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segunda-feira, 27 de julho de 2009

A utopia da democracia!

Portugal entrou na contagem decrescente para a celebração de três comícios eleitorais que, à partida, tendem em centrar-se – como sempre – no discurso anti-governo. Nada disto é novidade para os portugueses, bem-intencionados, que acreditam viver em democracia.
O Boletim Informativo da nossa autarquia representa, por exemplo, o caso mais acabado dessa miragem que é a democracia e o seu espírito: as oposições e as suas propostas não cabem no auto-elogio que constitui dita publicação; os diversos órgãos autárquicos não têm enquadramento e/ou referência ao seu trabalho; por último, e de mau gosto transformando a democracia numa caricatura, o aparecimento de três munícipes sinceros a dizerem bem dos projectos da autarquia. Por azar ou sorte, nunca apareceu nenhum que tivesse uma ideia diferente da Presidente da Câmara.
A campanha eleitoral para as eleições europeias ficou confinada à discussão da crise nacional e da avaliação da prestação do governo da nação. Ninguém quis discutir a Europa de forma séria e concreta. Pelo meio, aparecem os xenófobos, racistas, monárquicos e outros a misturarem temas, numa perspectiva nacionalista, que nada tem a ver com o objectivo da construção europeia.
Aquilo que concluímos, é que efectivamente o nosso país – e provavelmente outros – nunca viveu um regime democrático mas sim num sistema partidocrático. Tudo o que importa é o poder e o partido político que o exerce!
Vejamos, estudos realizados por insuspeitáveis cientistas políticos colocam a percentagem de votantes num determinado partido político entre os 30% e os 40% do seu eleitorado tradicional. Quer dizer, existem uma percentagem fixa de eleitores que, independentemente de quem é o candidato, a equipa ou as suas ideias… vota sempre nesse partido. É uma visão clubística da política em que se olha para as eleições como um jogo de uma final da taça de um desporto colectivo qualquer. Estes eleitores, têm por hábito dizer mal das características pessoais dos outros candidatos, quando se cruzam em campanha com eles costumam tratá-los vernaculamente, bajulam o seu candidato e tendem a olhar os que pensam diferente como inimigos.
Esta é uma característica da partidocracia: ter amigos e ter inimigos. Em democracia, haveriam adversários políticos, ou seja, a arte da política era praticada por gente de bem que, com perspectivas diferentes sobre a governação, deseja o bem do seu povo.
Mas, se até aqui falámos da partidocracia relativamente ao eleitorado, desenganemo-nos porque ela é alimentada pelos próprios políticos a quem o 25 de Abril deu a oportunidade de se aburguesarem e se esquecerem do carácter popular da sua acção transformando-a numa forma de vida bem paga, com muito poder e amigos que permitem dar asas à sua vaidade. Por isso, assistimos a autênticos abortos políticos como o da Madeira, a forma prepotente como os autarcas tratam os seus munícipes - e a justiça - desdenhando e falando mal dela, o equilíbrio nacional entre escândalos permitindo sempre negociatas que o tempo e a comunicação social ajudam a esquecer… A política é tão má que, na hora das eleições, todos lutam por manter o seu lugar! Olhar para a nossa política nacional e ver sempre os mesmos desde há trinta anos é tudo menos um hino à democracia. Significa que, entre 10 milhões de portugueses, só meia dúzia são iluminados e capazes de gerir a nação.
Se começarmos nas autarquias, a verificar o que tinha (bens, lazer, viagens, carros…) um presidente de câmara antes de ser eleito ao que tem, ao fim de uns mandatos, ficaríamos corados de vergonha… mas como ouvi alguém dizer um dia “na política, não se pode ter vergonha”! Ao que parece, esta é uma realidade e uma visão tão popular dos nossos políticos actuais que, os pseudo – democratas, preferem chamar-lhe, provavelmente, perspectiva populista e acrescentar-lhe de seguida “e demagógica”.
Concretizar a democracia é um desafio que Portugal teima em não vencer talvez porque, os militares de Abril, foram enganados quando despojadamente entregaram o poder ao “povo”. A grande lição que os portugueses podem dar aos políticos é intervirem mais na sociedade civil e reduzir ao mínimo a intromissão da política no palco social transformando-a numa verdadeira democracia onde os eleitos o são pelo mérito que procuraram e não porque vão escondidos atrás de um nome qualquer, de um partido qualquer para depois fazerem parte da derrota do regime democrático que se chama “disciplina de voto”. Nem todos estamos habilitados a trocar a nossa consciência pelo lugar que “democraticamente” nos espera no regime partidocrático em que vivemos.

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