
Passaram 40 anos de democracia num ápice
vertiginoso. Portugal e o Concelho de Caminha conheceram o seu maior
desenvolvimento do século XX. As comemorações da entrada na meia-idade da nossa
democracia foram sóbrias, formais e pouco festivas. Sinal dos tempos de crise
que vivemos em que os ideais de Abril parecem ter expirado em Maio.
Há quarenta anos atrás, na sequência do 25 de Abril,
o país viveu o primeiro de Maio mais efusivo da história lusa. Momento
irrepetível de camaradagem, fraternidade e solidariedade na exaltação da
nobreza do trabalhador.
O 25 de Abril propôs ao povo português uma mobilização
nacional no sentido de combater as maleitas de um país amordaçado por quatro
décadas de fascismo. Esta mudança assentou num processo conhecido pelo célebre
programa dos 3 D’s: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.
Efetivamente, o país democratizou-se e vivemos hoje
num Estado de Direito democrático porque assenta na vontade popular e no respeito
do pluralismo. Um Estado democrático porque é de Direito, resolve os seus antagonismos
de acordo com o Direito, em respeito pela dignidade da pessoa humana e pelas
regras da ponderação, da adequação e da proporcionalidade.
Na verdade, o nosso país cresceu em todos os
setores: da economia às finanças, da integração das mulheres na sociedade
(emprego, política, empresa), no combate à exclusão social, na proteção
ambiental… Mas infelizmente, a diferença entre ricos e pobres continua longe
dos nossos parceiros europeus.
A democracia, apesar das suas imperfeições e
insuficiências, está definitivamente consolidada no subconsciente coletivo,
embora haja sinais de que não tenha sido ainda integralmente assimilada pelas
elites políticas e económicas.
Esses sinais estão bem patentes em setores como a
justiça (em que o povo assiste incrédulo à inoperância do sistema face aos
poderosos e a acutilância para com os pobres); na educação, com a destruição da
escola e o desmantelamento da profissão do professor; na saúde, onde o sistema
nacional de saúde, uma das grandes conquistas de Abril, está em fase de
decapitação; o trabalho, agora desvalorizado e usado como arma de arremesso
contra a dignidade da pessoa humana que vê o seu salário desvalorizado e vive
na insegurança de um amanhã cada vez mais triste e sem esperança.
A atividade política criou também o seu artifício
linguístico, agora já não existe um controlo da comunicação através da censura
mas antes através das técnicas do marketing político. Assim, “despedir” é
substituído por “reformar”; “baixar salário” passa a dizer-se “ajustamento
salarial”; “aumentar impostos” será antes uma “contribuição solidária”…
Um dos perigos da democracia atual é a descrença e
desconfiança que o povo manifesta em relação aos políticos que, em democracia
foram eleitos para representar a sua vontade mas que claudicam perante o poder
do capital, da finança e do interesse pessoal.
Nesta matéria, parece que os cravos que floriram em
Abril murcharam em Maio. Por isso, é cada vez mais importante uma sociedade
ativa, militante e intransigente na defesa dos ideais de Abril para que, na
realidade, a Revolução triunfe.
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