carmo. Sim, é um excelente cantor e um nome cimeiro do fado. Mas fez assim tanto para ser abominado por Cavaco? Cristiano Ronaldo e o ciclista Rui Costa também parecem ser pessoas decentes, e no entanto foram felicitados pelo Presidente, quando ganharam, respectivamente, uma Bola de Ouro e uma Volta à Suíça. Há filhos e enteados, nisto dos desdéns que enobrecem?

 Texto de Ricardo Araújo Pereira 














sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Agora é a vez de Carlos, o Duque de Alba

Diz ser um homem "igual aos outros". Gere as finanças da família e tem em mãos o património histórico e artístico da Casa de Alba. O herdeiro primogénito é Duque de Alba aos 66 anos.


 

Sevilha ainda chora a morte da Duquesa de Alba, mas o mundo não pode parar e a sucessão já está assegurada. A partir de agora, a Casa de Alba estará sob o comando de Carlos Fitz-James Stuart, um homem que diz “não ser diferente dos outros homens” da sua idade. Carlos tem 66 anos. Estudou no Colégio Los Rosales, licenciou-se em Direito na Universidade Complutense de Madrid e completou o serviço militar com o posto de alferes, exemplifica em entrevista à EFE, para justificar a sua “normalidade”.

Mas Carlos é especial desde pequeno. Tem sangue azul e é herdeiro da segunda mulher que possuía mais títulos de nobreza do mundo. O novo Duque herda 50 dos títulos da mãe, mas dela herdou também a boa disposição e a “boa relação” com as pessoas, aponta o programa 20 minutos. Uma das melhores amigas da Dona Cayetana, como era tratada pelo povo, confessou à imprensa: “Gostamos muito dela e Sevilha também gosta, porque ela é uma mulher que faz com que se goste dela.”

Carlos é discreto, “conservador e vai proteger o título“, escreveu a mãe na biografia que deixou. Desde que o pai morreu, o segundo marido dos três da Duquesa, Carlos está encarregue de conservar e proteger as contas da família. Em conjunto com o irmão Alfonso, é o principal gestor dos assuntos financeiros da família.

Tem em mãos as várias empresas da família Alba: Inversiones Princesa, Eurotécnica Agraria, Euroexplotaciones Agrarias, Agrotecsa, Agralsa y Castrofresno. O jornal El Pais avança que o maior desafio do novo duque será o de preservar “o património histórico e artístico” da Casa de Alba, em parte consubstanciado na Fundação Casa de Alba criada pela mãe em 1975.

O advogado terá atrás de si o legado de 18 duques, desde o nascimento do Duque de Alba, Fernando Álvarez de Toledo, no século XIV. Carlos foi conhecido durante anos como “o solteiro de ouro da nobreza europeia”, conta a revista Semana.

A publicação resume a vida de Carlos em onze fotografias e, numa delas, está ilustrado o casamento com Matilde Solís que quebrou a ausência de compromisso. Os noivos casaram a 18 de junho de 1988. Matilde usava um vestido com uma cauda de cinco metros, à maneira real. Mas o amor não teve um final digno de conto de fadas. O enlace foi quebrado em 2006. Ficaram dois filhos: Fernando e Carlos.

duque alba
Galeria de imagens publicada em: www.semana.es

A Duquesa de Alba expressava a sua boa disposição na dança. No dia do seu último casamento, há seis anos, conta-se que Dona Cayetana não parou de dançar. Carlos herdou a veia desportista da mãe, mas inclinada para o ténis, vólei, esqui e vela. Mas a sua grande paixão está na música e na leitura.

Fonte:  http://observador.pt/2014/11/20/agora-e-vez-de-carlos-o-duque-de-alba/

A Duquesa de Alba morreu em casa, no seu palácio em Sevilha, vitima de uma infeção respiratória

 

As notícias da noite de quarta-feira faziam prever o desfecho de hoje: morreu a Duquesa de Alba aos 88 anos. A segunda mulher com mais títulos de nobreza do mundo (a primeira era Duquesa de Medinacelli) e uma das mais icónicas figuras da monarquia espanhola estava em estado grave desde ontem. María del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y Silva Falcó y Gurtubay era o nome completo, mas era chamada carinhosamente Dona Cayetana pelo povo, Duquesa de Alba pela imprensa e Tanuca pelos pais. No seu palácio em Sevilha, Palácio de Dueñas, já se tinham juntado os seis filhos – de quem disse não saber ser mãe, mas ter feito o melhor que conseguiu, por ter ficado órfã aos seis anos -, os dois netos, o marido e alguns amigos, que a acompanharam toda a noite em casa e na sua transferência para o hospital.

 

Carmen Tello, conhecida por ser uma das melhores amigas da Duquesa, ficou incumbida de fazer as comunicações à imprensa: “Estamos muito tristes. Gostamos muito dela e Sevilha também gosta, porque ela é uma mulher que faz com que se goste dela.”

Viveu a sua vida, dizendo não se preocupar com que os outros pensavam, e a mostrar publicamente o gosto pela moda mesmo que isso fizesse dela capa de revistas cor-de-rosa, na sua biografia “O que a vida me ensinou” contou o seu mote de vida:
“A personalidade é a maior característica do estilo. Nasci numa casa onde tinha tudo para ser elegante, mas a mim não me interessava.”
Para o número de títulos, tinha também uma resposta preparada:
“Sempre que me perguntam pelo número de títulos ou que me dizem que eu tenho o sangue mais azul do mundo, respondo sempre o mesmo: ‘É uma parvoíce. Mas isso nada tem a ver com o meu verdadeiro dever e formação que me incutiram os meus para com a minha casa.”
 
A Duquesa, católica e com gosto pela dança, deu entrada no hospital no domingo com uma pneumonia que levou a uma arritmia. Um quadro clínico que resultou de uma gastroenterite que já a teria deixado debilitada. Mesmo assim, saiu do hospital e foi para casa tal como era seu desejo. Já há algum tempo que recusa os convites para aparições públicas e nos últimos meses praticamente não saia do palácio. A esperança dos seus mais próximos mantinha-se. Já em 2002 tinha sofrido uma isquemia cerebral e uma hidrocefalia, que deixou a família e os aficionados da nobreza pânico, mas contra todas as expectativas reapareceu dizendo os mais próximos que ficou “revitalizada”.


A morte foi entretanto confirmada por José Ignacio Zoido, alcaide de Sevilha, que lamentou o sucedido à mulher “que sempre teve Sevilha no coração e por isso permanecerá sempre no coração de Sevilha. Descanse em paz.” O corpo da terceira mulher à frente de uma família com mais de 500 anos de história, estará em câmara ardente no Salão Nobre da Casa Consistorial espanhola, espaço onde normalmente se celebram plenários municipais e os principais eventos.”

 

Na sua longa e ocupada vida ultrapassou duas guerras, uma em Espanha – a Guerra Civil – e outra em Inglaterra – a Segunda Guerra Mundial – enquanto o seu pai era embaixador naquele país e onde estudou. Durante os anos 50 e 60 a sua casa era conhecida por receber a “realeza” de Hollywood, caras como Charlont Heston e Audrey Hepburn não eram desconhecidas no palácio. Dos Estados Unidos também costumavam vir duas amigas que faziam com que a casa se tornasse uma atração mundial, Jacqueline Kennedy e Grace do Mónaco.

 

Cayetana de Alba passou os últimos a ver filmes com o terceiro marido, Alfonso Díez de 64 anos, que para ser aceite pelos filhos da duquesa renunciou a todo o património e prometeu cuidar dela até aos últimos dias. Casaram-se a cinco de outubro de 2011 e a diferença de 24 anos entre os dois nunca foi um problema para o casal. No dia do enlace, Cayetana usou um vestido cor-de-rosa dos estilistas Victorio y Lucchino e uns sapatos de Pilar Burgos sobre os quais rodou os calcanhares dançando durante toda a boda, como era seu hábito. A festa alargou-se além portas do palácio e a Duquesa foi acarinhada pelo povo que festejou e desejou vida longa aos noivos.

 
Fonte:  http://observador.pt/2014/11/20/morreu-duquesa-de-alba-aos-88-anos/

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ancorenses ilustres: Romeu



Romeu é um jovem jogador que chega à cidade de Guimarães no início da década de 70 para representar o Vitória SC, sendo, inegavelmente, considerado um dos mais brilhantes atletas daquela geração nas variadas equipas vitorianas. Além de ter jogado várias temporadas pelo Vitória em dois momentos distintos, Romeu tem o seu nome ligado à história do futebol português por estar incluído num núcleo bem restrito de jogadores que representaram, durante a carreira de futebolistas, as equipas do SL Benfica, FC Porto e Sporting CP.

Digamos que Romeu será por certo o único jogador de futebol que terá representado, dizemos nós, os quatro maiores clubes nacionais. Acrescente-se que Romeu jogou ainda pelo SC Salgueiros na 1ª Divisão Nacional, além de ter contabilizado ao longo da sua carreira 19 internacionalizações, divididas por 8 representações pela Selecção de Esperanças e 11 pela Selecção A de Portugal. No palmarés individual consta dois títulos de Campeão Nacional.

O agora recordado Romeu era carinhosamente tratado pelos adeptos de futebol por “Cenourinha”, devido ao seu distinto cabelo ruivo. O seu nome completo é Romeu Fernando Fernandes Silva, nascido a 4 de Março de 1954 e natural de Vila Praia de Âncora. Ainda miúdo partiu juntamente com os seus pais para Moçambique, colónia portuguesa em África e por lá iniciou a prática do futebol.

Começou a jogar pelo 1º de Maio de Lourenço Marques e mais tarde no Sporting da Beira onde se sagrou Campeão Provincial de Juniores em Moçambique. Regressando a Portugal para gozar com a família um período de férias, Romeu, especialmente incentivado por seu pai - portista de coração - aproveitou para ir treinar à experiência na equipa de juniores do FC Porto. Apesar de denotar qualidades técnicas, Romeu acabou por ser dispensado com o argumento de que o plantel da equipa de juniores estava completo.

Já a poucos dias de regressar a Moçambique, o jovem “Cenourinha”, por influência de seus primos Ibraim e José Carlos, ambos na altura jogadores do Vitória, apresentou-se em Guimarães para prestar provas perante o treinador Mário Wilson. O velho capitão imediatamente se apercebeu das potencialidades reveladas por Romeu que assim, com apenas 18 anos idade, acabou por se vincular ao Vitória.

Mário Wilson, treinador do Vitória na época de 1972/73, debateu-se com um problema a meio da temporada quando o avançado brasileiro Jorge Gonçalves contraiu uma grave lesão que o impediria de dar o seu contributo à equipa que se encontrava nos lugares cimeiros da tabela classificativa. O treinador do Vitória não teve pejo em apostar no jovem Romeu para substituir o desafortunado brasileiro.

Lançado por Mário Wilson - técnico que marcaria decisivamente a carreira de Romeu - fez a sua estreia com a camisola do Vitória com apenas 18 anos idade num encontro a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1972/73, disputado entre o Vitória e o CF Belenenses que terminou empatado a 0-0, no Estádio Municipal de Guimarães.

Logo na sua primeira época na 1ª equipa do Vitória Romeu alinhou em 8 jogos oficiais no Campeonato Nacional sem contudo ter apontado qualquer golo. Todavia, a sua forma de jogar e a imensa qualidade que brotava dos seus pés imediatamente começou a despertar o interesse nacional. É assim que chega à Selecção Nacional de Esperanças.

No Vitória começou a garantir o seu espaço como peça fundamental na manobra da equipa. Mário Wilson dava-lhe liberdade para explanar todo o seu futebol. Romeu era de facto um jogador de eleição que com a maturidade que foi adquirindo ao serviço do Vitoria tornou-se num dos melhores jogadores portugueses naquele tempo.

Posicionalmente ocupava o sector mais avançado da equipa. Ora como avançado centro, ora como extremo, ou até mesmo como organizador de jogo, Romeu destacava-se sobretudo pela habilidade técnica que impunha em cada jogada. O seu talento era exponencial e quando tinha liberdade escancarava qualquer muralha defensiva. Tinha uma finta curta, uma velocidade e capacidade de arranca assinalável. Fazia verdadeiras assistências de mestre, característica onde de resto se desacatava, dada a quantidade de golos que oferecia aos companheiros de equipa.

Contudo, Romeu tinha uma característica que o prejudicava manifestamente. Era um jogador demasiado temperamental, de tal forma que muitas das vezes acabava advertido pelos árbitros ou ate mesmo expulso. Era frequente ver-se Romeu a protestar veementemente com os árbitros, ou a responder aos adversários tirando de esforço após duras entradas que sofria. Envolvia-se amiúde em discussões no terreno de jogo.

Foram algumas as atitudes infantis perpetradas por Romeu que sempre acabavam por o prejudicar, com expulsões e severos castigos disciplinares impostos pelas instâncias federativas ou nos clubes que representou. Era de facto um jogador que jogava com o sangue à flor da pele o que manifestas vezes lhe tirava o discernimento necessário.

Era bem capaz de fazer um jogo inteiro cheio de momentos fantásticos, com maravilhosas fintas, remates e golos brilhantes, e num minuto deitava tudo a perder quando enfrentava inutilmente adversários ou equipas de arbitragem.

Devido ao seu temperamento até com os sócios do Vitória o Romeu travou-se de razões e com eles estabeleceu após esse momento uma relação de amor ódio que permanece até aos dias de hoje. Quem assistiu, ou quem se recorda desse episódio ainda hoje não perdoa Romeu pelo gesto que alegadamente este terá feito em direcção aos adeptos do Vitoria no final um dos seus últimos jogos realizados com a camisola do Vitória.
Os dois anos seguintes ao serviço do Vitória foram as épocas da total afirmação deste jogador no futebol português. Quer na temporada de 1973/74, quer em 1974/75 Romeu foi um dos jogadores mais influentes do conjunto vitoriano que continuava a ser liderado por Mário Wilson.
.(Vitória SC na época de 1973/74)
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(No Vitória SC na temporada de 1973/74)
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(Romeu com Osvaldinho e Cubillas no Vitória SC - FC Porto)
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(Romeu no Vitória SC)
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Em 1973/74 o Vitória conquistou mais um 6º lugar na classificação geral do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, tendo Romeu alinhado em 26 partidas oficias da competição, onde apontou os seus 3 primeiros golos da carreira. Nesta equipa formou com o seu primo Ibraim e com o ponta de lança Tito uma tripla de ataque de respeito.
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(Vitória SC na época de 1973/74)
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(Romeu no Vitória SC em 1973/74)
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(Festejando o golo do Vitória SC frente ao SC Beira Mar)
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(Romeu no Vitória SC na década de 70)
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Na época de 1974/75 essa tripla avançada do Vitória sofreu uma alteração. Ibraim, primo de Romeu, transferiu-se para o SL Benfica, e foi substituído pelo avançado brasileiro Jeremias que fez enorme sucesso em Guimarães. Este avançado beneficiou bastante das assistências de Romeu, tal como Tito. Jeremias e Tito apontaram 18 e 17 golos respectivamente em grande medida com o contributo brilhante de Romeu.
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(Vitória SC na época de 1974/75)
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(Romeu no Vitoria SC na década de 70)
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O Vitória disputou taco a taco o 4º lugar do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1974/75 com o Boavista FC. Curiosamente o ultimo jogo do Vitoria no Campeonato Nacional daquela temporada disputa-se no Estádio Municipal de Guimarães frente ao Boavista FC. O jogo era decisivo para o 4º lugar. O Vitória tinha uma vantagem de 2 pontos sobre os boavisteiros e um empate era suficiente para a turma vitoriana garantir o apuramento europeu que à tanto tempo almejava.

Acontece, que essa tarde de futebol teve um inesperado protagonista que influenciou decisivamente o resultado final que acabou por ser favorável aos boavisteiros que venceram por 1-2. António Garrido, o juiz do encontro, teve uma arbitragem miserável prejudicando gravemente o Vitória. Diversos foram os lances em que deliberadamente - assim pareceu aos adeptos do Vitória na altura – decidiu mal e contra o Vitória. Para a história fica um célebre golo anulado aos vimaranenses por António Garrido que inacreditavelmente entendeu que a bola não tinha ultrapassado a linha de golo.

Os sócios do Vitória não se contiveram e graves incidentes provocaram no final da partida no exterior do Estádio Municipal de Guimarães destruindo inclusivamente o veículo automóvel do árbitro António Garrido. Tudo isto, além dos inúmeros protestos dentro do recinto protagonizados por jogadores, técnicos e dirigentes, alem naturalmente dos adeptos que se sentiam vilipendiados dentro da sua própria casa.

Um dos mais inconformados no final do jogo era naturalmente Romeu, temperamental por natureza, que manifestou-se continuadamente contra a arbitragem protagonizada por António Garrido.
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O certo é que o Boavista FC venceu o encontro e alcançou o 4º lugar na geral garantindo dessa forma o acesso às provas internacionais de clubes ficando o Vitória com a 5ª posição. Romeu, que se afirmou definitivamente, participou em 26 encontros e apontou 10 golos.
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(Romeu em caricatura)
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(Romeu no Vitória SC na decada de 70)
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(Vitória SC na temporada de 1974/75)
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(Romeu seguindo Eusébio no SL Benfica - Vitória SC)
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(Romeu na partida entre Vitória SC e Boavista FC em 1974/75)
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(Assistindo ao lance aéreo no Vitória SC - Leixões SC)
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No final da época choveram propostas para contratar os serviços do jovem Romeu. Acabou por escolher representar o SL Benfica, que seria treinado por Mário Wilson, um dos principais impulsionadores na sua contratação, passando a partir dessa altura a residir na cidade de Lisboa onde também iria cumprir o serviço militar obrigatório.
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Sucede que nas duas temporadas que alinhou no SL Benfica sagrou-se Bi-Campeão Nacional, mas individualmente as coisas não lhe correram de ficção nem tão pouco da forma como tinha idealizado quando se transferiu para o grande da capital.
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(Romeu no SL Benfica - GD Estoril Praia)
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Logo no início da temporada de 1975/76 ao serviço dos encarnados, lesionou-se com gravidade o que obrigou a uma intervenção cirúrgica impossibilitando-o assim de dar o seu contributo à equipa por um largo período de tempo. Depois de recuperado já a equipa principal estava alinhada e com poucas chances de Romeu encontrar um espaço na formação.

Romeu ainda alinhou em 2 partidas oficiais do Campeonato Nacional da 1ª Divisão que veio a ser vencido pelo SL Benfica, nem tendo apontado qualquer golo na prova. A verdade é que utilização escassa de Romeu se deveu em grande medida à lesão mas também à valia dos avançados da equipa encarnada que se compunha por Nené, Jordão e Moinhos que facturavam golos em catadupa.

Na segunda época ao serviço do SL Benfica, Romeu teve como treinador o inglês John Mortimore, o qual se tornou assim no seu segundo treinador enquanto jogador profissional. O SL Benfica onde pontificava Nené, Nelinho e Chalana, voltou a sagrar-se Campeão Nacional na temporada de 1976/77, mas Romeu, apesar de ter sido mais vezes utilizado com a camisola encarnada, não se conseguiu impor e conquistar um lugar de titular na equipa.
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Para esse facto muito contribuiu a luminosa ideia de John Mortimore em colocar Romeu em posições mais recuadas no terreno de jogo, concretamente, a defesa lateral esquerdo, substituindo Artur e Pietra que estavam lesionados. O inglês, técnico dos encarnados, pretendia que Romeu fosse defensor quando este, até pelas suas características, sempre havia ocupado posições na frente de ataque.
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(SL Benfica na época de 1976/77)
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(Romeu no SL Benfica)
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(Com a camisola do SL Benfica na época de 1976/77)
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(Romeu no Sporting CP - SL Benfica)
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Desiludido com a experiência no SL Benfica e com o seu insucesso individual, Romeu pretendia dar um novo rumo à sua carreira. A verdade, é que, quando se soube que Romeu pretendia abandonar a equipa da Luz, imediatamente choveram propostas tendentes à sua aquisição.
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Consta-se que FC Porto, Boavista FC e SC Braga fizeram de tudo para contratar o jovem Romeu, que não obstante o assédio de que foi alvo, acabou por decidir voltar à “casa mãe”, concretamente regressando a Guimarães para representar o Vitória que seria novamente treinado por Mário Wilson.
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(Vitória SC na época de 1977/78)
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(Romeu capa da Revista Equipa)
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(No GD Estoril Praia - Vitória SC na época de 1977/78)
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(Vitória SC na época de 1977/78)
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(Romeu no Vitória SC)
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(Romeu no Estádio Municipal de Guimarães actuando pelo Vitória SC)
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Regressa assim ao plantel do Vitória da época de 1977/78 que no Campeonato Nacional repetiu a 6ª colocação na tabela classificativa depois de uma segunda parte da época onde coleccionou maus resultados, inversamente ao que tinha acontecido na 1ª volta. Romeu formou a frente de ataque vitoriana com Tito e o veloz avançado brasileiro Mané. O “Cenourinha” alinhou em 23 partidas tendo concretizado 3 golos.
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(Vitória SC na época de 1977/78)
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(Romeu com a camisola do Vitória SC)
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(Vitória SC na temporada de 1977/78)
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(Caricatura de Romeu no Vitória SC)
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(Vitória SC - Portimonense SC na época de 1977/78)
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(Com Mário Wilson no Vitória SC durante um treino)
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Na época seguinte, a temporada de 1978/79, o Vitória mantêm Mário Wilson como técnico principal, mas apenas até à 27ª Jornada, quando é demitido, ficando o cargo entregue ao seu adjunto Daniel Barreto.

A equipa efectua uma temporada de qualidade, sempre próxima dos lugares da frente, mas acaba por perder novamente o acesso às competições europeias devido a uma ponta final do Campeonato de fraca qualidade. Perde jogos essenciais na luta por uma acesso as provas internacionais de clubes, segundo consta, em grande medida, devido ao facto do seu treinador Mário Wilson acumular as funções de treinador do Vitoria com as de seleccionador nacional de Portugal.
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Romeu foi a principal estrela da equipa do Vitoria com 5 golos apontados em 25 jogos realizados na campanha da época de 1978/79, onde formou a frente de ataque com Jeremias, que regressava a Guimarães depois de 3 temporadas a jogar em Espanha, e Mundinho, um possante avançado brasileiro que chegou ao Vitoria para substituir Tito.
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(Vitória SC na época de 1978/79)
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(Caricatura de Romeu com as cores do Vitória SC)
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(Romeu no Vitória SC)
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(Vitória SC na época de 1978/79)
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(Romeu no Vitória SC na época de 1978/79)
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(Vitória SC na época de 1978/79)
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(Romeu)
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(Vitória SC na temporada de 1978/79)
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(Romeu no Vitoria SC)
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Foi esta a ultima época de Romeu como jogador do Vitoria pois no final da temporada deixou Guimarães rumando, em final de contrato com os vimaranenses, ao FC Porto treinado pelo mestre José Maria Pedroto. Na equipa do FC Porto permaneceu 4 temporadas consecutivas, onde nunca conquistou o título de Campeão Nacional e perdeu 3 finais da Taça de Portugal para o SL Benfica.
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Na primeira época de azul e branco, Romeu foi titular indiscutível realizando 28 jogos e logrando concretizar 4 tentos. Com Oliveira e Gomes formou a frente de ataque, classificando-se o FC Porto no 2º posto do Campeonato Nacional da 1ª Divisão na temporada de 1979/80. Depois de perder o campeonato, o FC Porto ainda perdeu a final da Taça de Portugal, ao ser derrotado no jogo decisivo pelo SL Benfica por 1-0.
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(Romeu no FC Porto)
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(Caricatura de Romeu no FC Porto)
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(Romeu no FC Porto na época de 1979/80)
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Nas duas épocas seguintes ao serviço do FC Porto, Romeu teve como treinador principal o austríaco Hermann Stessl, que mais tarde foi técnico no Vitória de Guimarães. Nessas duas temporadas lideradas pelo austríaco, o FC Porto repetiu na primeira época o 2º lugar no Campeonato Nacional e a segunda época não foi alem do 3º lugar, atrás de Sporting CP e SL Benfica.

Na época de 1980/81 o FC Porto voltou a perder a final da Taça de Portugal para o SL Benfica que derrotou os azuis e brancos por 3-1. Em ambas as épocas sob as ordens do austríaco Hermann Stessl, Romeu foi regularmente utilizado, apesar de não ser um indiscutível titular.
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Em 1980/81 e 1981/82 realizou 16 jogos oficiais em cada uma das temporadas, não apontando qualquer golo na primeira época, concretizado, porém, 4 golos na segunda. Aliás, na época de 1981/82 foi um dos principais municiador de Jacques, avançado portista que apontou 27 tentos.
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(FC Porto na época de 1980/81)
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(Romeu no FC Porto)
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(FC Porto na época de 1980/81)
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(Romeu no FC Porto)
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(FC Porto na época de 1981/82)
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(Romeu com a camisola do FC Porto)
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(Romeu no FC Porto)
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(FC Porto na temporada de 1981/82)
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(Romeu em acção pelo FC Porto na época de 1981/82)
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(Romeu com a camisola do FC Porto)
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Foquemos ainda a carreira de Romeu na Selecção de Portugal. Depois de um percurso na Selecção de Esperanças, Romeu, ainda ao tempo jogador do Vitória de Guimarães, chegou a internacional na Selecção principal de Portugal.
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Romeu que se afirmava no futebol português como jogador do Vitória, foi lançado com a camisola das quinas pelo seleccionador José Maria Pedroto no dia 3 de Abril de 1974 num jogo amigável entre Portugal e Inglaterra. Ocorreu no Estádio da Luz quando naquele encontro, que terminou empatado a 0-0, substituiu Vítor Baptista.
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(Romeu no Portugal - México no Torneio de Toulon)
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(Romeu representando Portugal)
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Fez a sua estreia como titular na Selecção A num jogo amigável realizado no Estádio Wankdorf, em Berna, na Suiça. Portugal foi derrotado por 3-0, numa equipa em que a frente de ataque apresentada por José Maria Pedroto era composta por Romeu, Oliveira e Néne.

Participou nos apuramentos de Portugal para o Campeonato da Europa de 1976, 1980 e para o Campeonato do Mundo de Selecções de 1982. Como jogador do Vitoria contabilizou 4 internacionalizões pela Selecção A de Portugal e as restantes 7 como atleta do FC Porto. E foi como profissional do FC Porto que Romeu realizou o ultimo jogo da sua carreira com as cores da bandeira nacional.
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Romeu despediu-se da Selecção no dia 17 de Fevereiro de 1982 num amigável disputado entre a RF Alemanha e Portugal no Niedersachenstadion em Hannover. Portugal, cujo o seleccionador era Juca, perdeu com a formação alemã por 3-1. Romeu foi titular no meio campo de Portugal, tendo nesse seu último jogo sido substituído curiosamente por Abreu, que era jogador do Vitória de Guimarães.
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(Selecção Nacional de Portugal em 1981/82)
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(Romeu com a camisola da Selecção Nacional)
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Na última época ao serviço do FC Porto, Romeu voltou a ser treinado pelo mestre José Maria Pedroto, que desta feita, não teve em “Cenourinha” uma das suas principais apostas. Apenas jogou 10 partidas no Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1982/83, não obtendo qualquer golo, numa prova em que o FC Porto foi de novo 2º classificado e voltou a perder na final da Taça de Portugal o troféu para o SL Benfica.
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(Romeu no FC Porto na época de 1982/83)
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Romeu foi dispensado pelo FC Porto, mas apesar de contar já com quase 30 anos de idade, foi convidado a ingressar no Sporting CP, outro dos maiores clubes nacionais. Em Alvalade permaneceria 3 épocas consecutivas onde apenas durante a primeira delas foi titular.

Com Josef Venglos como treinador dos leões de Alvalade, Romeu alinhou em 23 partidas do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1983/84, concretizando 2 golos ao longo de toda a competição. No Sporting CP, que foi 3º classificado no Campeonato, destacavam-se os avançados Manuel Fernandes e Jordão, bem como um miúdo que dava os primeiros passos na 1ª categoria verde e branca de nome Paulo Futre.
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(Romeu no Sporting CP na época de 1983/84)
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(Romeu no Sporting CP - Celtic Glasgow)
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(Romeu no Sporting CP na temporada de 1983/84)
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Recordemos um jogo em que Romeu defrontou o Vitoria de Guimarães com a camisola do Sporting CP em pleno Estádio Municipal de Guimarães. Ocorreu à 6ª jornada do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1983/84 numa altura em que os sportinguistas tinham mais dois pontos que os vimaranenses na classificação. O Vitoria venceu por 2-1 na tarde de Joaquim Murça, autor dos dois tentos dos vimaranenses.

Perante mais de 25.000 espectadores - que rendeu ao clube uma receita a rondar os 5.500 contos - o Vitoria alinhou com Jesus; Gregório Freixo, Alfredo Murça, Amândio e Laureta; Paquito, Nivaldo, Dimas e Joaquim Murça; Fonseca e Eldon. O Vitoria, treinado por Hermann Stessl, apenas fez uma substituição, quando Flávio entrou para o lugar de Dimas aos 55 minutos.

O Sporting CP apresentou a seguinte formação: Katzira; Gabriel, Zezinho, Virgílio e Mário Jorge; Lito, Romeu, Kostov e Paulo Futre; Manuel Fernandes e Oliveira. No 2º tempo entrou Jordão para o lugar do jovem Futre e aos aos 79 minutos entrou Roge Wyide para a posição de Romeu.
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Como acima se disse o Vitoria venceu por 2-1, numa fantástica exibição de Joaquim Murça que apontou os dois golos dos vimaranenses, concretamente aos 25 e 59 minutos de jogo, sendo o golo do Sporting CP apontado aos 50 minutos por intermédio de Jordão.
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(Romeu na entrada em campo na equipa do Sporting CP)
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(Romeu no Sporting CP na decada de 80)
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(Romeu em acção no Boavista FC - Sporting CP)
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Em 1984/85 o Sporting CP, desta feita treinado por John Toshack, quedou-se pela 2ª posição no Campeonato Nacional, atrás do FC Porto campeão. Já Romeu perdeu a titularidade sendo apenas esporadicamente utilizado oficialmente. Situação que de resto voltaria a repetir-se na sua última temporada de leão ao peito.
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(Romeu no Sporting CP)
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(Caricatura de Romeu no Sporting CP)
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Com o treinador Manuel José, na temporada de 1985/86, o Sporting CP foi o 3º classificado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão, tendo Romeu sido utilizado apenas em 11 partidas daquela competição sem que tenha apontado qualquer golo na prova.
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(Sporting CP na época de 1985/86)
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(Romeu no Sporting CP)
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Romeu jogaria ainda pelo SC Salgueiros na temporada de 1986/87 sob o comando de Rodolfo Reis seu antigo companheiro de equipa no FC Porto. Romeu já com quase 33 anos de idade fez uma época regular não tendo todavia apontado qualquer golo. A formação salgueirista quedou-se pelo 14º lugar da tabela geral evitando a despromoção em face do alargamento no número de clubes que disputariam a 1ª Divisão Nacional.
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(SC Salgueiros na temporada de 1986/87)
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(Romeu como simbolo do SC Salgueiros na época de 1986/87)
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(Em 1985/86 no SC Salgueiros)
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Terminada a carreira de jogador profissional de futebol no Amora FC na época de 1987/88, militando na 2ª Divisão Nacional, Romeu passou posteriormente para a área de orientação desportiva e técnico. Iniciou-se com 3 épocas nas camadas jovens do Sporting CP. Mais tarde foi enquadrado na estrutura profissional do Sporting CP na área de observação e estatística.
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Mais tarde enveredou pelo treino de campo na qualidade de treinador adjunto. Primeiro como treinador adjunto na equipa técnica liderada por Marinho Peres em 1991/92 no Sporting CP.
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(Sporting CP na época de 1991/92)
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Regressou a Guimarães na época de 1993/94 para ser o treinador adjunto do técnico principal Bernardino Pedroto. Foi ainda adjunto de José Romão no CF Belenenses na temporada de 1994/95. Voltou ao Vitória para ser adjunto de Jaime Pacheco na temporada de 1996/97 e mais tarde de Octávio Machado no Sporting CP, novamente, na época de 1997/98.
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(Na equipa técnica do Vitória SC na época de 1992/93)
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(Vitória SC na temporada de 1993/94)
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(Romeu como treinador adjunto no Vitória SC)
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(CF Belenenses na época de 1994/95)
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(Vitória SC na temporada de 1996/97)
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Em meados dos ano de 2000, Romeu regressou a outra casa que bem conhecia dos seus tempos de jogador de futebol, concretamente ao Estádio da Luz, quando foi contratado pelo controverso presidente do SL Benfica João Vale e Azevedo para exercer funções de observador das equipas adversárias, integrando ainda o gabinete de observação e prospecção de mercado no departamento de futebol profissional dos benfiquistas.
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Mas nem sempre foi treinador adjunto, assumiu também as funções de treinador principal em modestas equipas portuguesas como o SCU Torreense, USC Paredes e CD Olivais e Moscavide e, mais recentemente, treinou em Angola, no Inter Clube de Luanda onde, em virtude dos maus resultados, foi despedido após nove meses de trabalho. A título de curiosidade refira-se que Romeu foi substituído no cargo de treinador principal dos angolanos do Inter de Luanda pelo brasileiro Carlos Mozer, antigo jogador do SL Benfica e da Selecção canarinha.

Autor: Alberto de Castro Abreu 
Fonte: http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2008/02/romeu.html