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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Reforma

 
 
Em Portugal
 
A idade legal da reforma em Portugal ainda está nos 65 anos, mas a idade média efetiva está nos 67,4 anos. É o país da União Europeia em que os trabalhadores mais prolongam a sua vida ativa.
 
A idade legal de acesso à aposentação em Portugal está ainda nos 65 anos (66 anos em 2014), mas em média os homens portugueses mantêm-se a trabalhar até aos 68,4 anos e as mulheres até aos 66,4 anos (média de 67,4 anos). Apenas os mexicanos, coreanos, chilenos, islandeses e japoneses o fazem mais tarde, segundo mostram os dados da OCDE.
 
Portugal está longe de ser o país da OCDE onde a idade legal da reforma é mais elevada (há já quem aponte para os 66 e mesmo 67 anos), mas o país é onde as pessoas mais prolongam a vida ativa, mantendo-se em funções muito para além do tempo necessário para anular o efeito do fator de sustentabilidade, que exige atualmente mais seis meses.

Na Alemanha

A CDU (direita alemã) e o SPD (socialistas alemães) insistiram nas suas propostas sobre este tema. A partir de 2014, as mulheres que tiveram filhos antes de 1992 vão receber um bónus nas reformas, como desejava a CDU-CSU. Os assalariados de 63 anos que descontaram 45 anos podem pedir a reforma sem serem penalizados, como exigia o SPD (a idade actual da reforma é aos 65 anos). A primeira medida vai custar 6,6 mil milhões de euros por ano, a segunda cinco mil milhões. A partir de 2017 os que têm salários baixos terão uma pensão de pelo menos 850 euros por mês.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Juízes reconhecem "interesse público" nas 40 horas de trabalho

                                                                                                                                     foto Pedro Rocha/Global Imagens
Juízes reconhecem "interesse público" nas 40 horas de trabalho
Os juízes admitem que a mudança da lei "frustra expetativas bem fundamentadas" e que o aumento do horário de trabalho é "passível de gerar ou acentuar dificuldades" aos cidadãos
 
O Tribunal Constitucional considerou que o aumento do horário de trabalho da Função Pública de 35 para 40 horas semanais visou salvaguardar interesses públicos de "grande relevo", apesar do sacrifício causado aos trabalhadores.
 
No acórdão que declara a constitucionalidade da norma que aumenta de 35 para 40 horas semanais o horário de trabalho da função pública, o TC atendeu a argumentos expostos pelo Governo PSD/CDS-PP na exposição de motivos do diploma, no quadro da "situação de crise económico-financeira".
Para o TC, "resulta claro que um dos principais propósitos das medidas" é "uma certa flexibilização do regime laboral dos trabalhadores em funções públicas, tendo também em vista a contenção salarial e a redução de custos associados à prestação de trabalho fora do período normal".

"E, em face da situação de crise económico-financeira, é de atribuir grande peso valorativo a esses objetivos de redução da remuneração do trabalho extraordinário e de contenção salarial, associados ao aumento do período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas", refere o acórdão, publicado esta segunda-feira à noite no "site" do TC.

Na presente situação, o TC conclui que "os interesses públicos a salvaguardar, não só estão claramente identificados, como são indiscutivelmente de grande relevo".

Assim, "ainda que não se ignore a intensidade do sacrifício causado aos trabalhadores em funções públicas", devido à alteração da lei, "a verdade é que, a existirem expectativas legítimas relativamente ao regime anteriormente em vigor, ainda assim não resulta evidente que a tutela das mesmas devesse prevalecer sobre a proteção dos interesses públicos que estão na base da alteração legislativa".

"Ora, não poderá deixar de assinalar-se que a medida de aumento do período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas visa a salvaguarda de interesses públicos relevantes", refere o acórdão, que aduz alguns dos argumentos da exposição de motivos da proposta de lei.

Por um lado, o "alargamento dos horários de funcionamento e atendimento ao público dos serviços da administração não poderá deixar de considerar-se como um efeito positivo, não só a nível individual, para cada utente, como em termos globais, para a sociedade".

Além disso, "há também que destacar que as normas impugnadas se apresentam como parte de um 'pacote de medidas' de contenção de despesa pública que constam da Sétima Revisão do Programa de Ajustamento para Portugal constante do Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica, assinado em 2011".

"Tais medidas visam a diminuição da massa salarial do setor público através de restrições ao emprego e a redução da remuneração do trabalho extraordinário e de compensações", nota o TC.

O Tribunal Constitucional recordou que, desde 2004 (e "fortemente acentuada" desde 2008), a legislação caminha para uma "certa laboralização" das leis sobre função pública e defendeu que "não causa surpresa" que, também pela via do aumento do horário de trabalho, "se procure contribuir para o equilíbrio orçamental e a consequente sustentabilidade ao nível da despesa pública corrente".

Contrariamente ao alegado pelos dois grupos de requerentes [deputados do PS e deputados do PCP, BE e PEV], o aumento do período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas "não constitui uma medida 'inesperada' e ao invés, mostra-se consequente com o conjunto de reformas legislativas da Administração Pública que têm vindo a ser adotadas ao longo dos últimos anos".

"Mas, mesmo que assim não se entendesse, haveria que ter em conta que só é inadmissível a frustração da confiança quando ela não seja justificada pela salvaguarda de um interesse público que deva considerar-se prevalecente", argumentou o TC.

Os juízes admitem que a mudança da lei "frustra expetativas bem fundamentadas" e que o aumento do horário de trabalho é "passível de gerar ou acentuar dificuldades" aos cidadãos, nomeadamente a "conjugação lograda entre a vida privada e familiar e a vida laboral" ou o direito à fruição da cultura.
No entanto, contrapõem, "pode argumentar-se que a tutela constitucional da confiança, por sua natureza, não pode ser considerada entrave a qualquer alteração legislativa passível de frustrar expetativas legítimas e fundamentas dos cidadãos".

"De facto, só poderá utilizar-se a ideia de proteção da confiança como parâmetro constitucional nas situações em que a sua violação contraria a própria ideia de Estado de Direito, de que aquela constitui um corolário", o que não aconteceu, na avaliação da constitucionalidade do aumento do horário de trabalho.

Ler mais em http://www.jn.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=3553418

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Comissão Europeia diz que nova rede de escolas profissionais está atrasada

O relatório aponta o atraso do Governo e diz que as escolas profissionais de referência só vão arrancar depois de Setembro de 2014. 
  
A nova rede de Centros de Ensino Profissional está atrasada e as escolas profissionais de referência não vão estar a funcionar antes de Setembro de 2014.
Isto porque - de acordo com o relatório da Comissão Europeia das 8º e 9º avaliações do Programa de Ajustamento que é hoje divulgado - o Governo, que tem vindo a apostar na via profissional do ensino, ainda está a desenhar a legislação e a negociar protocolos com as empresas para criar programas de estágios para os alunos.
Esta nova rede vem substituir o programa de Novas Oportunidades, uma das bandeiras do governo de José Sócrates, que foi extinto.  No entanto, alguns dos 423 CNO que estavam em funcionamento - em escolas públicas, em centros de formação profissional do IEFP ou em autarquias - foram fundidos com escolas de ensino profissional e foram assim criados os Centros Nacionais para o Ensino Profissional. Este ano estão 120 Centros a funcionar mas o programa está a ser redesenhado pelas tutelas da Economia e da Educação.
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: A Rapariga das Laranjas

 
A Rapariga das Laranjas é nada mais, nada menos do que uma carta que um pai escreve ao filho que não poderá ver crescer. É ainda o relato na primeira pessoa de uma história de amor que, à primeira vista, parece impossível mas que afinal não o é. É ainda um apelo à vida e ao proveito de todos os momentos ao máximo.
 
A história começa quando os avós de Georg lhe entregam uma carta escrita pelo seu pai 11 anos antes, quando estava prestes a morrer. O seu pai morreu quando ele tinha apenas 4 anos e, por isso, poucas memórias tem dele. De facto, ao princípio este não percebe o intuito daquela carta, que tanto sofrimento lhe traz. Mas à medida que a lê, apercebe-se que aquela é mais uma lição de vida que seu pai está a tentar ensinar-lhe, provavelmente a única.
 
Pormenor a pormenor, o seu pai vai descrevendo uma história de amor difícil e misteriosa. Mais misterioso é o inicio e o decorrer da historia, acabando por ser trágica.
 
Tudo começa quando, num eléctrico, Jan Olav repara numa jovem rapariga que transportava um enorme saco de laranjas, vestida com um anoraque amarelo. Mas após uma troca de olhares, ele comete o erro de a tentar “socorrer”, acabando porém por fazer tombar o saco das laranjas. A partir daí nasce um fascínio inexplicável, mas mútuo, entre a rapariga e o rapaz. A partir daí ele faz de tudo para a encontrar, tentado desesperadamente que isso acontecesse. 
 
Foi assim que lhe foi contando grande parte das suas tentativas, mesmo as mais humilhantes e frustradas, as suas esperanças, os seus desejos, desconfianças (algumas bem absurdas), medos, ansiedades, sentimentos, tudo para encontrar aquela enigmática rapariga das laranjas… Depois disto voltaram a encontrar-se num café onde trocaram apenas olhares. Conseguiu encontrá-la num mercado, a escolher laranjas… e uma vez mais isto fez nascer novas suspeitas nele. Viu-a ainda na missa de Natal. No final, conversaram, com a chuva caindo sobre eles, numa conversa enigmática, rigorosa, com regras que mesmo sem serem expressados, ambos sabiam que existiam.
 
Durante essa conversa, ela propõe-lhe um acordo: o único possível acordo entre eles. Se ele estivesse disposto a esperar por ela durante 6 meses, então poderia estar com ela todos os dias dos 6 meses seguintes.
 
Assim, ele ia-se alimentando da esperança de mais tarde poder estar com ela. Porém, quebra o acordo e, no seguimento de uma suspeita que, embora fundamentada não deixava de ser arriscada, viaja até Espanha. 
 
Aí encontra a rapariga das laranjas e, ao longo de uma conversa, desvendam todos os mistérios acabando por se envolver mais seriamente. Pouco tempo depois casam e acaba por nascer Georg. Tudo isto é descrito na carta mais pormenorizadamente.
 
Em comum, Georg descobre o interesse pelo espaço, pela ciência, que tanto fascinava o seu pai também.
 
Ao longo da carta ele vai mencionando alguns factos da sua vida com a mãe de Georg e posteriormente com ele também.
 
A carta é longa e Georg faz algumas pausas nas quais sai do quarto e se depara com a ansiedade e as perguntas dos familiares curiosos. Porém, este apenas lhes comunica que sim, poderão ler a carta, mas apenas passada uma semana… para ele ter tempo de reflectir sobre a mensagem que o pai lhe tentou transmitir e, também, responder à pergunta que ele lhe colocou: “Uma passagem breve pela Terra cheia de felicidade, mesmo sabendo que um dia iria morrer ou recusaria a oferta logo à partida?”
 
 
                  Autor: Jostein Gaarder
Titulo: A Rapariga das Laranjas
 Editorial Presença
 

 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: "A dama das Camélias"

 
Margarida Gautier é a mais famosa e cobiçada cortesã parisiense, Armand Duval, um jovem aristocrata com um futuro promissor. A história de amor destas duas personagens, vivida, contra os preconceitos da época, na Paris do século XIX, foi inspirada na própria paixão do autor pela cortesã Marie Duplessis, que para além de Dumas foi amante de Franz Liszt e de outros homens notáveis antes de morrer de tuberculose, aos 23 anos. A Dama das Camélias é, pois, uma elegia e um cântico ao amor que deu origem, não só à adaptação teatral feita pelo próprio Dumas, como a uma das mais famosas óperas de Verdi - La Traviata - e a dezenas de adaptações para filmes e telefilmes. De Sarah Bernhardt a Greta Garbo, a trágica Dama das Camélias já assumiu mil belos rostos para simbolizar essa dádiva universal que é o amor.
 
Nome: “A Dama das Camélias”

Autor: Alexandre Dumas

Nº de Páginas: 208

Editora: book.it

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Arroz doce à moda d'Âncora


Ingredientes para 8 taças:
  • 500 gr de arroz carolino (usei Saludães para arroz doce)
  • 300 gr de açúcar
  • 500 ml de água
  • 800 ml de leite
  • açúcar baunilhado a gosto
  • casca de limão
  • pau de canela
  • pitada de sal
  • 6 gemas
  • 1 boa colher de manteiga
 


Preparação:

Num tacho deitar a água, o arroz e a pitada de sal. Levar ao lume mexendo de vez em quando até que a água fique quase completamente evaporada.

Acrescentar o leite, a manteiga, o pau de canela e a casquinha de limão (só o vidrado). Deixar cozer o arroz. Se achar que está muito seco junte um pouco mais de leite quente.
Quando estiver quase cozido, juntar o açúcar e o açúcar baunilhado. Deixar que o açúcar esteja bem envolvido e derretido.
Retirar a casca de limão e o pau de canela. Juntar as gemas batidas com um pouquinho de leite e passadas por um coador.
Atenção esta operação é muito delicada pois não se devem deixar cozer os ovos.
Deita-se em travessas ou em pratinhos individuais.
Enfeita-se com canela em pó.
 
 


Alunos de cursos profissionais quadruplicaram numa década


 
O número de alunos no ensino profissional quase quadruplicou numa década em Portugal, mas está ainda aquém da média dos países da União Europeia e muito longe dos países mais desenvolvidos, segundo dados da Pordata.
 
Em 2011, havia 440 000 alunos no secundário em Portugal, dos quais 198 085 seguiam a via geral e 110.462 o ensino profissional, um número que em 2001 se ficava pelos 30.668 alunos, num universo total de 413.748 alunos.
 
A estes juntam-se ainda os 15 288 (65.971 em 2001) alunos dos cursos do ensino técnico- profissional, os 18 669 dos cursos de aprendizagem, que começaram apenas em 2009, os 2.177 em cursos de educação ou formação (iniciados em 2003) e os 96 274 (74.657) no ensino recorrente.
 
Os dados da Pordata - base de dados organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos- registam ainda uma quebra no número de alunos do ensino recorrente nos últimos dois anos, que passou de 169.190 em 2009 para os 96.274 em 2011, e está relacionado com o fim do programa Novas Oportunidades.
 
Os números mostram igualmente que entre 2001 e 2011, os cursos técnico-profissionais diminuíram de cerca de 66.000 para 15.000 alunos, [muitos dos cursos foram redefinidos, passando a ensino profissional].
 
Juntando os alunos do ensino profissional e dos cursos técnico-profissionais, o aumento registado é menos expressivo, passando de 96.000 alunos em 2001 para 126.000 alunos em 2011.
 
Por outro lado, nestes 10 anos o número de alunos na via geral de ensino caiu de 242.452 para 198 085.
 
Estes dados servirão de base a uma conferência sobre esta área de ensino promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que pretende abordar os caminhos a seguir no ensino profissional em Portugal bem como analisar as respostas a dar em matéria de formação aos jovens que não entram nas universidades e que este ano foram cerca de 60 mil.
 
Para Carlos Fiolhais, responsável pelo programa de Educação da Fundação e mediador da conferência, estes dados revelam que em matéria de ensino profissional ainda não se progrediu o suficiente em Portugal.
 
Em termos europeus, dados do Eurostat relativos a 2009, colocam Portugal no grupo de países com maior percentagem de alunos na via académica de ensino, 62 por cento, contra 38 por cento para a via vocacional (que engloba a generalidade de cursos mais ligados ao mercado de trabalho).
 
Desde então, esta realidade tem melhorado, segundo Carlos Fiolhais, devendo a percentagem portuguesa rondar atualmente os 40 por cento, enquanto a média europeia, que em 2009 era de 50 por cento para cada via de ensino, ultrapassa já esse valor.
 
«Há um grande aumento nesta modalidade de ensino, mas estamos ainda aquém do que é a média europeia. A média europeia tem mais ensino profissional que nós. Conseguimos chegar quase a metade [dos alunos do secundário], mas eles têm mais de metade», disse Carlos Fiolhais.
 
A diferença é ainda maior quando a comparação é feita com os países mais desenvolvidos da Europa, como a Alemanha - cujo sistema está a ser adotado de forma experimental em Portugal - e que tem 53 por cento de alunos do secundário no ensino vocacional.
 
Para Carlos Fiolhais, a aplicação do sistema alemão - em que parte da formação é feita na escola e outra em trabalho nas empresas - esbarra com a fragilidade do tecido empresarial português e com a falta de articulação entre escolas e empresas.
 
«Um dos problemas da escola portuguesa é que está muito distante das empresas», considerou.
Mas, para Carlos Fiolhais, a questão mais preocupante é sermos o país europeu com a menor percentagem de pessoas que completaram o secundário na faixa etária dos 25 aos 64 anos, ou seja, pessoas que se encontram no mercado de trabalho.
 
A taxa portuguesa situa-se nos 37,6 por cento, enquanto a média europeia é 74,2 por cento.
 
«Este é que é o grande drama nacional: pessoas pouco qualificadas não produzem riqueza suficiente», considerou Carlos Fiolhais, para quem é um imperativo qualificar mais jovens.
 
«Temos que qualificar mais jovens e, se olharmos para o exemplo europeu, o ensino profissional é a melhor via para isso», concluiu.
 
Diário Digital com Lusa

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: "O Enigma e o Espelho"

 
O Natal está à porta. Uma doença grave prende Cecilie à cama e impede-a de desfrutar, por antecipação, os seus esquis que aguardam a sua convalescença debaixo da árvore de Natal. Entretanto começa a receber a visita de um novo e estranho amigo que mais ninguém vê. Um amigo que é a sua imagem ao espelho, durante o período em que frequentava as sessões de quimioterapia.

Da solidão do seu quarto, Cecilie tenta seguir, valendo-se da audição, os preparativos para a festa de Natal, no andar inferior.

Gradualmente, apercebe-se de algumas ligeiras mudanças na rotina e o estado emocional dos seus familiares que tentam passar o máximo tempo possível na sua companhia.

Cecillie está contudo cada vez mais ligada ao seu amigo imaterial e cada vez mais curiosa em relação ao mundo do lado de lá do espelho.

Os seus apontamentos, reflexões resultantes dos diálogos com Ariel, o anjo da dor, ou com os seus familiares vão se acumulando....

A magia, a beleza melancólica dos contos de Andersen estão presentes nesta magnífica obra literária, cheia de candura e melancolia que, levada pelas asas da imaginação de Cecilie, nos leva a viajar pela belíssima paisagem do Inverno norueguês, gelada, como a vida da adolescente após as idílicas férias com a família na soalheira ilha de Creta...

Os diálogos de Cecilie e Ariel são dotados de elevado dinamismo, caracterizados por frases curtas que estimulam a reflexão e estimulam o pensamento dialéctico.

O editor afirma que a época em que decorre este lindíssimo conto com cheiro a Natal "propicia o encontro entre o eterno e o temporal..." e que o diálogo em que Cecilie é conduzida por Ariel transporta-nos "numa teodisseia que, à luz da maiêutica socrática", indaga sobre os mistérios da existência, da criação da vida antes do nascimento e depois da morte.

De facto, Cecilie e Ariel conseguem, a dada altura, resolver a principal questão debatida por Sócrates em "Fédon": a vida depois da morte.

Cecílie abandona a borboleta oferecida num gesto de amizade, borboleta que é o símbolo das alegrias terrenas e da efemeridade, voa com Ariel pelas alturas e distancia-se cada vez mais da realidade, permanece no mundo do lado de lá do espelho, legando à família os seus apontamentos.

Um livro sublime, cujo argumento de que “vemos tudo através de um espelho”, faz lembrar a teoria das formas de Platão.

De alto teor emotivo, destinado a todas as idades, é um livro essencialmente metafórico, cuja polissemia faz com que seja equiparado a "O Principezinho" de Antoine Saint-Exupery.
 
O Enigma e o Espelho
Jostein Gaarder
Edição/reimpressão: 1999
Páginas: 136
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722321709

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: O Curioso Iluminismo do Professor Caritat

O subtítulo promete uma comédia de ideias e é isso que temos: Steven Lukes passa em revista as principais filosofias políticas atuais através da figura do professor Caritat, que percorre vários países em busca daquele que apresenta o sistema perfeito. Caritat é professor universitário de filosofia política, sendo a sua especialidade o Iluminismo. Infelizmente, vive numa ditadura militar e acaba por ser preso. É depois da sua rocambolesca fuga que começa a percorrer vários países em busca do melhor sistema político. Os países que percorre encarnam as diversas filosofias políticas atuais: o utilitarismo, o comunitarismo relativista, o marxismo e o liberalismo económico desenfreado. Uma questão literariamente interessante é a de saber se podemos considerar este livro um exercício de ironia ou uma sátira. Na verdade, parece por vezes que a deformação grotesca de alguns aspetos das doutrinas políticas nele descritas aproxima o romance perigosamente da sátira, afastando-o do exercício civilizado da ironia.
 
A galeria de personagens é, como convém numa obra deste género, povoada por personagens-tipo, representações de personagens típicos, e não por personagens com qualquer profundidade psicológica. O efeito é extremamente cómico e os próprios nomes dos personagens estão sempre relacionados com aquilo que eles representam. Outro aspeto interessante é o facto de o país marxista surgir não como um país que existe realmente, mas como um sonho que o prof. Caritat tem durante uma viagem de comboio. Significa isto que Lukes considera o marxismo impossível de alcançar? Talvez. Mas, nesse caso, subsiste a dúvida académica: SE o marxismo fosse possível, seria desejável? Acho que as perguntas insistentes que Caritat faz aos habitantes do país marxista mostram que a resposta é negativa.
 
Os capítulos talvez mais informativos para o leitor português são os dedicados ao relativismo. O relativismo é uma doença da civilização que se tem propagado mais depressa do que o vírus da SIDA. E o problema é que não só os seus partidários, mas toda a gente, parece estar convencida de que o relativismo é uma doutrina magnífica. Na verdade, o relativismo é uma forma disfarçada de ditadura, como Lukes mostra muito bem nesta obra.
 
A narrativa é muito humorística mas sempre impassível, descrevendo o maior dos absurdos como se fosse coisa de somenos — uma espécie de Kafka alegre. O único aspeto que me parece fazer perigar a economia do romance são os diálogos do princípio do livro com vários personagens históricos da filosofia política. Esses diálogos não têm, tanto quanto consegui perceber, qualquer papel digno de nota — aparentemente estão lá só porque sim. Mas o leitor não deve desistir da leitura ao deparar-se com esses diálogos; o resto do romance vale bem esta pequena deselegância inicial. (Desidério Murcho)
 
O Curioso Iluminismo do Professor Caritat Uma Comédia de Ideias, de Steven Lukes
Tradução de Teresa Curvelo
Gradiva, 1996, 247 pp.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Escola Profissional de Aveiro tem taxa de 80% de garantia de emprego

A Escola Profissional de Aveiro cresce a um ritmo alucinante e tem mais 600 alunos no novo ano letivo. Mesmo assim, a direção garante que, após o final do curso, "nenhum aluno fica parado e sem ocupação".
Escola Profissional de Aveiro tem taxa de 80% de garantia de emprego
 
foto José Mota / Global Imagens
Aulas práticas são uma marca da Escola Profissional de Aveiro
 
Paixão. Jorge Castro, administrador da Escola Profissional de Aveiro (EPA), revela que a "paixão pelo que se faz" é a receita do grande sucesso da escola que dirige. Com 1200 alunos (600 dos quais acabados de chegar há cerca de um mês), a EPA colabora com mais de 500 empresas e garante um futuro risonho aos jovens que ensina. Um modelo de ensino diferente, que dá frutos no mercado de trabalho.
"A taxa de empregabilidade é superior a 80%. Os restantes alunos vão para o ensino Superior, para cursos de formação tecnológica, estágios ou para projetos de voluntariado. Mais do que emprego, queremos as pessoas ocupadas. E é isso que acontece", conta Jorge Castro. 
 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Emprego em 6 meses para 70% dos alunos do ensino profissional

Empregabilidade de alguns cursos subiu com a crise. Empresas preferem contratar técnicos em vez de licenciados
Erika Nunes
 
 
foto Tiago Silva/Global Imagens
Emprego em 6 meses para 70% dos alunos do ensino profissional
Ensino Profissional ganhou novo fôlego com a crise
 
Há cursos cuja empregabilidade aumentou 20% no último ano. A procura dos jovens pelo Ensino Profissional, para conseguir terminar os estudos e ter saídas profissionais, também cresce.
O objetivo do Governo é chegar aos 50% de alunos do Ensino Secundário inscritos no Ensino Profissional e estes já são 40 mil - cerca de 40% do total - matriculados em aproximadamente 200 escolas profissionais. Ao fim de 25 anos de experiência, o Ensino Profissional garante que já conquistou o "respeito da comunidade e dos parceiros, nomeadamente as empresas onde são feitos estágios integrados nos cursos", pela formação abrangente - como no ensino regular - e pela componente técnica e prática que dá "vantagem aos alunos na hora de arranjar emprego ou prosseguir estudos superiores". De acordo com Luís Costa, diretor-executivo da Associação Nacional de Escolas Profissionais, "os dados disponíveis indicam uma taxa de empregabilidade, seis meses depois da conclusão da formação, superior a 70%".

Texto retirado de http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/interior.aspx?content_id=3524702

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ilustres Ancorenses: Almirante Jorge Maia Ramos Pereira (Patrono do NRA - Núcleo de Radioamadores da Armada)

 
Filho do médico Luís Ramos Pereira, nasceu em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha, a 6 de Abril de 1901.

Frequentou o Colégio Militar e, após dois anos de serviço no Exército, ingressou na Escola Naval, onde concluiu o curso de Marinha como primeiro classificado.

Promovido a Guarda-Marinha em Fevereiro de 1924, efetuou vários embarques como oficial subalterno, dos quais se destaca uma comissão no Extremo Oriente, entre 1930 e 1932, a bordo do cruzador "Adamastor". Nessa comissão começou a revelar um grande interesse pelas radiocomunicações, tendo sido louvado pela sua ação técnica na direção da instalação elétrica e dos equipamentos rádio do navio.

Foi colocado na Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em Outubro de 1932. Ali viria a passar cerca de 21 anos, apenas interrompidos por duas comissões de embarque como Imediato dos contratorpedeiros "Lima" e "Douro", entre 1935 e 1936. Durante esse longo período, desenvolveu um significativo trabalho no desenvolvimento das comunicações rádio, dirigindo a construção e experimentação de novos equipamentos (atividade em que se valeu da sua experiência de radioamador) e organizando cursos para oficiais, sargentos artífices e praças. Entre as várias publicações técnicas que elaborou, destaca-se um compêndio de radioeletricidade editado em 1952, que serviu de base de apoio a vários cursos. Foi também responsável pela reorganização e modernização, em equipamento e instalações, da rede de estações radionavais da Marinha.

Passando, sucessivamente, pelos cargos de Secretário, Subdiretor e Diretor, deixaria a Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em Fevereiro de 1954, já como Capitão-de-Fragata, para exercer o comando do aviso de 2ª classe "João de Lisboa", enviado em missão de soberania à Índia portuguesa, por ocasião das graves perturbações ali ocorridas naquele ano.

Regressado à Metrópole em 1956, ano em que foi promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra, passou pelo Estado-Maior Naval, antes de ser enviado a frequentar o Naval Command Course no United States Naval College.

Em Junho de 1958 foi nomeado Subdiretor do Instituto Superior Naval de Guerra, ascendendo a Diretor, já no posto de Comodoro, no início de 1960. Empreende, então, profundas alterações na organização e nos curricula daquele Instituto, tendo sido responsável pela sua mudança para as instalações definitivas, na Rua da Junqueira. Promovido a Contra-Almirante em Julho de 1960, viria a pedir a sua demissão na sequência de um discurso do Ministro da Marinha, aquando da abertura solene do ano letivo 1961-62, que considerou atentatório do seu brio profissional.

Passa à Reserva em Abril de 1966, tendo, ainda, exercido as funções de Diretor do Museu da Marinha, entre 1968 e 1971. Em Outubro de 1969 chega a ter alguns assomos de atividade política, candidatando-se a deputado por Viana do Castelo na lista da Oposição Democrática.

Nos últimos anos da sua vida desenvolveu uma intensa atividade intelectual, quer na vertente técnico-científica quer, principalmente, na vertente cultural. Foi um dos dez fundadores do Centro de Estudos de História Marítima, mais tarde designado por Centro de Estudos de Marinha, que daria, em 1978, origem à Academia de Marinha.

Entre os vários trabalhos que publicou, maioritariamente de cariz técnico, avulta, no campo da História, um estudo sobre a vida de Gago Coutinho, que publica em 1973. Também se debruçou sobre a figura de Fontoura da Costa, sendo ainda de mencionar o seu interesse pelo património arquitetónico da Marinha.

Faleceu em Lisboa, no Hospital da Marinha, na sequência de um carcinoma estomacal, no dia 16 de Março de 1974.
 
 

Em 1982 foi, a título póstumo, agraciado pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem da Liberdade. A sua memória foi ainda homenageada com a atribuição do seu nome à estação radionaval da Apúlia (hoje desativada) e no busto evocativo da sua memória na Praça da República em Vila Praia de Âncora que lhe ficou eternamente grata pelo seu papel de filantropo em prol das famílias mais carenciadas desta freguesia.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Ancorenses ilustres: Dr. Luís Inocêncio Ramos Pereira

«...a sua absoluta probidade política, a sua invulgar intuição clínica para diagnosticar e curar com os remédios rudimentares de há mais de meio século, a sua devoção humanitária à profissão de médico, da qual fazia um apostolado, impunham-no à admiração, granjeavam-lhe a amizade e o carinhoso respeito de todos...»

João de Barros Morais Cabral (1)

Luís Inocêncio Ramos Pereira nasceu a 18 de Setembro de 1870 na cidade do Porto. Era filho do comendador José Bento Ramos Pereira, natural de Riba d'Âncora, e de Maria Gertrudes da Silva Pereira.
Estudante prodigiosamente dotado, destacou-se como um dos primeiros representantes do Partido Republicano Português em Caminha. Formou-se depois em Medicina (1897), na Escola Médico-cirúrgica. Ali, ao terminar a carreira escolar, defendeu e publicou a tese «Algumas Palavras sobre a Anesthesia Cocaïnica». Desde então, ocupou vários cargos: Médico em Vila Praia de Âncora, Paredes de Coura e dos Caminhos de Ferro do Sul e Sudeste (1910), Administrador da Companhia do Niassa, Deputado à Assembleia Constituinte por Viana do Castelo (1911-1925), Inspector da Procuradoria de Lisboa, Provedor da Assistência em Lisboa (1913) e Senador da República (1913-1926).
Desempenhou um papel importante no Congresso, foi membro da Comissão de Agricultura, autor do projecto de lei para alterar os contratos de 27 de Setembro de 1904 e 4 de Março de 1907 sobre a construção e exploração dos caminhos-de-ferro de Braga a Guimarães, Braga a Monção e Viana a Ponte da Barca. Na sessão do Senado da República, no dia 27 de Fevereiro de 1924, apresentou um projecto de lei com o objectivo de elevar à categoria de vila a freguesia de Gontinhães: «Senhores Senadores. — A freguesia de Gontinhães (Praia, de Âncora), do concelho de Caminha, tem progredido consideravelmente a ponto de ser a mais populosa do concelho.
É um grande centro comercial e industrial e tudo faz antever que num futuro muito breve deseje a sua autonomia administrativa, a fim de o seu desenvolvimento mais se acentuar.
Estância de turismo, como é, tem a sua comissão de iniciativa que carinhosamente estuda os projectos que hão-de facultar a Âncora o lugar de uma das nossas primeiras praias.
As condições naturais são de primeira ordem e talvez se possa afirmar que poucas serão as praias portuguesas que as tenham melhores.
Com a sua população de cerca de 3:500 habitantes está bem nos casos de ver as suas prerrogativas aumentadas e, prestando preito aos laboriosos filhos de Gontinhães (Praia de Âncora), tenho a honra de apresentar ao vosso critério o seguinte projecto de lei:
Artigo 1. ° Elevada à categoria de vila a freguesia de Gontinhães (Praia de Âncora), a qual se ficará denominando Vila Praia de Âncora.» (2)
Com o parecer favorável da Comissão de Administração Pública, a proposta foi aprovada por unanimidade na Câmara de Deputados, na sessão de 2 de Julho de 1924.
A população de Vila Praia de Âncora encontrou em Ramos Pereira não só um ardente defensor dos seus interesses, mas um grande médico amigo dos humildes, um homem de carácter, de valores sagrados. Para ele, a trilogia «liberdade, igualdade e fraternidade» tinha um amplo e profundo sentido na vida quotidiana. Em 1918-1919,quando o país foi varrido por um surto de gripe, a «pneumónica», abandonou a capital e foi socorrer os doentes de Gontinhães, Afife, Moledo, Perre, Cristelo, Vile, Carreço e Caminha, sem esperar recompensa alguma aos cuidados que oferecia. De dia ou de noite, deslocava-se a pé, de comboio, de bicicleta ou em carro de cavalos. «Não cobrava contas, e algumas vezes ainda deixava aos pobres dinheiro para caldos e remédios» (3). Nunca abandonou as gentes e a terra do seu pai. Afeiçoou-se para sempre à paisagem azul, ao mar, à comunidade piscatória, à vila. E lá está, mesmo depois da morte, que ocorreu em Lisboa, no dia 22 de Julho de 1938, a dormir o sono do descanso em campa rasa.
NOTAS

(1) João de Barros Morais Cabral. Natural de Vila Praia de Âncora. Juiz-conselheiro do Supremo Tribunal da Justiça.
(2) Diário da Câmara dos Deputados, Sessão de 2 de Julho de 1924
(3) Alexandre H. S. Rodrigues, Traços Biográficos (em prosa bárbara) do Dr. Luís Inocêncio

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

João Verde, o poeta da raia

Vendo-os assim tão pertinho,
a Galiza mail’ o Minho,
são como dois namorados
que o rio traz separados
quasi desde o nascimento.

Deixal-os, pois, namorar
já que os paes para casar
lhes não dão consentimento

(João Verde)
 
 
José Rodrigues Vale, que usaria literariamente o pseudónimo de João Verde nasceu, em Monção em 2 de Novembro de 1866.
 
Aí, depois de fazer a instrução primária, frequentou aulas de Latim e Francês, fazendo depois os respectivos exames no Liceu de Braga, o que certamente lhe permitiu desde muito jovem dar os primeiros passos no campo das Letras, escrevendo para os jornais locais, revelando um estro invulgar.
 
Foi praticante de farmácia em Monção, no Porto e depois em Viana do Castelo, onde se tornou redactor de “A Aurora do Lima”, hoje um dos decanos da imprensa periódica portuguesa.
 
No Porto publicou o seu primeiro livro de versos “Musa minhota” (1887), reíncidindo em Viana com “N’aldeia” (1890).
 
Em 1891 regressou à terra natal, para desempenhar o cargo de secretário da Câmara Municipal, aqui vivendo até ao seu passamento.
 
Os jornais monçanenses dos finais do séc. XIX, início do séc. XX (“Deuladeu”, “Monsanense”, “Independente”, “Alto Minho”, “Povo de Monção” e “A Terra Minhota”) recolhem assídua e variada colaboração de João Verde, tanto em verso como em prosa. Em 1901 fundou “O Regional”, que se publicou até 1918, um dos mais interessantes órgãos da imprensa local, verdadeiro repositório da vida e história da vila raiana nos seus mais diversos aspectos (sendo de destacar os históricos) e que contou com a colaboração de nomes reputados da intelectualidade minhota do tempo.
 
O jornal era feito em grande parte por João Verde, que escrevia sob os mais variados pseudónimos versos e pequenos contos, crónicas do quotidiano, apontamentos políticos e sociais e notas etnográficas.
 
Em 1902 publicou o seu terceiro e mais aclamado livro, “Ares da Raia”, impresso na tipografia de Eugénio Krapf, de Vigo, que tem como pórtico os versos com que iniciamos este texto e são reproduzidos em caixa.
 
Como diz o seu biógrafo Gentil de Valadares, a Galiza constituía para João Verde desde a infância um refúgio muito do seu agrado, sempre novo e apetecido.
 
Como sucede com todos os raianos, o rio Minho desde tempos imemoriais une mais do que separa, e a língua de matriz comum ajuda a estreitar os contactos.
 
Na companhia de Guerra Junqueiro, poeta de nome feito que vivia então em Viana, J. Verde contactou com grandes nomes da literatura galega, que vinha seguindo apaixonadamente, desde Francisco Añon, Rosália de Castro, Curros Enriques, o meu grande preferido…
 
No artigo de “O Regional” (9.3.1902) que venho citando escreveu ainda João Verde: A Galiza… Foi ela, está-me parecendo, a minha madrinha literária, pois me embalaram desde Añon até Curros, com intermitências de Pozada, Ferrero e tantos outros, não falando nessa suprema alma lírica galega de Rosália de Castro, que foi e será eternamente a sublime cantora das campinas galegas.
 
Em “Ares da Raia” é evidente essa estreita ligação, essa paixão intensa pela língua e cultura galegas, expressa nas epígrafes e dedicatórias, na temática de muitos versos e até em dois poemas escritos em galego.
 
Finalmente em 1932, no “Anuário do Distrito de Viana do Castelo” escreve uma arrebatada “Carta à xente galícia”, que merecia ser mais conhecida, na qual, depois de dizer enquanto o mundo for mundo, o que é que nos separará? se proclama um defensor da identidade de língua galega: eu veño apretarvos unecamente a man de bôs compañeiros… E veño faquel’o nas pobriñas verbas do meu pobriño saber do lenguaxe da nosa nai comum que é isa adorabre Galiza, lenguaxe q’aprendin malamente dend’os precursores hast’os arautos do rexurdimento, ises cavaleiros que irguen o estandarte grorioso da Patrea, ises pregoneiros que nas catro províncias formam a ála dos namorados da Fala.
 
João Verde faleceu há 70 anos, mas o seu nome não é esquecido em Monção que lhe ergueu num revelim da muralha que faceia o Minho, um busto em bronze e na Alameda dos Neris um padrão onde em azulejos pintados é perpetuada a oitava que todos conhecem e que venho referindo. O futuro centro cultural terá também o nome de João Verde.
 
A Câmara Municipal reeditou duas vezes os “Ares da Raia” e em 2001 reuniu num só volume a sua “Obra poética” que inclui os 3 livros que J. Verde publicou, com edição literária do Departamento de Humanidades da Escola Secundária de Monção.
 
Mas muitos dos seus versos estão perdidos nas páginas dos inúmeros jornais e revistas minhotas, em que colaborou, merecendo ser recolhidos e publicados, bem como abundantes textos em prosa, que ele pretendia reunir no “Jornal dum minhoto” (projecto que não chegou a concretizar), justificavam a sua organização em livro que certamente muito honraria Monção, o Minho e a Galiza e constituiria uma inesperada revelação para os defensores da identidade galaico-minhota. (texto de Henrique B. Nunes)