Translate

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O legado de Nelson Mandela

José Eduardo Agualusa
A mesma África do Sul que produziu Mandela produziu também o seu contrário. O exemplo de Madiba, aplaudido em todo o mundo, irá ou não triunfar no seu país e no continente africano? Não é uma questão de resposta fácil, afirma o escritor angolano José Eduardo Agualusa. Vale a pena reflectir sobre ela
Na história da África do Sul há uma imagem extraordinária, a qual com a passagem dos anos ganhou ainda mais — senão outros — significados. A 11 de Fevereiro de 1990, Nelson Mandela emerge da cadeia-fazenda de Victor Verster, no Cabo Ocidental, ao lado da segunda mulher, Winnie Mandela.
O que vemos hoje naquela imagem não é o mesmo que víamos há 23 anos. Em 1990, víamos uma bela e comovente história de amor, de superação e de liberdade. Hoje vemos, caminhando em direcção ao futuro, de mãos dadas, o ANC nas suas duas versões antagónicas. De um lado a aposta no diálogo e no perdão, a abertura ao outro, a inteligência, a paciência, o espírito democrático, o desprendimento em relação ao poder, a humildade, a elegância, o amor ao próximo. Do outro, o rancor, o ódio em carne viva, a arrogância, a sede de poder, a corrupção, o populismo fácil, a estupidez e a crueldade.
Importa avaliar, no momento em que Mandela partiu, a força e a consistência do seu legado no ANC, no conjunto da sociedade sul-africana, e em África de uma forma geral.
Nelson Mandela é um produto da complexa sociedade sul-africana. Mandela nasceu e cresceu no seio da aristocracia rural xhosa, educada e bastante sofisticada, sobretudo em comparação com os rudes camponeses semianalfabetos, prisioneiros de uma ideologia religiosa arcaica e ultraconservadora, que no final dos anos 40 se apossaram do poder na África do Sul, começando então a desenhar e a erguer o sistema do apartheid.
Lembro-me de ter conhecido nos anos 80 um diplomata sul-africano, bóer, que me explicou de forma resumida aquele que era, no seu entendimento, o dilema sul-africano: “Os meus avós não sabiam ler nem escrever. Andavam descalços. Tomámos o poder e criámos o apartheid para poder calçar todos os bóeres. Hoje temos sapatos e não queremos voltar a andar descalços.”
O afrikaans, a língua dos bóeres, um crioulo de base holandesa, que incorporou muitas palavras de origem banto, malaia e khoi san, nasceu nos quintais e nas cozinhas da Cidade do Cabo. Os escravos muçulmanos, provenientes da Indonésia, foram importantes em todo este processo. É significativo que o primeiro documento que se conhece em língua afrikaans, datado do século XVIII, tenha sido escrito em caracteres árabes, facto um tanto embaraçoso para os teóricos do apartheid.
Breyten Breytenbach, um poeta originalíssimo, que assina um belo livro traduzido para português por Mário Cesariny — Enquanto Houver Água na Água e Outros Poemas, Publicações Dom Quixote, 1979 — aterrorizou os membros da sua própria tribo, em 1973, aquando de uma conferência na Universidade da Cidade do Cabo, ao defender a natureza bastarda dos bóeres: “Somos um povo bastardo, com uma língua bastarda. Eis o bom e o bonito. (...) Caímos na armadilha do bastardo que chega ao poder. Nessa porção de sangue que nos vem da Europa vinha a maldição do sentimento de superioridade. Quisemos legitimar a nossa força. E para isso tivemos de combater, debater, abater. Tivemos de nos entrincheirar atrás da nossa diferença. (...) Fizemos dessa diferença a norma, a regra e o ideal. E porque a defesa dessa diferença se faz em detrimento dos nossos irmãos sul-africanos, sentimo-nos ameaçados. Erguemos muros. Não cidades: muralhas. E como todos os bastardos, pouco seguros da sua identidade, começámos a afixar o conceito de “pureza”: o apartheid. O apartheid é a lei do bastardo.”
Breytenbach foi preso, em 1975 — julga-se que devido a uma denúncia do ANC, que não confiava nele —, sendo solto apenas em 1982. Esses anos na cadeia constituem o tema de um dos seus livros mais famosos: As Confissões Verdadeiras de Um Terrorista Albino (Editorial Presença, 1987).
O South African Native National Congress (SANNC), a partir do qual se originou o African National Congress (ANC), surgiu em 1912, tendo entre os seus fundadores o filósofo e poeta John Dube e o tradutor e romancista Sol Platje. O primeiro, que, tal como Mandela, era de linhagem real, nasceu em Natal, numa missão protestante, filho de um pastor protestante, e ainda em criança foi enviado para os Estados Unidos para estudar. O segundo traduziu Shakespeare para tswana, a sua língua materna, tendo sido o primeiro sul-africano negro a escrever um romance em inglês — Mudhi.
O combate contra os “bastardos bóeres” e o apartheid foi pois, ao menos no seu início, liderado por intelectuais e aristocratas bantu, com melhor preparação e, sobretudo, muito mais segurança identitária que os seus inimigos.
Nos últimos dias, em Portugal e noutros países, vários comentaristas políticos insistiram numa estranha tese, segundo a qual a transformação de Nelson Mandela, de um fanático comunista, defensor da luta armada, num velhinho simpático, de sorriso largo, que tomava chá com os seus carcereiros e gostava de vestir camisas de seda coloridas, aconteceu como consequência directa dos longos anos em que passou detido. A prisão teria resgatado Mandela, purificando-o, transformando-o no santo que salvou a África do Sul de um banho de sangue. Conclui-se, portanto, que terá sido o próprio regime do apartheid, através do seu aparelho repressivo, quem salvou a África do Sul.
Quanto a mim, tenho grandes dúvidas de que as cadeias purifiquem os homens. Agostinho Neto, para citar apenas um exemplo, foi preso pelo regime salazarista. Sofreu muito na cadeia. Contudo, saiu desse horror, desse castigo, com o mesmo fato cinzento com que havia entrado, o mesmo ar sorumbático, a mesma teimosa aversão ao diálogo. Mal assumiu o poder, esqueceu-se dos anos em que esteve preso, ordenando a prisão e o fuzilamento de largos milhares de angolanos, a maioria dos quais militantes do seu próprio partido.
Ao contrário da tese acima exposta, estou em crer que o processo de transição para a democracia e para uma sociedade mais saudável, restabelecida da paranóia racial, teria sido muitíssimo mais rápido com Mandela em liberdade. Livre, dialogando com o mundo, participando nos grandes debates que agitaram os anos 70 e 80, Mandela teria cumprido na mesma o seu percurso interior de transformação. O regime do apartheid acabaria por encontrar nele, logo naquela época, o adversário aberto, disponível para o perdão e para a negociação, que só veio a descobrir anos mais tarde — muitos crimes mais tarde.
O apartheid não fez de Mandela uma pessoa melhor. O apartheid não melhorou a África do Sul. A resistência contra o apartheid, essa sim, aperfeiçoou o país. Os longos anos de combate contra o regime racista explicam a elevada consciência política, organização e combatividade da actual sociedade sul-africana.
Ao sair da cadeia, naquela manhã de céu baixo, em Franschhoek, no Cabo Ocidental, Mandela foi ao encontro de um país envenenado pelo racismo e pela ditadura, é certo, mas, ao mesmo tempo, muito bem preparado para assumir o seu novo papel de potência democrática regional.
Parece-me importante reconhecer a força e a maturidade dos sindicatos sul-africanos, das igrejas e das organizações não-governamentais. Não menos relevante foi o papel desempenhado pelos intelectuais, e em particular pelos escritores, em todo o agitado processo de debate, de resistência e de consciencialização da sociedade civil. Nadine Gordimer, Prémio Nobel da Literatura em 1991, construiu a maior parte da sua obra reflectindo sobre as distorções provocadas na sociedade sul-africana pelo regime do apartheid e as formas de as superar. O mesmo se poder dizer de J. M. Coetzee, Prémio Nobel da Literatura em 2003. Isto não obstante Coetzee ter vindo posteriormente a trocar a África do Sul pela Austrália, opção seguida, aliás, por um número considerável de bóeres.
A África do Sul complexa e contraditória — por um lado violenta, brutal e rancorosa, e por outro instruída, alegre e maravilhosa —, essa África do Sul que gerou Mandela foi a mesma que engendrou Winnie. É difícil imaginar o que teria sucedido ao país do arco-íris caso Nelson Mandela tivesse seguido o pensamento e a prática política da sua segunda mulher. Winnie, filha de um antigo ministro da Agricultura e Florestas do então bantostão do Transkey, aderiu ao ANC no final dos anos 50, pouco antes de conhecer e de se casar com Nelson Mandela. Também ela esteve presa, por nove meses, em Pretória, tendo passado ainda vários anos em regime de exílio interno. Ao contrário do marido, a passagem do tempo não a amansou. Em 1976, durante uma grande vaga de protestos juvenis, criou a Federação das Mulheres Negras, filiada ao Movimento da Consciência Negra, de Steve Biko, o qual recusava toda e qualquer aproximação ao mundo dos bóeres — inclusive cultural.
Nos anos 80, defendeu publicamente o linchamento dos dissidentes do ANC através do método do colar-de-fogo (necklacing), que consistia em colocar um pneu em chamas em redor do pescoço das vítimas. Muitas pessoas foram mortas por este processo. “Com os nossos fósforos e os nossos colares-de-fogo, libertaremos este país” — afirmou Winnie. Coerente com estas afirmações, terá ordenado, em 1988, o rapto e o linchamento de um jovem de apenas 14 anos, James Seipei. Em 1998, foi ainda acusada de ter ordenado o assassinato do dr. Abu-Baker Asvat, um médico que terá observado o jovem Seipei, em casa da própria Winnie, antes de este ser morto. Julgada e condenada a seis anos de cadeia, pelo assassinato de Seipei, viu a pena ser comutada numa simples multa. Dois anos antes destes acontecimentos, Nelson Mandela separou-se de Winnie, após a revelação de que esta teria tido um affair com um advogado 26 anos mais jovem.
Em 2003, veio a público um novo escândalo, desta vez ligando o nome de Winnie Mandela a um caso de fraude e roubo. Winnie foi condenada a seis anos de prisão. Nessa altura, renunciou aos importantes cargos que ocupava no partido. Mais tarde, foi absolvida das acusações de roubo, mas não das de fraude, e teve suspensa a pena de três anos e seis meses de cadeia. Nenhum destes crimes e escândalos foi capaz de ofuscar a popularidade de que Winnie goza entre vastos sectores da sociedade sul-africana.
Winnie permaneceu ao lado de Nelson Mandela, juntamente com Graça Machel, a sua terceira mulher, enquanto este agonizava. As duas mulheres testemunharam juntas o último suspiro do velho guerreiro.
O Presidente Jacob Zuma foi apupado na passada terça-feira, ao chegar ao estádio FNB, onde decorreram as cerimónias fúnebres de Nelson Mandela. O antigo Presidente De Klerk recebeu meia dúzia de distraídos aplausos. Winnie Mandela, essa, foi acolhida com uma calorosa ovação e uma prolongada salva de palmas. Logo a seguir, Winnie aproximou-se de Graça Machel e cumprimentou-a com um rápido beijo nos lábios, seguido de um longo abraço.
A obstinada popularidade de Winnie Mandela, apesar de todos os escândalos em que esta se deixou envolver, incluindo a traição a Madiba, é um bom indício da força e da popularidade da corrente mais radical do ANC. Uma corrente que, velada ou abertamente, sempre contestou a política de reconciliação nacional defendida por Mandela.
Vinte anos após o colapso do apartheid, os sul-africanos de origem europeia, que representam 9% da população total do país, continuam a viver em situação de privilégio, detendo cerca de 70% da terra arável.
Os teóricos do apartheid defendiam o “desenvolvimento separado”, era assim que lhe chamavam, como a melhor forma de preservar as tradições e as culturas das diferentes etnias radicadas no país. O resultado de tal “desenvolvimento separado” explica a bizarra ignorância mútua que ainda hoje persiste entre as diferentes comunidades. Recentemente, em visita à Cidade do Cabo, fui à procura de álbuns de uma banda chamada The Goema Captains of Cape Town. O goema é um ritmo de carnaval, com forte sabor afro-latino, desenvolvido pela numerosa e politicamente poderosa comunidade mestiça da cidade. Perguntei pela banda a vários amigos meus, indianos, bóeres e anglo-sul-africanos. Nenhum deles a conhecia. Finalmente, um taxista aconselhou-me a falar com os mulatos. “Essa música não é nossa”, disse-me: “É música dos mulatos.”
Nelson Mandela compreendeu que para triunfar sobre o apartheid teria de conseguir que os brancos se aproximassem do mundo dos negros — e vice-versa. No filme Invictus, Clint Eastwood mostra o empenho de Mandela na organização do Mundial de Râguebi na África do Sul, em 1994. Em determinada altura, Mandela, que assumira há pouco a presidência, chama o capitão da selecção sul-africana de râguebi, François Piennar, e explica-lhe que ele e a restante equipa, todos brancos, com a excepção de um dos jogadores, terão de aprender a cantar o Nkosi Sikeleli África, belíssima canção religiosa, composta no final do século XIX, que se tornou o hino da África do Sul. Nelson Mandela consegue o prodígio de convencer a maioria negra, que nunca se interessou por râguebi, um “desporto de brancos”, a encher os estádios para apoiar a selecção sul-africana. A verdade, contudo, é que o râguebi continua a ser na África do Sul um desporto de brancos, o futebol um desporto de negros, o críquete um desporto de indianos e o hóquei em patins um desporto de portugueses.
No país do arco-íris, saído do apartheid, não emergiu ainda nenhum dirigente que possa comparar-se a Mandela. Emergiu, contudo, o seu oposto. Se Madiba é Cristo, o jovem Julius Malema é o anti-Cristo. Nascido em 1984, no Traansvaal, Malema irrompeu, como um tremor de terra, na política sul-africana. Dirigente estudantil, e depois presidente do ANCYL, o departamento juvenil do partido no poder, destacou-se com uma série de comentários violentíssimos, defendendo Mugabe e a sua caótica reforma agrária ou cantando em público um antigo apelo ao assassinato dos bóeres — Dubula iBunu, “atirem nos bóeres” (pode sempre alegar em sua defesa que o Presidente Jacob Zuma fez o mesmo, embora com mais talento, quer como cantor, quer como dançarino). Malema foi um veemente apoiante de Zuma, antes de este alcançar a presidência. Jacob Zuma, de resto, teceu-lhe rasgados elogios, vaticinando que Malema seria “o futuro líder do país”.
O ódio exuberante do jovem Malema e a sua reiterada resistência em acatar as instruções partidárias começaram finalmente a assustar e a irritar outros dirigentes. Expulso do ANC em 2012, Malema criou este ano um novo movimento político, o Economic Freedom Fighters, Combatentes pela Liberdade Económica, que se distinguem à distância pelos vibrantes barretes rubros e a linguagem não menos vigorosa e incendiária. Uma das principais reivindicações de Malema é, precisamente, a questão agrária. O jovem agitador insiste em lembrar uma velha promessa do ANC, a de redistribuir pela população negra 30% das terras hoje pertencentes a brancos.
Pode Malema, o anti-Madiba, alcançar o poder e incendiar a África do Sul, destruindo por completo o sonho do país do arco-íris? Alcançar o poder, talvez, embora tal ambição pareça ainda bastante remota. Estaria — é verdade — dentro da lógica melancólica de um poder que tem vindo a degradar-se em termos de inteligência, coerência e espírito democrático: Nelson Mandela-Thabo Mbeki-Jacob Zuma-Julius Malema. Incendiar o país, contudo, é mais difícil. Veja-se o caso de Zuma, o seu primeiro mentor, também ele considerado um radical. Uma vez no poder, Zuma sossegou. A sua gestão não tem sido, na prática, muito diversa da do seu antecessor, Thabo Mbeki, não obstante as abissais diferenças de estilo e de pensamento (Mbeki tinha estilo e pensamento).
Felizmente, a sociedade sul-africana possui instituições sólidas, testadas em situações difíceis. A África do Sul pode prosseguir o seu caminho sem Nelson Mandela, pode prosseguir inclusive tendo no poder alguém que seja o seu oposto — contando que não permaneça por lá muito tempo.
Muitas dezenas de chefes de Estado e de Governo compareceram às cerimónias fúnebres de Nelson Mandela. Nunca, na história da humanidade, um estadista conseguiu reunir tão largo consenso. Este aplauso unânime pode encorajar outros líderes africanos a seguir o modelo de Mandela, em particular no que diz respeito à valorização do diálogo, ao respeito pelas diferenças, ao aprofundamento da democracia e ao desapego em relação ao poder.
Não é certo, infelizmente, que tal se verifique. Robert Mugabe, um dos ídolos de Julius Malema, também foi acolhido no Estádio FNB — tal como Winnie — com um estrondoso aplauso. Para muitos sul-africanos, para muitos africanos, não parece assim tão absurdo aplaudir ao mesmo tempo Mandela e os seus contrários. Mugabe tem sido criticado por vários sectores em África, em especial pelos movimentos de jovens democratas, mas continua a ser incensado por outros, que olham para ele como alguém que nunca se dobrou às exigências de europeus e americanos.
Mugabe não perdoou nem se reconciliou com os seus compatriotas de origem europeia — vingou-se deles, humilhou-os. Para os admiradores de Mugabe, o eterno Presidente do Zimbabwe mostrou ao mundo que África não precisa dos europeus, muito menos numa altura em que a China e outros países asiáticos se mostram interessados em investir no continente.
O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, fez-se notar pela ausência nas cerimónias fúnebres de Nelson Mandela. Uma doença grave poderia justificar esta falta. O Governo angolano, porém, assegura que José Eduardo dos Santos goza de excelente saúde. Não havendo nenhuma justificativa oficial, a substituição de José Eduardo dos Santos por Manuel Vicente [vice-presidente] no evento com mais dirigentes mundiais por metro quadrado da História recente tem levantado natural especulação. Há quem veja neste gesto uma demonstração de distanciamento em relação a um homem cujo brilho incomodaria outros líderes africanos. Angola, de resto, não decretou luto nacional nem colocou a bandeira a meia haste. O Jornal de Angola, órgão oficial do regime, também não deu particular destaque ao acontecimento. Num exercício de culto de personalidade, que tem vindo a crescer em Angola, a foto escolhida para ilustrar a morte do primeiro Presidente de todos os sul-africanos mostra-o ao lado de José Eduardo dos Santos.
Em Angola, como em Moçambique e noutros países africanos, o legado de Mandela está a ser reivindicado sobretudo pelas camadas mais jovens. São estes jovens, que não conheceram o horror da guerra, nunca estabeleceram compromissos com os partidos armados e se encontram ligados ao mundo através das novas tecnologias de comunicação, quem está hoje a impulsionar o movimento a favor das grandes transformações democráticas.
Durante os próximos anos continuaremos a assistir ao combate entre aqueles que se revêem no exemplo de Nelson Mandela e os que, na prática, se lhe opõem. Mandela só terá verdadeiramente triunfado quando os seus herdeiros triunfarem.
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Veja aqui a prova dos professores

Milhares de professores estiveram esta quarta-feira nas escolas de todo o país para realizar a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, imposta pelo Ministério da Educação. Em muitas escolas a prova não se realizou, mas em grande parte delas tudo decorreu dentro da normalidade.

 
Veja aqui a prova dos professores
A prova (consultar PDF aqui) continha uma componente comum cotada para 100 pontos, e que era constituída por 32 itens de seleção (escolha múltipla) e um item de construção (resposta extensa orientada). Estes itens de escolha múltipla correspondem a 80% da cotação total, sendo os restantes 20% da cotação atribuídos ao item de construção.

Os itens de escolha múltipla requeriam dos professores a identificação e o registo da única opção correta. O item de resposta extensa orientada requeria a produção de um texto compreendido entre 250 e 350 palavras.

Entretanto, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, anunciou hoje que o Ministério da Educação vai marcar uma nova data para a realização da prova de avaliação dos professores. "O Ministério da Educação e Ciência lamenta os casos ocorridos e garante que aqueles que hoje não conseguiram realizar a prova terão direito a realizá-la noutra data", garantiu o secretário de Estado.  
 
 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Morreu o pintor Nadir Afonso

Arquiteto de formação, trabalhou durante dois anos com Oscar Niemeyer
 
Morreu o pintor Nadir Afonso, esta manhã, no Hospital de Cascais. A informação foi confirmada à Lusa por fonte familiar. Nadir Afonso tinha 93 anos e as suas obras estão expostas em museus de todo o mundo.

Nascido em Chaves, em 1920, Nadir Afonso formou-se em Arquitectura, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.


Em 1946, emigrou para Paris, onde estudou pintura na École des Beaux-Arts.

Entre 952 e 1954, trabalhou no Brasil com o arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1954, regressou a Paris, retomando contacto com os artistas orientados na procura da arte cinética. Em Paris, desenvolveu os estudos sobre pintura que denomina «Espacillimité».


De acordo com o site do pintor, Na vanguarda da arte mundial, Nadir Afonso expôs, em 1958, no Salon des Réalités Nouvelles, o trabalho «espacillimités», animado de movimento.
 


Em 1965, abandonou definitivamente a arquitetura, refugiou-se num grande isolamento e acentuou o rumo da sua vida exclusivamente dedicado à criação da sua obra.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O discurso do método do Papa Francisco

O artigo publicado no jornal Público sobre a ação do Papa Francisco é de tal forma profundo que merece uma republicação neste blogue para que, os nossos leitores,  possam também refletir sobre o discurso e o método do atual líder da Igreja Católica.
O texto é da autoria de Frei Bento Domingues O. P. e foi publicado naquele jornal no dia 8 de Dezembro de 2013.
 
O método deste Papa não é o de repetir, mas de inovar e provocar inovações.
 
1. O Papa está a tornar-se a referência dos que precisam de energia espiritual para resistir à idolatria do dinheiro, à tirania dos mercados, à especulação financeira, à economia que mata, às políticas que consideram os doentes e os velhos um estorvo e o desemprego uma fatalidade.
 
Como não há coragem, nem dentro nem fora da Igreja, para o mandar calar de vez, os seus adversários encomendaram a jornalistas e comentadores de serviço, a sua desvalorização: este Papa não diz nada de novo; repete o que está dito e redito, desde o séc. XIX, na Doutrina Social da Igreja, não passa de um populista.
 
Os desconsolados com o Papa Francisco não são contra a solidariedade. Sabem o que fazer para que nunca haja falta de pobres. Insuportável é o método do seu discurso e actuação: convocar toda a Igreja a olhar este mundo a partir dos excluídos, mudar o centro da sua missão para a periferia e organizar-se a partir daí.
 
Sonho, diz o Papa na Exortação Evangelli Gaudium, com a opção missionária capaz de transformar os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial num canal de evangelização e não apenas um instrumento da sua auto-preservação. Pertence ao Bispo promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária na sua diocese. Deverá estimular e procurar um amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir todos e não apenas alguns, sempre prontos a lisonjeá-lo.
 
“Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado. Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe deu e às necessidades actuais da evangelização” (n. 32).
 
O Papa pede o abandono de um critério pastoral muito cómodo e muito usado: “fez-se sempre assim”. Convida todos, sem contemplações, a serem ousados e criativos na tarefa de repensar os objectivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades. Vai mais longe: ”Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia” (n.33).
 
2. Recorre ao Vaticano II para afirmar a hierarquia das verdades da doutrina católica, dado que nem todas têm o mesmo vínculo com o fundamento da fé cristã. Isto é tão válido para os dogmas de fé, como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral (n.36). Invoca S. Tomás de Aquino para dizer que na mensagem moral da Igreja há uma hierarquia nas virtudes e acções que dela procedem. A misericórdia é a maior de todas as virtudes.
 
Esta falta de hierarquia na pregação e na catequese gera distorções muito graves. É o que acontece quando se fala mais da lei do que da graça, mais da Igreja do que de Jesus Cristo, mais do Papa do que da palavra de Deus (n.37-38). A defesa de uma doutrina monolítica não respeita a riqueza inesgotável do Evangelho. Impõe-se um constante discernimento para não atravancar o caminho com mensagens e costumes que já não são um serviço na transmissão do Evangelho: não tenhamos medo de os rever! Realça, na linha de Tomás de Aquino, que os preceitos dados por Cristo e pelos apóstolos ao povo de Deus são pouquíssimos, para não tornar pesada a vida aos fiéis nem transformar a nossa religião numa servidão. A misericórdia de Deus quis que ela fosse livre. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. (n. 43-47)
 
3. É para chegar a todos, sem excepção, que a Igreja assume este dinamismo missionário. Mas, a quem deverá privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto os amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo os pobres e os doentes, aqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, aqueles que não têm como retribuir (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é o sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar, sem rodeios, que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Nunca os deixemos sozinhos! (n. 48)
 
Prefiro uma Igreja ferida e enlameada por ter saído pelos caminhos, a uma Igreja doente de tão fechada sobre si mesma, acomodada e agarrada às suas próprias seguranças. Mais do que o temor de falhar, devemos ter medo de continuar encerrados nas estruturas que nos dão uma falsa protecção, nas normas que nos tornam juízes implacáveis, em hábitos que nos deixem tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta. Jesus repete-nos, sem cessar: Dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6, 37). (49)
Este resumo da primeira parte da Exortação E.G. mostra que o método deste Papa não é o de repetir, mas de inovar e provocar inovações.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Monumento aos portugueses falecidos na Terra Nova junto à sepultura de um pescador ancorense

O cemitério de Monte Carmel em St. John's, na Terra Nova, vai ter um monumento em homenagem aos pescadores portugueses da White Fleet (Frota Branca), falecidos nas águas canadianas.

O monumento em mármore, feito em Portugal, ficará localizado junto à sepultura do pescador Dionísio Esteves, de Vila de Praia de Âncora, falecido em 1966.


 
 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Reforma

 
 
Em Portugal
 
A idade legal da reforma em Portugal ainda está nos 65 anos, mas a idade média efetiva está nos 67,4 anos. É o país da União Europeia em que os trabalhadores mais prolongam a sua vida ativa.
 
A idade legal de acesso à aposentação em Portugal está ainda nos 65 anos (66 anos em 2014), mas em média os homens portugueses mantêm-se a trabalhar até aos 68,4 anos e as mulheres até aos 66,4 anos (média de 67,4 anos). Apenas os mexicanos, coreanos, chilenos, islandeses e japoneses o fazem mais tarde, segundo mostram os dados da OCDE.
 
Portugal está longe de ser o país da OCDE onde a idade legal da reforma é mais elevada (há já quem aponte para os 66 e mesmo 67 anos), mas o país é onde as pessoas mais prolongam a vida ativa, mantendo-se em funções muito para além do tempo necessário para anular o efeito do fator de sustentabilidade, que exige atualmente mais seis meses.

Na Alemanha

A CDU (direita alemã) e o SPD (socialistas alemães) insistiram nas suas propostas sobre este tema. A partir de 2014, as mulheres que tiveram filhos antes de 1992 vão receber um bónus nas reformas, como desejava a CDU-CSU. Os assalariados de 63 anos que descontaram 45 anos podem pedir a reforma sem serem penalizados, como exigia o SPD (a idade actual da reforma é aos 65 anos). A primeira medida vai custar 6,6 mil milhões de euros por ano, a segunda cinco mil milhões. A partir de 2017 os que têm salários baixos terão uma pensão de pelo menos 850 euros por mês.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Juízes reconhecem "interesse público" nas 40 horas de trabalho

                                                                                                                                     foto Pedro Rocha/Global Imagens
Juízes reconhecem "interesse público" nas 40 horas de trabalho
Os juízes admitem que a mudança da lei "frustra expetativas bem fundamentadas" e que o aumento do horário de trabalho é "passível de gerar ou acentuar dificuldades" aos cidadãos
 
O Tribunal Constitucional considerou que o aumento do horário de trabalho da Função Pública de 35 para 40 horas semanais visou salvaguardar interesses públicos de "grande relevo", apesar do sacrifício causado aos trabalhadores.
 
No acórdão que declara a constitucionalidade da norma que aumenta de 35 para 40 horas semanais o horário de trabalho da função pública, o TC atendeu a argumentos expostos pelo Governo PSD/CDS-PP na exposição de motivos do diploma, no quadro da "situação de crise económico-financeira".
Para o TC, "resulta claro que um dos principais propósitos das medidas" é "uma certa flexibilização do regime laboral dos trabalhadores em funções públicas, tendo também em vista a contenção salarial e a redução de custos associados à prestação de trabalho fora do período normal".

"E, em face da situação de crise económico-financeira, é de atribuir grande peso valorativo a esses objetivos de redução da remuneração do trabalho extraordinário e de contenção salarial, associados ao aumento do período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas", refere o acórdão, publicado esta segunda-feira à noite no "site" do TC.

Na presente situação, o TC conclui que "os interesses públicos a salvaguardar, não só estão claramente identificados, como são indiscutivelmente de grande relevo".

Assim, "ainda que não se ignore a intensidade do sacrifício causado aos trabalhadores em funções públicas", devido à alteração da lei, "a verdade é que, a existirem expectativas legítimas relativamente ao regime anteriormente em vigor, ainda assim não resulta evidente que a tutela das mesmas devesse prevalecer sobre a proteção dos interesses públicos que estão na base da alteração legislativa".

"Ora, não poderá deixar de assinalar-se que a medida de aumento do período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas visa a salvaguarda de interesses públicos relevantes", refere o acórdão, que aduz alguns dos argumentos da exposição de motivos da proposta de lei.

Por um lado, o "alargamento dos horários de funcionamento e atendimento ao público dos serviços da administração não poderá deixar de considerar-se como um efeito positivo, não só a nível individual, para cada utente, como em termos globais, para a sociedade".

Além disso, "há também que destacar que as normas impugnadas se apresentam como parte de um 'pacote de medidas' de contenção de despesa pública que constam da Sétima Revisão do Programa de Ajustamento para Portugal constante do Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica, assinado em 2011".

"Tais medidas visam a diminuição da massa salarial do setor público através de restrições ao emprego e a redução da remuneração do trabalho extraordinário e de compensações", nota o TC.

O Tribunal Constitucional recordou que, desde 2004 (e "fortemente acentuada" desde 2008), a legislação caminha para uma "certa laboralização" das leis sobre função pública e defendeu que "não causa surpresa" que, também pela via do aumento do horário de trabalho, "se procure contribuir para o equilíbrio orçamental e a consequente sustentabilidade ao nível da despesa pública corrente".

Contrariamente ao alegado pelos dois grupos de requerentes [deputados do PS e deputados do PCP, BE e PEV], o aumento do período normal de trabalho dos trabalhadores em funções públicas "não constitui uma medida 'inesperada' e ao invés, mostra-se consequente com o conjunto de reformas legislativas da Administração Pública que têm vindo a ser adotadas ao longo dos últimos anos".

"Mas, mesmo que assim não se entendesse, haveria que ter em conta que só é inadmissível a frustração da confiança quando ela não seja justificada pela salvaguarda de um interesse público que deva considerar-se prevalecente", argumentou o TC.

Os juízes admitem que a mudança da lei "frustra expetativas bem fundamentadas" e que o aumento do horário de trabalho é "passível de gerar ou acentuar dificuldades" aos cidadãos, nomeadamente a "conjugação lograda entre a vida privada e familiar e a vida laboral" ou o direito à fruição da cultura.
No entanto, contrapõem, "pode argumentar-se que a tutela constitucional da confiança, por sua natureza, não pode ser considerada entrave a qualquer alteração legislativa passível de frustrar expetativas legítimas e fundamentas dos cidadãos".

"De facto, só poderá utilizar-se a ideia de proteção da confiança como parâmetro constitucional nas situações em que a sua violação contraria a própria ideia de Estado de Direito, de que aquela constitui um corolário", o que não aconteceu, na avaliação da constitucionalidade do aumento do horário de trabalho.

Ler mais em http://www.jn.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=3553418

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Comissão Europeia diz que nova rede de escolas profissionais está atrasada

O relatório aponta o atraso do Governo e diz que as escolas profissionais de referência só vão arrancar depois de Setembro de 2014. 
  
A nova rede de Centros de Ensino Profissional está atrasada e as escolas profissionais de referência não vão estar a funcionar antes de Setembro de 2014.
Isto porque - de acordo com o relatório da Comissão Europeia das 8º e 9º avaliações do Programa de Ajustamento que é hoje divulgado - o Governo, que tem vindo a apostar na via profissional do ensino, ainda está a desenhar a legislação e a negociar protocolos com as empresas para criar programas de estágios para os alunos.
Esta nova rede vem substituir o programa de Novas Oportunidades, uma das bandeiras do governo de José Sócrates, que foi extinto.  No entanto, alguns dos 423 CNO que estavam em funcionamento - em escolas públicas, em centros de formação profissional do IEFP ou em autarquias - foram fundidos com escolas de ensino profissional e foram assim criados os Centros Nacionais para o Ensino Profissional. Este ano estão 120 Centros a funcionar mas o programa está a ser redesenhado pelas tutelas da Economia e da Educação.
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: A Rapariga das Laranjas

 
A Rapariga das Laranjas é nada mais, nada menos do que uma carta que um pai escreve ao filho que não poderá ver crescer. É ainda o relato na primeira pessoa de uma história de amor que, à primeira vista, parece impossível mas que afinal não o é. É ainda um apelo à vida e ao proveito de todos os momentos ao máximo.
 
A história começa quando os avós de Georg lhe entregam uma carta escrita pelo seu pai 11 anos antes, quando estava prestes a morrer. O seu pai morreu quando ele tinha apenas 4 anos e, por isso, poucas memórias tem dele. De facto, ao princípio este não percebe o intuito daquela carta, que tanto sofrimento lhe traz. Mas à medida que a lê, apercebe-se que aquela é mais uma lição de vida que seu pai está a tentar ensinar-lhe, provavelmente a única.
 
Pormenor a pormenor, o seu pai vai descrevendo uma história de amor difícil e misteriosa. Mais misterioso é o inicio e o decorrer da historia, acabando por ser trágica.
 
Tudo começa quando, num eléctrico, Jan Olav repara numa jovem rapariga que transportava um enorme saco de laranjas, vestida com um anoraque amarelo. Mas após uma troca de olhares, ele comete o erro de a tentar “socorrer”, acabando porém por fazer tombar o saco das laranjas. A partir daí nasce um fascínio inexplicável, mas mútuo, entre a rapariga e o rapaz. A partir daí ele faz de tudo para a encontrar, tentado desesperadamente que isso acontecesse. 
 
Foi assim que lhe foi contando grande parte das suas tentativas, mesmo as mais humilhantes e frustradas, as suas esperanças, os seus desejos, desconfianças (algumas bem absurdas), medos, ansiedades, sentimentos, tudo para encontrar aquela enigmática rapariga das laranjas… Depois disto voltaram a encontrar-se num café onde trocaram apenas olhares. Conseguiu encontrá-la num mercado, a escolher laranjas… e uma vez mais isto fez nascer novas suspeitas nele. Viu-a ainda na missa de Natal. No final, conversaram, com a chuva caindo sobre eles, numa conversa enigmática, rigorosa, com regras que mesmo sem serem expressados, ambos sabiam que existiam.
 
Durante essa conversa, ela propõe-lhe um acordo: o único possível acordo entre eles. Se ele estivesse disposto a esperar por ela durante 6 meses, então poderia estar com ela todos os dias dos 6 meses seguintes.
 
Assim, ele ia-se alimentando da esperança de mais tarde poder estar com ela. Porém, quebra o acordo e, no seguimento de uma suspeita que, embora fundamentada não deixava de ser arriscada, viaja até Espanha. 
 
Aí encontra a rapariga das laranjas e, ao longo de uma conversa, desvendam todos os mistérios acabando por se envolver mais seriamente. Pouco tempo depois casam e acaba por nascer Georg. Tudo isto é descrito na carta mais pormenorizadamente.
 
Em comum, Georg descobre o interesse pelo espaço, pela ciência, que tanto fascinava o seu pai também.
 
Ao longo da carta ele vai mencionando alguns factos da sua vida com a mãe de Georg e posteriormente com ele também.
 
A carta é longa e Georg faz algumas pausas nas quais sai do quarto e se depara com a ansiedade e as perguntas dos familiares curiosos. Porém, este apenas lhes comunica que sim, poderão ler a carta, mas apenas passada uma semana… para ele ter tempo de reflectir sobre a mensagem que o pai lhe tentou transmitir e, também, responder à pergunta que ele lhe colocou: “Uma passagem breve pela Terra cheia de felicidade, mesmo sabendo que um dia iria morrer ou recusaria a oferta logo à partida?”
 
 
                  Autor: Jostein Gaarder
Titulo: A Rapariga das Laranjas
 Editorial Presença
 

 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: "A dama das Camélias"

 
Margarida Gautier é a mais famosa e cobiçada cortesã parisiense, Armand Duval, um jovem aristocrata com um futuro promissor. A história de amor destas duas personagens, vivida, contra os preconceitos da época, na Paris do século XIX, foi inspirada na própria paixão do autor pela cortesã Marie Duplessis, que para além de Dumas foi amante de Franz Liszt e de outros homens notáveis antes de morrer de tuberculose, aos 23 anos. A Dama das Camélias é, pois, uma elegia e um cântico ao amor que deu origem, não só à adaptação teatral feita pelo próprio Dumas, como a uma das mais famosas óperas de Verdi - La Traviata - e a dezenas de adaptações para filmes e telefilmes. De Sarah Bernhardt a Greta Garbo, a trágica Dama das Camélias já assumiu mil belos rostos para simbolizar essa dádiva universal que é o amor.
 
Nome: “A Dama das Camélias”

Autor: Alexandre Dumas

Nº de Páginas: 208

Editora: book.it

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Arroz doce à moda d'Âncora


Ingredientes para 8 taças:
  • 500 gr de arroz carolino (usei Saludães para arroz doce)
  • 300 gr de açúcar
  • 500 ml de água
  • 800 ml de leite
  • açúcar baunilhado a gosto
  • casca de limão
  • pau de canela
  • pitada de sal
  • 6 gemas
  • 1 boa colher de manteiga
 


Preparação:

Num tacho deitar a água, o arroz e a pitada de sal. Levar ao lume mexendo de vez em quando até que a água fique quase completamente evaporada.

Acrescentar o leite, a manteiga, o pau de canela e a casquinha de limão (só o vidrado). Deixar cozer o arroz. Se achar que está muito seco junte um pouco mais de leite quente.
Quando estiver quase cozido, juntar o açúcar e o açúcar baunilhado. Deixar que o açúcar esteja bem envolvido e derretido.
Retirar a casca de limão e o pau de canela. Juntar as gemas batidas com um pouquinho de leite e passadas por um coador.
Atenção esta operação é muito delicada pois não se devem deixar cozer os ovos.
Deita-se em travessas ou em pratinhos individuais.
Enfeita-se com canela em pó.
 
 


Alunos de cursos profissionais quadruplicaram numa década


 
O número de alunos no ensino profissional quase quadruplicou numa década em Portugal, mas está ainda aquém da média dos países da União Europeia e muito longe dos países mais desenvolvidos, segundo dados da Pordata.
 
Em 2011, havia 440 000 alunos no secundário em Portugal, dos quais 198 085 seguiam a via geral e 110.462 o ensino profissional, um número que em 2001 se ficava pelos 30.668 alunos, num universo total de 413.748 alunos.
 
A estes juntam-se ainda os 15 288 (65.971 em 2001) alunos dos cursos do ensino técnico- profissional, os 18 669 dos cursos de aprendizagem, que começaram apenas em 2009, os 2.177 em cursos de educação ou formação (iniciados em 2003) e os 96 274 (74.657) no ensino recorrente.
 
Os dados da Pordata - base de dados organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos- registam ainda uma quebra no número de alunos do ensino recorrente nos últimos dois anos, que passou de 169.190 em 2009 para os 96.274 em 2011, e está relacionado com o fim do programa Novas Oportunidades.
 
Os números mostram igualmente que entre 2001 e 2011, os cursos técnico-profissionais diminuíram de cerca de 66.000 para 15.000 alunos, [muitos dos cursos foram redefinidos, passando a ensino profissional].
 
Juntando os alunos do ensino profissional e dos cursos técnico-profissionais, o aumento registado é menos expressivo, passando de 96.000 alunos em 2001 para 126.000 alunos em 2011.
 
Por outro lado, nestes 10 anos o número de alunos na via geral de ensino caiu de 242.452 para 198 085.
 
Estes dados servirão de base a uma conferência sobre esta área de ensino promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que pretende abordar os caminhos a seguir no ensino profissional em Portugal bem como analisar as respostas a dar em matéria de formação aos jovens que não entram nas universidades e que este ano foram cerca de 60 mil.
 
Para Carlos Fiolhais, responsável pelo programa de Educação da Fundação e mediador da conferência, estes dados revelam que em matéria de ensino profissional ainda não se progrediu o suficiente em Portugal.
 
Em termos europeus, dados do Eurostat relativos a 2009, colocam Portugal no grupo de países com maior percentagem de alunos na via académica de ensino, 62 por cento, contra 38 por cento para a via vocacional (que engloba a generalidade de cursos mais ligados ao mercado de trabalho).
 
Desde então, esta realidade tem melhorado, segundo Carlos Fiolhais, devendo a percentagem portuguesa rondar atualmente os 40 por cento, enquanto a média europeia, que em 2009 era de 50 por cento para cada via de ensino, ultrapassa já esse valor.
 
«Há um grande aumento nesta modalidade de ensino, mas estamos ainda aquém do que é a média europeia. A média europeia tem mais ensino profissional que nós. Conseguimos chegar quase a metade [dos alunos do secundário], mas eles têm mais de metade», disse Carlos Fiolhais.
 
A diferença é ainda maior quando a comparação é feita com os países mais desenvolvidos da Europa, como a Alemanha - cujo sistema está a ser adotado de forma experimental em Portugal - e que tem 53 por cento de alunos do secundário no ensino vocacional.
 
Para Carlos Fiolhais, a aplicação do sistema alemão - em que parte da formação é feita na escola e outra em trabalho nas empresas - esbarra com a fragilidade do tecido empresarial português e com a falta de articulação entre escolas e empresas.
 
«Um dos problemas da escola portuguesa é que está muito distante das empresas», considerou.
Mas, para Carlos Fiolhais, a questão mais preocupante é sermos o país europeu com a menor percentagem de pessoas que completaram o secundário na faixa etária dos 25 aos 64 anos, ou seja, pessoas que se encontram no mercado de trabalho.
 
A taxa portuguesa situa-se nos 37,6 por cento, enquanto a média europeia é 74,2 por cento.
 
«Este é que é o grande drama nacional: pessoas pouco qualificadas não produzem riqueza suficiente», considerou Carlos Fiolhais, para quem é um imperativo qualificar mais jovens.
 
«Temos que qualificar mais jovens e, se olharmos para o exemplo europeu, o ensino profissional é a melhor via para isso», concluiu.
 
Diário Digital com Lusa

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: "O Enigma e o Espelho"

 
O Natal está à porta. Uma doença grave prende Cecilie à cama e impede-a de desfrutar, por antecipação, os seus esquis que aguardam a sua convalescença debaixo da árvore de Natal. Entretanto começa a receber a visita de um novo e estranho amigo que mais ninguém vê. Um amigo que é a sua imagem ao espelho, durante o período em que frequentava as sessões de quimioterapia.

Da solidão do seu quarto, Cecilie tenta seguir, valendo-se da audição, os preparativos para a festa de Natal, no andar inferior.

Gradualmente, apercebe-se de algumas ligeiras mudanças na rotina e o estado emocional dos seus familiares que tentam passar o máximo tempo possível na sua companhia.

Cecillie está contudo cada vez mais ligada ao seu amigo imaterial e cada vez mais curiosa em relação ao mundo do lado de lá do espelho.

Os seus apontamentos, reflexões resultantes dos diálogos com Ariel, o anjo da dor, ou com os seus familiares vão se acumulando....

A magia, a beleza melancólica dos contos de Andersen estão presentes nesta magnífica obra literária, cheia de candura e melancolia que, levada pelas asas da imaginação de Cecilie, nos leva a viajar pela belíssima paisagem do Inverno norueguês, gelada, como a vida da adolescente após as idílicas férias com a família na soalheira ilha de Creta...

Os diálogos de Cecilie e Ariel são dotados de elevado dinamismo, caracterizados por frases curtas que estimulam a reflexão e estimulam o pensamento dialéctico.

O editor afirma que a época em que decorre este lindíssimo conto com cheiro a Natal "propicia o encontro entre o eterno e o temporal..." e que o diálogo em que Cecilie é conduzida por Ariel transporta-nos "numa teodisseia que, à luz da maiêutica socrática", indaga sobre os mistérios da existência, da criação da vida antes do nascimento e depois da morte.

De facto, Cecilie e Ariel conseguem, a dada altura, resolver a principal questão debatida por Sócrates em "Fédon": a vida depois da morte.

Cecílie abandona a borboleta oferecida num gesto de amizade, borboleta que é o símbolo das alegrias terrenas e da efemeridade, voa com Ariel pelas alturas e distancia-se cada vez mais da realidade, permanece no mundo do lado de lá do espelho, legando à família os seus apontamentos.

Um livro sublime, cujo argumento de que “vemos tudo através de um espelho”, faz lembrar a teoria das formas de Platão.

De alto teor emotivo, destinado a todas as idades, é um livro essencialmente metafórico, cuja polissemia faz com que seja equiparado a "O Principezinho" de Antoine Saint-Exupery.
 
O Enigma e o Espelho
Jostein Gaarder
Edição/reimpressão: 1999
Páginas: 136
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722321709

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Livros que valem a pena: O Curioso Iluminismo do Professor Caritat

O subtítulo promete uma comédia de ideias e é isso que temos: Steven Lukes passa em revista as principais filosofias políticas atuais através da figura do professor Caritat, que percorre vários países em busca daquele que apresenta o sistema perfeito. Caritat é professor universitário de filosofia política, sendo a sua especialidade o Iluminismo. Infelizmente, vive numa ditadura militar e acaba por ser preso. É depois da sua rocambolesca fuga que começa a percorrer vários países em busca do melhor sistema político. Os países que percorre encarnam as diversas filosofias políticas atuais: o utilitarismo, o comunitarismo relativista, o marxismo e o liberalismo económico desenfreado. Uma questão literariamente interessante é a de saber se podemos considerar este livro um exercício de ironia ou uma sátira. Na verdade, parece por vezes que a deformação grotesca de alguns aspetos das doutrinas políticas nele descritas aproxima o romance perigosamente da sátira, afastando-o do exercício civilizado da ironia.
 
A galeria de personagens é, como convém numa obra deste género, povoada por personagens-tipo, representações de personagens típicos, e não por personagens com qualquer profundidade psicológica. O efeito é extremamente cómico e os próprios nomes dos personagens estão sempre relacionados com aquilo que eles representam. Outro aspeto interessante é o facto de o país marxista surgir não como um país que existe realmente, mas como um sonho que o prof. Caritat tem durante uma viagem de comboio. Significa isto que Lukes considera o marxismo impossível de alcançar? Talvez. Mas, nesse caso, subsiste a dúvida académica: SE o marxismo fosse possível, seria desejável? Acho que as perguntas insistentes que Caritat faz aos habitantes do país marxista mostram que a resposta é negativa.
 
Os capítulos talvez mais informativos para o leitor português são os dedicados ao relativismo. O relativismo é uma doença da civilização que se tem propagado mais depressa do que o vírus da SIDA. E o problema é que não só os seus partidários, mas toda a gente, parece estar convencida de que o relativismo é uma doutrina magnífica. Na verdade, o relativismo é uma forma disfarçada de ditadura, como Lukes mostra muito bem nesta obra.
 
A narrativa é muito humorística mas sempre impassível, descrevendo o maior dos absurdos como se fosse coisa de somenos — uma espécie de Kafka alegre. O único aspeto que me parece fazer perigar a economia do romance são os diálogos do princípio do livro com vários personagens históricos da filosofia política. Esses diálogos não têm, tanto quanto consegui perceber, qualquer papel digno de nota — aparentemente estão lá só porque sim. Mas o leitor não deve desistir da leitura ao deparar-se com esses diálogos; o resto do romance vale bem esta pequena deselegância inicial. (Desidério Murcho)
 
O Curioso Iluminismo do Professor Caritat Uma Comédia de Ideias, de Steven Lukes
Tradução de Teresa Curvelo
Gradiva, 1996, 247 pp.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Escola Profissional de Aveiro tem taxa de 80% de garantia de emprego

A Escola Profissional de Aveiro cresce a um ritmo alucinante e tem mais 600 alunos no novo ano letivo. Mesmo assim, a direção garante que, após o final do curso, "nenhum aluno fica parado e sem ocupação".
Escola Profissional de Aveiro tem taxa de 80% de garantia de emprego
 
foto José Mota / Global Imagens
Aulas práticas são uma marca da Escola Profissional de Aveiro
 
Paixão. Jorge Castro, administrador da Escola Profissional de Aveiro (EPA), revela que a "paixão pelo que se faz" é a receita do grande sucesso da escola que dirige. Com 1200 alunos (600 dos quais acabados de chegar há cerca de um mês), a EPA colabora com mais de 500 empresas e garante um futuro risonho aos jovens que ensina. Um modelo de ensino diferente, que dá frutos no mercado de trabalho.
"A taxa de empregabilidade é superior a 80%. Os restantes alunos vão para o ensino Superior, para cursos de formação tecnológica, estágios ou para projetos de voluntariado. Mais do que emprego, queremos as pessoas ocupadas. E é isso que acontece", conta Jorge Castro. 
 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Emprego em 6 meses para 70% dos alunos do ensino profissional

Empregabilidade de alguns cursos subiu com a crise. Empresas preferem contratar técnicos em vez de licenciados
Erika Nunes
 
 
foto Tiago Silva/Global Imagens
Emprego em 6 meses para 70% dos alunos do ensino profissional
Ensino Profissional ganhou novo fôlego com a crise
 
Há cursos cuja empregabilidade aumentou 20% no último ano. A procura dos jovens pelo Ensino Profissional, para conseguir terminar os estudos e ter saídas profissionais, também cresce.
O objetivo do Governo é chegar aos 50% de alunos do Ensino Secundário inscritos no Ensino Profissional e estes já são 40 mil - cerca de 40% do total - matriculados em aproximadamente 200 escolas profissionais. Ao fim de 25 anos de experiência, o Ensino Profissional garante que já conquistou o "respeito da comunidade e dos parceiros, nomeadamente as empresas onde são feitos estágios integrados nos cursos", pela formação abrangente - como no ensino regular - e pela componente técnica e prática que dá "vantagem aos alunos na hora de arranjar emprego ou prosseguir estudos superiores". De acordo com Luís Costa, diretor-executivo da Associação Nacional de Escolas Profissionais, "os dados disponíveis indicam uma taxa de empregabilidade, seis meses depois da conclusão da formação, superior a 70%".

Texto retirado de http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/interior.aspx?content_id=3524702

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ilustres Ancorenses: Almirante Jorge Maia Ramos Pereira (Patrono do NRA - Núcleo de Radioamadores da Armada)

 
Filho do médico Luís Ramos Pereira, nasceu em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha, a 6 de Abril de 1901.

Frequentou o Colégio Militar e, após dois anos de serviço no Exército, ingressou na Escola Naval, onde concluiu o curso de Marinha como primeiro classificado.

Promovido a Guarda-Marinha em Fevereiro de 1924, efetuou vários embarques como oficial subalterno, dos quais se destaca uma comissão no Extremo Oriente, entre 1930 e 1932, a bordo do cruzador "Adamastor". Nessa comissão começou a revelar um grande interesse pelas radiocomunicações, tendo sido louvado pela sua ação técnica na direção da instalação elétrica e dos equipamentos rádio do navio.

Foi colocado na Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em Outubro de 1932. Ali viria a passar cerca de 21 anos, apenas interrompidos por duas comissões de embarque como Imediato dos contratorpedeiros "Lima" e "Douro", entre 1935 e 1936. Durante esse longo período, desenvolveu um significativo trabalho no desenvolvimento das comunicações rádio, dirigindo a construção e experimentação de novos equipamentos (atividade em que se valeu da sua experiência de radioamador) e organizando cursos para oficiais, sargentos artífices e praças. Entre as várias publicações técnicas que elaborou, destaca-se um compêndio de radioeletricidade editado em 1952, que serviu de base de apoio a vários cursos. Foi também responsável pela reorganização e modernização, em equipamento e instalações, da rede de estações radionavais da Marinha.

Passando, sucessivamente, pelos cargos de Secretário, Subdiretor e Diretor, deixaria a Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em Fevereiro de 1954, já como Capitão-de-Fragata, para exercer o comando do aviso de 2ª classe "João de Lisboa", enviado em missão de soberania à Índia portuguesa, por ocasião das graves perturbações ali ocorridas naquele ano.

Regressado à Metrópole em 1956, ano em que foi promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra, passou pelo Estado-Maior Naval, antes de ser enviado a frequentar o Naval Command Course no United States Naval College.

Em Junho de 1958 foi nomeado Subdiretor do Instituto Superior Naval de Guerra, ascendendo a Diretor, já no posto de Comodoro, no início de 1960. Empreende, então, profundas alterações na organização e nos curricula daquele Instituto, tendo sido responsável pela sua mudança para as instalações definitivas, na Rua da Junqueira. Promovido a Contra-Almirante em Julho de 1960, viria a pedir a sua demissão na sequência de um discurso do Ministro da Marinha, aquando da abertura solene do ano letivo 1961-62, que considerou atentatório do seu brio profissional.

Passa à Reserva em Abril de 1966, tendo, ainda, exercido as funções de Diretor do Museu da Marinha, entre 1968 e 1971. Em Outubro de 1969 chega a ter alguns assomos de atividade política, candidatando-se a deputado por Viana do Castelo na lista da Oposição Democrática.

Nos últimos anos da sua vida desenvolveu uma intensa atividade intelectual, quer na vertente técnico-científica quer, principalmente, na vertente cultural. Foi um dos dez fundadores do Centro de Estudos de História Marítima, mais tarde designado por Centro de Estudos de Marinha, que daria, em 1978, origem à Academia de Marinha.

Entre os vários trabalhos que publicou, maioritariamente de cariz técnico, avulta, no campo da História, um estudo sobre a vida de Gago Coutinho, que publica em 1973. Também se debruçou sobre a figura de Fontoura da Costa, sendo ainda de mencionar o seu interesse pelo património arquitetónico da Marinha.

Faleceu em Lisboa, no Hospital da Marinha, na sequência de um carcinoma estomacal, no dia 16 de Março de 1974.
 
 

Em 1982 foi, a título póstumo, agraciado pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem da Liberdade. A sua memória foi ainda homenageada com a atribuição do seu nome à estação radionaval da Apúlia (hoje desativada) e no busto evocativo da sua memória na Praça da República em Vila Praia de Âncora que lhe ficou eternamente grata pelo seu papel de filantropo em prol das famílias mais carenciadas desta freguesia.