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quinta-feira, 23 de junho de 2011

“Semana do Bacalhau”: uma homenagem à comunidade bacalhoeira ancorense.

A ETAP – Escola Profissional organizou, no passado mês de Maio, a “Semana do Bacalhau” que pretendeu homenagear todos os bacalhoeiros ancorenses que, a bordo dos lugres e arrastões, integraram a “Frota Branca”.

A pesca do bacalhau à linha nos Bancos da Terra Nova e Gronelândia é, sem dúvida alguma, uma das maiores odisseias dos Portugueses. E, para nós ancorenses, motivo de orgulho da nossa comunidade ter participado nessa façanha perigosa, arriscada e, muitas vezes, mortal luta entre o homem e o mar.

O sacrifício autêntico a que os bacalhoeiros eram submetidos só pode ser comparável ao das caravelas portuguesas que partiam para o mar desconhecido. Por isso, o seu testemunho é também ele heróico como escreveu Giraudoux “os heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar”.

Foi, de facto, uma semana carregada de emoções, testemunhos, memórias que, pareciam perdidas, dessa outra guerra onde homem e oceano disputaram da forma mais pura os frutos da natureza.

A comunidade cultural ancorense está de parabéns pelo seu contributo nesta semana de homenagem a estes homens que desafiaram a morte escondida por entre o cerrado nevoeiro e o frio, aliados do mar, tendo unicamente como companheiras a solidão e as lágrimas filhas do sofrimento e da saudade.

Aproveito este artigo para agradecer à Academia de Música Fernandes Fão pelo magnífico concerto de abertura que engrandeceu este evento com uma viagem pelo mundo musical da época, casado com sons mais actuais mas explorando a temática da nostalgia, do amor e da distância. Foi um momento de espectacular beleza desfrutar da eloquência do pianista (professor José Paulo Ribeira) e da extraordinária voz da professora Sílvia Pinto. Este concerto foi uma demonstração da capacidade e competência técnica do ensino desta academia musical que muito nos orgulha.

Ao Orfeão de Vila Praia de Âncora, sempre deslumbrante, foi a voz desta semana que - no nosso espírito - ecoou saudade, loucura, poesia e cultura, numa actuação conduzida com a mestria e talento do Maestro Francisco Presa. É com apreço que reconhecidamente destaco o tributo que esta instituição generosamente ofereceu à homenagem da comunidade bacalhoeira ancorense.

Ao Etnográfico de Vila Praia de Âncora, o nosso obrigado, pelo encontro que nos patrocinou com a etnografia marítima ancorense numa brilhante actuação pejada de memórias das gentes do mar da nossa terra. As danças e cantares, as roupas e artefactos e a natural habilidade dos seus bailarinos e músicos reconstruíram uma comunidade piscatória ancorense de há cinquenta anos atrás.

Termino o artigo de hoje prestando também a minha homenagem a esta comunidade bacalhoeira cuja memória não pode ser esquecida. É necessário que todos nos empenhemos, nos tempos que correm, em recuperar o que é nosso e que nos dá identidade sob pena de sermos engolidos pela energia cultural da globalização. Que não aconteça na nossa comunidade aquilo que Oscar Wilde reconhecia como um problema do seu tempo, ou seja, “as pessoas hoje conhecem o preço de tudo e o valor de nada”.

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