O consumo de drogas atingiu grande notoriedade, no ensino secundário português, a partir de meados da década de 90 do século passado. Desde então começam a ser produzidos inúmeros trabalhos sobre o tema atingindo-se uma infindável produção literária acerca da toxicodependência.
O problema da droga nas escolas está ligado, a nosso ver e de forma apriorística, a duas questões essenciais: 1) a mudança social relativamente ao consumo de drogas, tornando-se as sociedades mais permissivas neste particular; 2) a massificação do ensino que cria tensão entre uma das vocações da escola (avaliar) e a rebeldia juvenil inerente a este período do desenvolvimento humano.
Existem claramente, nas sociedades actuais, preocupações em manter os jovens afastados dos consumos que prejudicam a sua saúde e lhes retiram qualidade de vida.
Os próprios jovens consumidores de algumas drogas não se consideram “toxicodependentes” pois associam a toxicodependência ao uso de estupefacientes injectáveis. Esta perspectiva coloca-nos perante um paradoxo relevante que é o de consumirem charros e/ou pastilhas não se considerando toxicodependentes e, por outro lado, conceberem que só a droga, injectável, é má para a saúde.
As escolas e os professores vivem diariamente o drama que resulta do convívio de alunos com o consumo e o comércio dos estupefacientes. A maioria das entidades parece conhecer inclusivamente o percurso que a droga faz até entrar no corpo dos jovens mas, quer a idade dos alunos, quer a permissividade social faz com que as actuações dos mais diversos agentes estejam tendencialmente limitadas.
A escola secundária acontece durante um importante ciclo de mudança biológica, social, psicológica e cultural do indivíduo pelo que se torna terreno fértil para a transformação de práticas e de hábitos. É aquilo a que a sociologia apelida de culturas juvenis conceptualizando uma certa forma de estar e de viver em sociedade.
Se recuarmos aos tempos da Grécia Antiga verificamos que a escola era um local de lazer para os cidadãos ricos que gostavam de reflectir sobre o sentido das coisas, do mundo e do Homem. Esta visão quase hedonista apagou-se por completo a partir da Idade Média que tornou a escola um local difícil de trabalho intelectual subjugado a princípios de rigor, disciplina e avaliação, penalizadoras dos alunos.
Ainda hoje, a escola tem muito de saber escolástico, de dogmas sobre as práticas quer de professores, quer de alunos estando ainda orientada para a obrigatoriedade do saber (para não ficar retido) do que para o prazer da descoberta dos mistérios da vida (natural e social). Não sendo este o tema deste artigo não poderíamos deixar de sinteticamente fazer esta alusão à evolução da escola e do seu conceito.
Ora com as drogas, assistimos também a uma evolução do pensamento social sobre a sua utilização e (in) tolerância nas diversas comunidades humanas ao longo dos tempos. Assim, inicialmente o consumo de drogas aparece-nos associado às religiões primitivas onde o seu uso era moderado e controlado pela comunidade, estava integrado de forma ritualizada e cultural. Havia como que um sentido religioso e medicinal no seu uso que conduzia o homem a práticas colectivas rituais invocadoras do sagrado e do mágico.
É claro que os Descobrimentos permitiram intercambiar drogas e conhecimentos numa primeira globalização das drogas.
Já no século XIX, o hedonismo e a medicina iniciam um momento fundador na história das drogas no ocidente. O homem descobre que pode ter acesso ao paraíso artificial. Personagens como Freud, Baudelaire ou Fernando Pessoa são o exemplo claro desta descoberta muito utilizada por militares, médicos e poetas (principalmente do ópio, morfina e cocaína).
Com o século XX as drogas passam a relacionar-se com o individualismo moderno, a cultura do corpo, o narcisismo… transformando-se mais em recreação que, cada vez mais, se foi tornando acessível a todos os estratos sociais.
A massificação do consumo das drogas levou a ciência a debruçar-se sobre este tema tentando perceber até que ponto esta prática constitui um benefício ou, pelo contrário, um malefício para a saúde e o bem-estar do indivíduo. Embora consoante a especificidade científica de cada escola a conclusão parece ser cada vez mais óbvia em desfavor do consumo dos estupefacientes que são considerados inimigos da saúde e da qualidade de vida principalmente se levarmos em linha de conta a definição da Organização Mundial de Saúde (anos 40) do conceito de saúde definido como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de invalidez ou doença”.
São vários os modelos que nos permitem trabalhar esta problemática demonstrando não só a sua transversalidade científica mas também o carácter evolutivo da construção do conhecimento científico: modelo médico, modelo jurídico, modelo da distribuição do consumo, modelo sociológico, modelo sociocultural, modelo psicossocial e modelo ecológico.
Existe, no nosso país, um conflito enorme entre as ideias e a prática que se concretizam na dificuldade de interpretar os normativos sociais vigentes e a vontade/aceitação da mudança. Esta tensão perene conduz a própria sociedade a uma sensação de anomia sobretudo relativamente a uma questão tão fracturante como a do consumo de drogas.
Os partidos políticos, por exemplo, discutem legislar sobre substâncias como a cannabis estando despenalizado o seu consumo e penalizada a sua venda. Por outro lado, criam-se “salas de chuto”, em defesa da saúde pública, para que os toxicodependentes de injectáveis possam estar a consumir de forma controlada e monitorizada por profissionais de saúde ao mesmo tempo que se tenta incutir um espírito de entrada em programas de desintoxicação. O que queremos dizer é que os jovens acabam por encontrar nesta sociedade não um clima de rejeição do consumo mas uma sensação de aventura perdoável porque filha dos desvarios da própria idade da experimentação e da irresponsabilidade.
A escola não é o centro disseminador dos males sociais mas antes uma amostra, a pequena escala, do quotidiano e realidade da sociedade. A tarefa árdua dos professores é tentar moldar o indivíduo transformando-o num ser capaz de ter uma visão crítica do mundo e da existência humana sem ferir princípios como o respeito (por si e pelos outros), a tolerância, a liberdade, a responsabilidade… dotando-o dos instrumentos necessários a uma escolha informada de um projecto de vida que o realize através da integração plena no palco da vida social.
À sociedade cabe credibilizar os docentes que afincadamente no seu dia-a-dia exercem a sua função de educadores em tempos difíceis de crise familiar, de autoridade e de falta de uma identidade cultural comprometida com a saúde, hábitos e comportamentos de todos nós.
O problema da droga nas escolas está ligado, a nosso ver e de forma apriorística, a duas questões essenciais: 1) a mudança social relativamente ao consumo de drogas, tornando-se as sociedades mais permissivas neste particular; 2) a massificação do ensino que cria tensão entre uma das vocações da escola (avaliar) e a rebeldia juvenil inerente a este período do desenvolvimento humano.
Existem claramente, nas sociedades actuais, preocupações em manter os jovens afastados dos consumos que prejudicam a sua saúde e lhes retiram qualidade de vida.
Os próprios jovens consumidores de algumas drogas não se consideram “toxicodependentes” pois associam a toxicodependência ao uso de estupefacientes injectáveis. Esta perspectiva coloca-nos perante um paradoxo relevante que é o de consumirem charros e/ou pastilhas não se considerando toxicodependentes e, por outro lado, conceberem que só a droga, injectável, é má para a saúde.
As escolas e os professores vivem diariamente o drama que resulta do convívio de alunos com o consumo e o comércio dos estupefacientes. A maioria das entidades parece conhecer inclusivamente o percurso que a droga faz até entrar no corpo dos jovens mas, quer a idade dos alunos, quer a permissividade social faz com que as actuações dos mais diversos agentes estejam tendencialmente limitadas.
A escola secundária acontece durante um importante ciclo de mudança biológica, social, psicológica e cultural do indivíduo pelo que se torna terreno fértil para a transformação de práticas e de hábitos. É aquilo a que a sociologia apelida de culturas juvenis conceptualizando uma certa forma de estar e de viver em sociedade.
Se recuarmos aos tempos da Grécia Antiga verificamos que a escola era um local de lazer para os cidadãos ricos que gostavam de reflectir sobre o sentido das coisas, do mundo e do Homem. Esta visão quase hedonista apagou-se por completo a partir da Idade Média que tornou a escola um local difícil de trabalho intelectual subjugado a princípios de rigor, disciplina e avaliação, penalizadoras dos alunos.
Ainda hoje, a escola tem muito de saber escolástico, de dogmas sobre as práticas quer de professores, quer de alunos estando ainda orientada para a obrigatoriedade do saber (para não ficar retido) do que para o prazer da descoberta dos mistérios da vida (natural e social). Não sendo este o tema deste artigo não poderíamos deixar de sinteticamente fazer esta alusão à evolução da escola e do seu conceito.
Ora com as drogas, assistimos também a uma evolução do pensamento social sobre a sua utilização e (in) tolerância nas diversas comunidades humanas ao longo dos tempos. Assim, inicialmente o consumo de drogas aparece-nos associado às religiões primitivas onde o seu uso era moderado e controlado pela comunidade, estava integrado de forma ritualizada e cultural. Havia como que um sentido religioso e medicinal no seu uso que conduzia o homem a práticas colectivas rituais invocadoras do sagrado e do mágico.
É claro que os Descobrimentos permitiram intercambiar drogas e conhecimentos numa primeira globalização das drogas.
Já no século XIX, o hedonismo e a medicina iniciam um momento fundador na história das drogas no ocidente. O homem descobre que pode ter acesso ao paraíso artificial. Personagens como Freud, Baudelaire ou Fernando Pessoa são o exemplo claro desta descoberta muito utilizada por militares, médicos e poetas (principalmente do ópio, morfina e cocaína).
Com o século XX as drogas passam a relacionar-se com o individualismo moderno, a cultura do corpo, o narcisismo… transformando-se mais em recreação que, cada vez mais, se foi tornando acessível a todos os estratos sociais.
A massificação do consumo das drogas levou a ciência a debruçar-se sobre este tema tentando perceber até que ponto esta prática constitui um benefício ou, pelo contrário, um malefício para a saúde e o bem-estar do indivíduo. Embora consoante a especificidade científica de cada escola a conclusão parece ser cada vez mais óbvia em desfavor do consumo dos estupefacientes que são considerados inimigos da saúde e da qualidade de vida principalmente se levarmos em linha de conta a definição da Organização Mundial de Saúde (anos 40) do conceito de saúde definido como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de invalidez ou doença”.
São vários os modelos que nos permitem trabalhar esta problemática demonstrando não só a sua transversalidade científica mas também o carácter evolutivo da construção do conhecimento científico: modelo médico, modelo jurídico, modelo da distribuição do consumo, modelo sociológico, modelo sociocultural, modelo psicossocial e modelo ecológico.
Existe, no nosso país, um conflito enorme entre as ideias e a prática que se concretizam na dificuldade de interpretar os normativos sociais vigentes e a vontade/aceitação da mudança. Esta tensão perene conduz a própria sociedade a uma sensação de anomia sobretudo relativamente a uma questão tão fracturante como a do consumo de drogas.
Os partidos políticos, por exemplo, discutem legislar sobre substâncias como a cannabis estando despenalizado o seu consumo e penalizada a sua venda. Por outro lado, criam-se “salas de chuto”, em defesa da saúde pública, para que os toxicodependentes de injectáveis possam estar a consumir de forma controlada e monitorizada por profissionais de saúde ao mesmo tempo que se tenta incutir um espírito de entrada em programas de desintoxicação. O que queremos dizer é que os jovens acabam por encontrar nesta sociedade não um clima de rejeição do consumo mas uma sensação de aventura perdoável porque filha dos desvarios da própria idade da experimentação e da irresponsabilidade.
A escola não é o centro disseminador dos males sociais mas antes uma amostra, a pequena escala, do quotidiano e realidade da sociedade. A tarefa árdua dos professores é tentar moldar o indivíduo transformando-o num ser capaz de ter uma visão crítica do mundo e da existência humana sem ferir princípios como o respeito (por si e pelos outros), a tolerância, a liberdade, a responsabilidade… dotando-o dos instrumentos necessários a uma escolha informada de um projecto de vida que o realize através da integração plena no palco da vida social.
À sociedade cabe credibilizar os docentes que afincadamente no seu dia-a-dia exercem a sua função de educadores em tempos difíceis de crise familiar, de autoridade e de falta de uma identidade cultural comprometida com a saúde, hábitos e comportamentos de todos nós.
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