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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A erosão da nossa costa

 

 
O sector litoral entre Espinho e Caminha coincide com a área em que a linha de costa se desenvolve sobre as rochas do Maciço Hespérico, de constituição granítica ou metamórfica. Este facto tem um papel fundamental na fisionomia da área, uma vez que, com a excepção das embocaduras dos rios, o substrato hercínico está sempre presente, mesmo quando mascarado pela cobertura de areias de praia ou de duna. Esta circunstância impede que os problemas de erosão costeira sejam tão graves como na área entre Espinho e a serra da Boa Viagem, em que a orla costeira assenta em formações pleistocénicas ou holocénicas, pouco consolidadas.
 
Neste sector, a linha de costa apresenta a orientação geral de NNW-SSE. Todavia, o seu carácter quase rectilíneo, num mapa de pequena escala, esconde uma variedade bastante grande, quando observada a uma escala maior.
 
O carácter mais ou menos elevado do relevo envolvente, bem como as características do "bed-rock
", parecem ter influência na maior ou menor extensão da área coberta por formações quaternárias. Assim, parece haver um alargamento dessas áreas em certos sectores xistentos (Apúlia-Aguçadoura, Rio Ave-Rio Donda) e naqueles cujo interland apresenta altitudes menos elevadas.
 
Por sua vez, são os sectores relativamente deprimidos onde as formações quaternárias são mais extensas que comportam um maior desenvolvimento das dunas.
 
Pelo contrário, a cobertura dunar restringe-se, comparativamente, nos sectores mais elevados (veja-se o troço Caminha-Vila Praia de Âncora, onde a plataforma litoral é bastante estreita).
 
Uma breve análise das cartas geológicas de escala 1:50.000 permitiu-nos avaliar a extensão das áreas onde o bed-rock entra em contacto directo com o mar. 
 
Verifica-se que corresponde a 23% do perímetro total estudado.
 
Os sectores arenosos correspondem a mais de metade da área em apreço. É geralmente nesses troços que se observa um maior desenvolvimento de dunas. Para além da duna primária, que raramente se apresenta muito desenvolvida, encontramos, para o interior, dunas fixadas pela vegetação, normalmente por pinhal.
 
Como as praias arenosas estão assentes sobre afloramentos rochosos, a erosão das areias pode fazer aflorar as formações graníticas ou metamórficas do Maciço Hespérico. Desse modo, o troço em questão passa a entrar na categoria de "praia com rochedos". Este processo pode ser ocasional ou estacional, sucedendo durante as tempestades de inverno.
 
Quando os afloramentos rochosos se desenvolvem a cota mais elevada, constituem pontões rochosos circundados por pequenas arribas. 
 
Estes troços rochosos, geralmente pouco elevados, raramente são contínuos. Nas suas reentrâncias instalam-se praias arenosas mais ou menos extensas.
 
Os troços de litoral rochoso, cortando a relativa monotonia dos sectores arenosos predominantes, constituem pontos de interesse paisagístico evidente. Embora sejam pouco elevados, constituem áreas ventosas e sem características balneares. Por isso apresentam fraca ocupação humana e um carácter
ainda relativamente bravio.
 
Pelo contrário, as praias que se situam a sul destes pontões rochosos ficam abrigadas dos ventos dominantes neste litoral (norte e de noroeste), bem como da ondulação de noroeste, o que as torna muito atraentes para os veraneantes. É o caso das praias de Miramar (Senhor da Pedra), Lavadores, Boa Nova e Sampaio (Labruge), dentro da área metropolitana do Porto (AMP).
 
Para norte de Vila do Conde esses afloramentos rareiam e só a norte de Viana do Castelo vamos encontrá-los de novo (Montedor e Gelfa-Forte do Cão).

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Livros que valem a pena: O Príncipe


O livro intitulado "O Príncipe" foi escrito em 1512 por Nicolau Maquiavel, filósofo político italiano, que viveu entre 1469-1527. O príncipe é geralmente visto como uma análise realista e prática do poder político. O livro explica como o poder pode ser ganho e efetivamente praticado. Em outras palavras, é um trabalho clássico sobre estratégia. 

 No seu formato original contém vinte e seis capítulos inter-relacionados e nos quais são tratados temas específicos acerca de questões de estratégia política. A natureza da análise estratégica de Maquiavel é tal que chega a encorajar o uso de armas. De acordo com ele, o fundamento de todos os Estados está predicado nos princípios de "boas leis e boas armas". Dentre os dois, ele parece colocar maior ênfase sobre as armas, sendo que não poderiam existir boas leis onde não existissem boas armas. O livro de Maquiavel é repleto de subtis análises diplomáticas e charadas envolvendo exposições de ações militares e líderes contemporâneos.
 
Ele sugere quase a mesma aproximação ao lidar tanto com questões militares, quanto com a população civil. O livro é enriquecido pelas memoráveis citações políticas que contém. No livro, Maquiavel explica que as apaências são extremamente importantes para a arte do estadismo e o líder não se deve esquecer do bem-estar do seu povo, mesmo que sempre tenha de fazer os seus seguidores dependerem dele.

O livro é anti-moralista porque encoraja o líder a agir contra a fé, contra a caridade, contra a humanidade e contra a religião. Maquiavel argumenta, mais à frente no livro, que o líder deve "ter a mente disposta a adaptar-se de acordo com a direção do vento e as variações ditadas pela fortuna (sorte)". A máxima política comum, "o fim justifica os meios", está enraizada em O Príncipe. Ele afirma que é perfeitamente possível para um líder agir de maneira cruel, e ainda assim aparentar ser um modelo de benevolência à maioria de seus seguidores. Porém, o príncipe deve fazer-se temido de tal maneira que, mesmo sem ter ganho o amor dos seus seguidores, deve manter-se distante do ódio.

O livro é ainda hoje muito valorizado porque apresenta os principais tópicos discutidos na literatura científica em estratégia. A base da análise de Maquiavel é o mundo assim como se apresenta. Este autor, de forma indubitável, põe o foco de análise sob a história antiga, assim como sobre a política italiana contemporânea, fixando, dessa forma, as bases empíricas do seu estudo. Ele claramente percebia o princípio de que o poder cresce distante da dependência dos outros. O livro estabelece que Maquiavel é um ardente nacionalista. O índice, notas e referências ao final do livro dão a esta obra o carácter erudito.

O Príncipe mantém-se tão vivo e chocante hoje quanto o foi há mais de quinhentos anos quando foi escrito. A sua influência no pensamento e história política moderna é profundo.
 
Algumas frases marcantes da obra:
 
  • "[...] quem não prepara os alicerces do poder antes de alcançá-lo com valor pode fazê-lo depois, embora isto represente um grande esforço para o arquiteto, e perigo para o edifício."
    • "(...) todos os príncipes devem preferir ser considerado clementes, e não cruéis. É necessário, contudo, evitar o mau emprego dessa clemência".
    • "Deve se observar, entretanto, que todos devem ser tratados com ternura ou imediatamente eliminados."
    • "Será preciso, contudo, ser cauteloso com aquilo que fizer, e no que acreditar; é necessário que não tenha medo da própria sombra, e que aja com equilíbrio, prudência e humanidade, de modo que o excesso de confiança não o torne incauto, e a desconfiança excessiva não o faça intolerante".
    • "Aqui existe grande valor no povo, enquanto ele falta nos chefes. Observei nos duelos e nos combates individuais o quanto os italianos são superiores na força, na destreza ou no engenho. Mas, quando se passa para os exércitos, não comparecem. E tudo resulta da fraqueza dos chefes, porque aqueles que sabem não são obedecidos, e todos julgam saber, não tendo surgido até agora alguém que tenha sabido instigar-lhes o valor".
    • "Chegamos assim à questão de saber se é melhor ser amado do que temido. A resposta é que seria desejável ser ao mesmo tempo amado e temido, mas que, como tal combinação é difícil, é muito mais seguro ser temido, se for preciso optar".
    • "(...) Pode-se dizer dos homens, de modo geral, que são ingratos, volúveis, dissimulados; procuram se esquivar dos perigos e são gananciosos".
    • "Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha".
    • "Não obstante, o príncipe deve fazer-se temer de modo que, mesmo que não ganhe o amor dos súbditos, pelo menos evite o seu ódio".
    • "Note-se que é preciso tratar bem os homens ou então aniquilá-los. Eles se vingarão de pequenas injúrias, mas não poderão vingar-se de agressões graves; por isso só podemos injuriar alguém se não temermos sua vingança."
    • "Os homens mudam de governantes com grande facilidade, esperando sempre uma melhoria. Essa esperança os leva a se levantar em armas contra os atuais. E isto é um engano, pois a experiência demonstra mais tarde que a mudança foi para pior."
    • "Justa, verdadeiramente, é a guerra quando necessária, e piedosas as armas quando apenas nas armas repousa a esperança."
    • "Não é de pequena importância para um príncipe a escolha dos seus ministros. E a primeira conjetura que se faz, a respeito das qualidades de inteligência de um príncipe....... Quando estes são competentes e fiéis (ministros), pode-se reputá-lo sábio, porque soube reconhecer as qualidades daqueles e mantê-los fiéis.... Mas quando não são assim, pode-se ajuizar sempre mal do senhor, porque o primeiro erro que cometeu está nessa escolha."
    • "É mais benéfico aparentar ter boas qualidades do que tê-las realmente."

    Ficha detalhada : O Príncipe

    AutorNicolau Maquiavel, MAQUIAVEL, NICOLAU
    EditorEditorial Presença
    Data de lançamento Maio 2008
    ColeçãoDiversos
    ISBN 9789722339513
    EAN978-9722339513
    Dimensões 14 x 21 cm
    Nº Páginas 192
    Nº Colecção 43

    sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

    Livros que valem a pena: "A Era do Vazio"

    A Era do Vazio
    O enfraquecimento da sociedade, dos costumes, do indivíduo contemporâneo da era do consumo de massa, a emergência de um modo de sociabilização e de individualização inédito, numa ruptura como que foi instituído a partir dos séculos XVII e XVIII.
    O autor considera o conceito de personalização como um correspondente ao estímulo à uma sociedade baseada na informação e no estímulo das necessidades. Menos controlo e mais flexibilidade das relações humanas levando cada vez mais para o espaço público as emoções privadas e mais íntimas.

    É considerada uma nova forma da sociedade se organizar na qual as instituições se guiam mais pelos desejos, livre dos regulamentos e das regras embora esta nova ordem seja, em si, uma nova regra estabelecida. No lugar do indivíduo submetido às regras sociais, há um estímulo desenfreado ao “direito de ser ele mesmo” em detrimento das relações com o outro e com a sociedade. É o chamado direito de ser si mesmo, de aproveitar a vida ao máximo levando a uma super valorização da personalização do indivíduo  a uma outra forma de individualismo.
     
    Os conceitos presentes na obra:
     
    a) A sociedade pós-moderna
     
    A sociedade pós-moderna é aquela em que reina a indiferença de massa, no qual domina o sentimento de repetição e estagnação, na qual a autonomia particular avança por si mesma, em que o novo é acolhido do mesmo modo que o velho, em que a inovação se torna banal, em que o futuro não é mais assimilado a um progresso inelutável. A sociedade moderna era conquistadora, a creditava no futuro, na ciência, na técnica.

    Na sociedade pós-moderna, a confiança e a fé no futuro se dissolvem, ninguém mais acredita nos amanhãs radiosos da revolução. O conceito de revolução desaparece ante uma nova ordem mais pausterizada.
    Na sociedade pós-moderna, as pessoas querem viver o momento atual, aqui e agora, querem se conservar jovens e não pensam mais em forjar um novo homem. A sociedade pós-modernidade tem mais ídolos ou tabus, é o vazio que predomina.

    A cultura pós-moderna é voltada para o aumento do individualismo, diversificando as opções de escolha, cada vez mais opções de escolha sobre tudo em uma sociedade de consumo levando a perda de uma visão crítica sobre os objetos e valores que estão a nossa volta. É uma cultura da personalização. Individualismo total. Os desejos individualistas passam a ter mais valor do que os desejos e interesses de classe, fazendo com que se enfraqueça a perspetiva de movimentos sociais e de vida coletiva. Cada vez mais se criam nichos específicos sociais onde cada um encontra o seu par de acordo com os próprios interesses que acabam por fortalecer esta visão pessoal em detrimento do social. Desejo de estar entre idênticos, junto aos demais indivíduos que compartilham as mesmas preocupações imediatas e circunscritas. Narcisismo coletivo: parecemos-nos porque somos semelhantes, porque temos os mesmos objetivos existenciais. É uma sociedade mais caracterizada pela informação e pela expressão.
     
    b) O vazio
     
    Indiferença aos conteúdos, a comunicação sem finalidade e sem público, o desejo de se expressar, de se manifestar a respeito de nada. Comunicar por comunicar, expressar-se sem qualquer outra finalidade a não ser expressar-se e ser ouvido por um micro-público, esta é a lógica do vazio. O isolamento do ser social e a valorização do ser individual.
     
    A Era do Vazio
    Gilles Lipovetsky


    Editora: Relógio d'Água

    Tema: Sociologia
              
    Ano:
    1989
    Livro de capa mole

    ISBN 9789727083824 | 204 págs.
    Peso: 0.270 Kg