Translate

sábado, 20 de novembro de 2010

Os nossos jovens têm consciência política e sentido de justiça!

Acabamos de ler na imprensa local que, a Associação de Estudantes da EB2,3/S de Caminha, convocou e concretizou uma greve geral de alunos no passado dia 10 de Novembro. As reivindicações dos alunos parecem-nos claras: 1) um estatuto do aluno negociado entre as partes (professores, alunos e “patronatos”); 2) mais emprego e fim do trabalho precário; 3) contra a pobreza; 4) recuperação do edifício do Centro Coordenador de Transportes e criação de uma Casa da Juventude; 5) melhoria das instalações da escola.

Admitimos a existência, até na nossa praça, de alguns defensores da necessidade da contenção da agitação social que, segundo eles, resulta normalmente de gente mal intencionada que não quer trabalhar e cujas manifestações a nada conduzem. No entanto, a história encarregou-se de nos ensinar que foi graças a estes “agitadores” que as classes populares conseguiram ir melhorando as suas condições precárias.

Afinal, vivemos um período em que, toda a gente, aconselha toda a gente a trabalhar sem se queixar, a fazer sem questionar, a engraxar, a lamber… para sobreviver porque a vida está difícil. E ela será mais difícil se o povo se deixar pisar e se esquecer que muito se lutou para que a democracia e a cidadania se impusessem.

Também estamos informados que ainda sobrevivem no mundo os verdadeiros inimigos da democracia. Estes só encontram como amigos os que os bajulam, obedecem e agem fortemente contra os críticos do sistema. É, por isso, que a meritocracia que proclamam não passa de uma panaceia utópica.

Dentro desta ilusão encontram-se, por exemplo, aqueles que ousam defender a produtividade nas escolas. Afinal, o que é isso? A escola é alguma fábrica de produtos inanimados, numa linha de montagem, onde se aparelham materiais mortos e prontos a ser telecomandados? Claro que não!

E, estes alunos, acabam de demonstrar que “não andam cá por ver andar os outros”. Eles têm sentido crítico e vocação de intervenção na sociedade ao serviço dos outros e da melhoria das condições dos seus concidadãos. É o exercício da cidadania que reclamam nas comemorações do centenário da república.

É bom que voltem à Câmara Municipal ali tão perto a reclamar a intervenção no centro de transportes, a luta contra a pobreza e a melhoria das condições da sua escola. É bom que mantenham o seu espírito de luta frente ao autista Ministério da Educação até serem ouvidos e respeitados como cidadãos.

Está de parabéns a sua escola e os seus docentes que educaram os alunos para o exercício da cidadania, da responsabilidade e da intervenção pública em prol dos ideais da revolução francesa que animam a nossa república: liberdade, igualdade e fraternidade.

Como escreveu Jules Renard, “o homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão” e, estes alunos, alargam a nossa confiança na sua geração poder vir a ter o engenho de trocar a produtividade pela solidariedade, o serventilismo pela liberdade e a meritocracia burocrática pelo mérito da justiça e fraternidade.

sábado, 23 de outubro de 2010

O papel da escola face à toxicodependência

O consumo de drogas atingiu grande notoriedade, no ensino secundário português, a partir de meados da década de 90 do século passado. Desde então começam a ser produzidos inúmeros trabalhos sobre o tema atingindo-se uma infindável produção literária acerca da toxicodependência.

O problema da droga nas escolas está ligado, a nosso ver e de forma apriorística, a duas questões essenciais: 1) a mudança social relativamente ao consumo de drogas, tornando-se as sociedades mais permissivas neste particular; 2) a massificação do ensino que cria tensão entre uma das vocações da escola (avaliar) e a rebeldia juvenil inerente a este período do desenvolvimento humano.

Existem claramente, nas sociedades actuais, preocupações em manter os jovens afastados dos consumos que prejudicam a sua saúde e lhes retiram qualidade de vida.

Os próprios jovens consumidores de algumas drogas não se consideram “toxicodependentes” pois associam a toxicodependência ao uso de estupefacientes injectáveis. Esta perspectiva coloca-nos perante um paradoxo relevante que é o de consumirem charros e/ou pastilhas não se considerando toxicodependentes e, por outro lado, conceberem que só a droga, injectável, é má para a saúde.

As escolas e os professores vivem diariamente o drama que resulta do convívio de alunos com o consumo e o comércio dos estupefacientes. A maioria das entidades parece conhecer inclusivamente o percurso que a droga faz até entrar no corpo dos jovens mas, quer a idade dos alunos, quer a permissividade social faz com que as actuações dos mais diversos agentes estejam tendencialmente limitadas.

A escola secundária acontece durante um importante ciclo de mudança biológica, social, psicológica e cultural do indivíduo pelo que se torna terreno fértil para a transformação de práticas e de hábitos. É aquilo a que a sociologia apelida de culturas juvenis conceptualizando uma certa forma de estar e de viver em sociedade.

Se recuarmos aos tempos da Grécia Antiga verificamos que a escola era um local de lazer para os cidadãos ricos que gostavam de reflectir sobre o sentido das coisas, do mundo e do Homem. Esta visão quase hedonista apagou-se por completo a partir da Idade Média que tornou a escola um local difícil de trabalho intelectual subjugado a princípios de rigor, disciplina e avaliação, penalizadoras dos alunos.

Ainda hoje, a escola tem muito de saber escolástico, de dogmas sobre as práticas quer de professores, quer de alunos estando ainda orientada para a obrigatoriedade do saber (para não ficar retido) do que para o prazer da descoberta dos mistérios da vida (natural e social). Não sendo este o tema deste artigo não poderíamos deixar de sinteticamente fazer esta alusão à evolução da escola e do seu conceito.

Ora com as drogas, assistimos também a uma evolução do pensamento social sobre a sua utilização e (in) tolerância nas diversas comunidades humanas ao longo dos tempos. Assim, inicialmente o consumo de drogas aparece-nos associado às religiões primitivas onde o seu uso era moderado e controlado pela comunidade, estava integrado de forma ritualizada e cultural. Havia como que um sentido religioso e medicinal no seu uso que conduzia o homem a práticas colectivas rituais invocadoras do sagrado e do mágico.

É claro que os Descobrimentos permitiram intercambiar drogas e conhecimentos numa primeira globalização das drogas.

Já no século XIX, o hedonismo e a medicina iniciam um momento fundador na história das drogas no ocidente. O homem descobre que pode ter acesso ao paraíso artificial. Personagens como Freud, Baudelaire ou Fernando Pessoa são o exemplo claro desta descoberta muito utilizada por militares, médicos e poetas (principalmente do ópio, morfina e cocaína).

Com o século XX as drogas passam a relacionar-se com o individualismo moderno, a cultura do corpo, o narcisismo… transformando-se mais em recreação que, cada vez mais, se foi tornando acessível a todos os estratos sociais.

A massificação do consumo das drogas levou a ciência a debruçar-se sobre este tema tentando perceber até que ponto esta prática constitui um benefício ou, pelo contrário, um malefício para a saúde e o bem-estar do indivíduo. Embora consoante a especificidade científica de cada escola a conclusão parece ser cada vez mais óbvia em desfavor do consumo dos estupefacientes que são considerados inimigos da saúde e da qualidade de vida principalmente se levarmos em linha de conta a definição da Organização Mundial de Saúde (anos 40) do conceito de saúde definido como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de invalidez ou doença”.

São vários os modelos que nos permitem trabalhar esta problemática demonstrando não só a sua transversalidade científica mas também o carácter evolutivo da construção do conhecimento científico: modelo médico, modelo jurídico, modelo da distribuição do consumo, modelo sociológico, modelo sociocultural, modelo psicossocial e modelo ecológico.

Existe, no nosso país, um conflito enorme entre as ideias e a prática que se concretizam na dificuldade de interpretar os normativos sociais vigentes e a vontade/aceitação da mudança. Esta tensão perene conduz a própria sociedade a uma sensação de anomia sobretudo relativamente a uma questão tão fracturante como a do consumo de drogas.

Os partidos políticos, por exemplo, discutem legislar sobre substâncias como a cannabis estando despenalizado o seu consumo e penalizada a sua venda. Por outro lado, criam-se “salas de chuto”, em defesa da saúde pública, para que os toxicodependentes de injectáveis possam estar a consumir de forma controlada e monitorizada por profissionais de saúde ao mesmo tempo que se tenta incutir um espírito de entrada em programas de desintoxicação. O que queremos dizer é que os jovens acabam por encontrar nesta sociedade não um clima de rejeição do consumo mas uma sensação de aventura perdoável porque filha dos desvarios da própria idade da experimentação e da irresponsabilidade.

A escola não é o centro disseminador dos males sociais mas antes uma amostra, a pequena escala, do quotidiano e realidade da sociedade. A tarefa árdua dos professores é tentar moldar o indivíduo transformando-o num ser capaz de ter uma visão crítica do mundo e da existência humana sem ferir princípios como o respeito (por si e pelos outros), a tolerância, a liberdade, a responsabilidade… dotando-o dos instrumentos necessários a uma escolha informada de um projecto de vida que o realize através da integração plena no palco da vida social.

À sociedade cabe credibilizar os docentes que afincadamente no seu dia-a-dia exercem a sua função de educadores em tempos difíceis de crise familiar, de autoridade e de falta de uma identidade cultural comprometida com a saúde, hábitos e comportamentos de todos nós.

domingo, 3 de outubro de 2010

A utilidade da educação para a convivência

A escola é, por excelência, o berçário da Humanidade pelo que, todos os assuntos que a ela dizem respeito, devem ser abordados com seriedade e responsabilidade. A escola deixou de ser um local de débito de teorias científicas que os alunos deveriam beber insaciavelmente até à última gota. Agora o saber escolar assenta as suas bases em três tipos de conhecimento: saber científico, o saber cultural e o saber ser/estar. No entanto, existe uma tendência social - e que se repercute na escola - para valorizar o primeiro e descartar o último.

Por outro lado, as sociedades mudaram muito e aperceberam-se (umas mais cedo que outras) que a educação é a garantia de um futuro com mais desenvolvimento e crescimento económico. Daí que a escola se tornou obrigatória para os jovens. Isto significa que pelos seus bancos passam anualmente milhares de jovens que não estão motivados para as tradicionais matérias escolares e suas abordagens. Esta desmotivação pode agravar-se se a ela se somar o insucesso escolar começando a aparecer problemas de convivência que vão desde a exclusão e estigmatização do aluno até - no limite - à expulsão do estabelecimento de ensino.

A fim de tornar a escola obrigatória, acessível a todos, os governos tentam várias soluções que vão desde o ensino regular ao profissional, passando ainda pelos Cursos de Educação e Formação ou até, para alguns jovens, as Novas Oportunidades. É preciso ensinar e aprender… e Educar?

É bom que se perceba que, ter estudos, não significa ser educado, polido, saber conviver com o outro. As nossas escolas têm ainda muitos professores incapazes de compreender que os tempos mudaram bem como os conceitos de disciplina e conhecimento que também acompanharam estes tempos. Por exemplo, é uma injustiça dizer que os jovens de hoje não sabem nada. Depende do que estamos a falar: de memorizar nomes de reis ou de competências informáticas e tecnológicas? Não queremos com isto dizer que a memória não deva ser trabalhada, acrescentamos o facto de esta não constituir o único recurso pedagógico da aprendizagem.

A escola precisa, acima de tudo, de educadores que, com o seu exemplo, promovam o convívio democrático e solidário entre os alunos, professores e restante comunidade escolar. Neste sentido, quanto mais os pais participarem na gestão da escola maior facilidade haverá na resolução dos conflitos.

No mundo global e cosmopolita em que vivemos o professor deve - seja qual for a sua disciplina - pugnar pela promoção da justiça, solidariedade, democracia, liberdade de expressão e opinião na relação com os seus alunos.

Mais do que técnicos, as sociedades de hoje, estão carentes de cidadãos conhecedores dos seus direitos e dos seus deveres. De gente capaz de escolher, por si, o seu caminho. De homens e mulheres dotadas de valores humanos fundados na construção de uma sociedade onde se reconhece o direito à diferença a partir de uma cultura de paz.

A utilidade da educação para a convivência pode ser sintetizada nas nobres palavras do grande pedagogo, Xésus Jares, que afirmava que "não existe possibilidade de viver sem conviver (…) porque os seres humanos são seres sociais e precisam uns dos outros para a própria subsistência". Num mundo em que os pais partilham com os professores a educação dos seus filhos cabe, a cada um de nós, perguntar que tipo de sociedade quer no futuro. A dos grandes valores humanos ou a do individualismo liberal que solta poucos e aprisiona a maioria. O nosso leitor que decida…

sábado, 4 de setembro de 2010

O desejo de Mário: tão humano quanto a existência humana

" A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo"
(Gustave Flaubert)

Estava uma noite quente de verão e ainda estávamos longe de casa. Não tínhamos pachorra para mais uns quilómetros, acrescidos do inevitável serão na cozinha. Trocámos um olhar cúmplice denunciador do desejo de uma velada diferente e decidimos jantar no caminho.

Corria o jantar remançosamente quando, a minha filha, se encantou pelo som do piano cujas teclas dançavam - sob os dedos metódicos e apaixonados - de uma pianista que passeava melodias inesquecíveis pelos corredores daquela unidade hoteleira. Prometi-lhe que, finda a refeição, ficaríamos a assistir ao resto do concerto que decorria no átrio do estabelecimento. E, assim foi.

Quando nos retirávamos, para um passeio nocturno, esbarrei no "desejo" de Mário Rebelo de Sousa. Fantástico! Que saudades tinha daquela tela. Parece ter adivinhado que a minha noite de sonho se faria completa se entre o calor, as estrelas, a música e as mulheres que me acompanhavam… tudo se mesclasse por entre os fios de cor desenhados por entre os trilhos ebúrneos daquele quadro.

Foram várias as conversas com o Mário sobre esta obra que me fascina e normalmente me abstrai do meu entorno devido às emoções, cogitações e inquietações que me desperta. Aliás, a grande maioria delas conhecidas do autor.

A concepção estética do "desejo" eleva-me a uma catarse pessoal sobre a tensão humana face aos valores celebrantes da vida como o amor, o sexo, a maternidade, a nudez, a liberdade de desejar e de amar. Inebria-me o calor do sangue e inquietam-me os olhares reprovadores dos censores da Natureza que a enfeitaram de convenções inibidoras da vida que brota do ventre daquelas que a honram e engrandecem.

É, neste patamar afectivo, que me cruzo com o "desejo" de Mário na medida em que se não carecesse de nada, não desejaria nada. Seria perfeito… um deus. Mas a consciência da finitude e da imperfeição culmina indubitavelmente no desejo que Sartre garantia ser o mais profundo do Homem: "fundamentalmente o desejo de ser Deus".

Olhar para o "desejo" de Mário é não só uma manifestação de admiração pela imensidão estética da beleza humana mas também o nobre reconhecimento da imperfeição e da finitude como condição de realização do Homem. É este encontro com Horácio que - nas suas "Odes" (I, 11.8), se refere à brevidade da vida afirmando que "enquanto falamos, terá fugido ávido o tempo: colhe o instante, sem confiar no amanhã" - liga esta obra à eternidade ideológica sobre o prazer de viver, de amar, de ser livre… afinal um desejo tão humano quanto a existência humana.

A nossa coluna de hoje pretende prestar ao autor desta tela a nossa homenagem pela frontalidade estética da sua obra e demonstrar o nosso orgulho por um conterrâneo que vai emergindo por entre esse emaranhado de criadores que constroem o edifício artístico português. Parabéns Mário por partilhares o teu "desejo" connosco!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Contra Lisboa marchar, marchar…

Na última semana fomos todos apanhados de surpresa com a decisão do Governo de, em nome da redução das despesas do Estado, fundir os dois agrupamentos escolares do concelho de Caminha. Esta decisão apressada, desajeitada e ilógica foi ainda tomada sem qualquer preocupação pelas boas práticas democráticas de ouvir os agentes educativos locais (direcção dos agrupamentos, associações de pais e encarregados de educação, associações de estudantes e as associações representativas dos profissionais da educação).
É claro que uma decisão apressada (diz o povo e com razão “depressa há pouco quem”) e ainda por cima tomada num gabinete da capital da nação (“longe da vista, longe do coração”) só pode ter como consequência a atrapalhação total dos decisores regionais quando toca a implementar tal ordem superior que os deixa divididos entre a lógica e o aparelhismo partidário. Entre aqueles que ousam chamar a atenção para o erro e aqueles que se disponibilizam para branquear o equívoco em nome da manutenção do seu lugar.
Quem decidiu esta postura para o concelho de Caminha esqueceu alguns aspectos importantes que obviamente tornam este município particular e objecto de um tratamento diferenciado. Aliás, os vereadores do Partido Socialista evidenciam-nos na moção que apresentaram na última reunião de câmara que manifestava e repudiava esta decisão levando o próprio PSD a associar-se a esta posição. Diz a moção que “considerando: a identidade e a autonomia dos Vales do Coura e do Âncora; que o reordenamento da rede escolar deverá ter em conta as especificidades, em termos educativos, do Agrupamento de Escolas Coura e Minho e do Agrupamento Vertical de Escolas do Vale do Âncora; que ambos os Agrupamentos de Escolas são espaços públicos de qualidade e excelência a nível educativo; que o Agrupamento de Escolas Coura e Minho e o Agrupamento Vertical de Escolas do Vale do Âncora foram classificados, no último ano lectivo, como os dois melhores Agrupamentos de Escolas do distrito de Viana do Castelo; que são dois Agrupamentos diferenciados e autónomos que concretizam o projecto educativo traçado na Carta Educativa; que a Carta Educativa em vigor, contempla a existência dos dois Agrupamentos de Escolas, Coura e Minho e do Vale do Âncora; que a reorganização da rede escolar terá de passar pela auscultação do Agrupamento de Escolas, da Associação de Pais e dos Encarregados de Educação, da Câmara Municipal e do Conselho Municipal de Educação. Os vereadores do PS manifestam o seu repúdio…”
Concordando com estes considerandos não deixamos também de atender a um outro aspecto importante e que é arrolado pela Associação de Pais e Encarregados de Educação do Vale do Âncora que, em carta à Direcção Regional da Educação do Norte pedem a “ suspensão imediata deste processo que é desastroso pois pelas nossas contas – que estaremos disponíveis para debater convosco – é mais dispendioso que o actual e de menor qualidade. Por isso, até porque são os nossos impostos que sustentam o sistema educativo português sentimo-nos no direito de ser recebidos por V. Exa. e discutir este assunto de forma detida, racional e com conhecimento da especificidade particular do concelho de Caminha.”
Eis que, estas duas instituições, evocam os aspectos essenciais da irracionalidade da fusão dos agrupamentos escolares do concelho. É claro que, para quem fizer bem as contas, as despesas directas e indirectas desta decisão aumentam as obrigações financeiras do Estado quer em investimento quer em funcionamento. Até porque ao poupar na educação vai gastar com toda a certeza nos subsídios de desemprego e nos apoios sociais a quem ficar desempregado. E digamos que o nosso concelho não está particularmente de saúde neste particular.
Se o Estado quer cortar gorduras deve, a nosso ver, pode começar pelos organismos que só dão despesa (em salários principescos e de staff’s bem pagos em edifícios históricos) para entreter o jogo político e contribuir para a nova “nobreza” da república recolhida sob o manto absolutista de Lisboa. É que os salários e reformas de alguns dos nossos compatriotas servidores da res publica suportavam uma educação melhor e com mais qualidade contribuindo inexoravelmente para a redução da despesa e o enriquecimento dos recursos humanos do país. Nos cem anos da República Portuguesa parece estarmos confrontados com a necessidade da sua refundação e, mais uma vez, contra Lisboa marchar, marchar…

terça-feira, 6 de abril de 2010

In memoriam

Os tempos que hoje correm são de um intenso debate social sobre o ‘excesso’, tentando delimitar o seu âmbito moral e prático. A vida da sociedade está repleta de um excessivo individualismo onde cada um parece querer comercializar-se perante os outros num esforço, não de servir, mas de ser servido. Como afirma Gilles Lipovestky “hoje, há demasiado de tudo… caminhamos para um planeta cada vez mais individualista, tecnológico e comercial”.
No entanto, nem sempre foi assim! O Portugal recente mostrou-nos a força do totalitarismo, do dever de não pensar, do bom senso de não falar, da inteligência de obedecer e da importância de trabalhar sem aspirar a ser alguém. A ditadura portuguesa praticamente remeteu a mobilidade social a um quase plágio da organização da sociedade em castas segundo o paradigma indiano.
O 25 de Abril representou a libertação de um povo amordaçado, cansado de obedecer, incapaz de pensar e inabilitado para o governo da res pública fundado nos princípios democráticos. Tornou-se, desde logo, importante humanizar e normalizar a vida do político que se pretendia um servidor da vontade popular. Um intérprete do povo e um pedagogo da democracia. Ser político significava saber marcar a diferença num novo ciclo da história do país agora convertido aos valores da convivência democrática.
Vila Praia de Âncora, não esteve alheia a todo este processo nacional e, também aqui, se iniciaram todas as metamorfoses estruturais da política local que conduziram à governação democrática dos ancorenses. Como em todas as mudanças sociais, as rupturas arrastam consigo os despojos emocionais dos vencidos e as ambições dos ganhadores.
Escolher um governo para a freguesia e um líder capaz de encarnar os tempos de mudança assemelhava-se difícil. Mas, utilizando as palavras de Giacomo Leopardi, “é curioso ver que quase todos os homens de grande valor têm maneiras simples; e que quase sempre as maneiras simples são tomadas como indício de pouco valor”.
Conheci um homem que se encaixava perfeitamente neste pensamento de Leopardi, o senhor Domingos Luís Verde, a quem ele me deu o privilégio de chamar camarada.
A nossa terra ficou mais pobre no passado dia 23 de Março quando o nosso conterrâneo partiu para o seu descanso eterno. Não se perdeu somente o dirigente (político, associativo, sindicalista) o empresário, o polícia ou um artista… perdeu-se um homem bom, um democrata e uma referência histórica da transição democrática da nossa freguesia.
Domingos Verde, nunca perdeu a capacidade de sonhar e a coragem de acreditar que era possível concretizar a democracia. Ele, um homem que se fez no mar e dele embarcou numa aventura de completo serviço à comunidade que durou uma vida inteira.
Vila Praia de Âncora e as suas gentes devem agora a este homem a homenagem que, em vida, não foram capazes de lhe prestar… talvez por ele ter sido sempre tão simples. Ou… talvez porque todos aqueles que a ele acorriam aflitos, sempre se depararam com um homem calmo que resolvia cada problema como se de um amigo se tratasse. Hoje já não há disto!
Nunca ouvi Domingos Verde reclamar alguma coisa para si, pelo contrário, sempre assisti às suas reivindicações em prol das gentes da sua freguesia, mesmo em prejuízo da sua própria carreira e imagem política.
Espero, brevemente, não ler só que foi aprovado um voto de pesar pelo seu falecimento mas sim que o seu nome será perpetuado na toponímia de Vila Praia de Âncora. Não estou a falar da obrigação de dar o nome de uma rua, ou praça, pelo facto de Domingos Verde ter sido presidente da Junta de Freguesia, mas sim, por ter sido o primeiro eleito democraticamente. Ao lembrar este nosso conterrâneo não estamos só a evocar o homem que foi mas também a história da democracia na nossa freguesia.
Por isso, lanço aqui o repto à Assembleia e Junta de Freguesia, à Assembleia e Câmara Municipal que sigam os princípios éticos da democracia e da justiça histórica imortalizando publicamente a memória de Domingos Verde demonstrando, desta forma, que os democratas são generosos reconhecem os servidores da causa pública… independentemente da sua origem, ideologia, religião ou partido político.
Aos familiares do Sr. Domingos Verde, o mais profundo pesar e solidariedade neste momento de perda e de dor mas também o meu sincero reconhecimento pelo homem público que deixaram servir a nossa terra.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O papel dos professores na escola moderna

A escola mudou muito desde o século XIX até aos dias de hoje: de instituição elitista, selectiva e promotora de valores ligados às classes burguesas e eclesiásticas até ao pós - 2ª Guerra Mundial e a massificação do ensino, bem como o acesso das classes populares ao mesmo ou a integração dos jovens provenientes das mais diversas paragens geográficas que têm afluído à Europa e, mais concretamente, à Península Ibérica. A escola é hoje uma instituição incontornável dos Estados pós-modernos e merece um olhar sociológico sobre a sua realidade no contexto dos valores, costumes e crenças dos povos do século XXI.
É na escola que se constrói a sociedade do futuro mas também esta é o receptáculo mais fiel do produto social do momento: a violência escolar, o conflito, o racismo, a xenofobia…).
O problema das migrações está hoje na agenda política e social da grande maioria dos países ocidentais europeus. Se, para a Europa do norte, tradicionalmente receptora de imigrantes, esta questão tem já décadas de trabalho e reflexão, para a Europa do sul, a reflexão e o desenvolvimento de planos de acção está agora a começar. Por exemplo, a Península Ibérica tem vindo a modificar-se e a passar de terra de emigrantes a ponto de chegada de imigrantes.
A discussão continua acesa pelo facto de, na actualidade, o mundo estar a viver uma das maiores crises económica e financeira de que há memória. O crash financeiro associado ao colapso da economia americana e europeia acentuou as desigualdades entre os países e entre as classes sociais. O acesso ao emprego está cada vez mais difícil, a segurança social (na Europa) contraída, o aumento da esperança média de vida estão a provocar uma crise de valores cada vez mais evidente. O imigrante foi apanhado neste mare magno de escombros em que se transformou o chamado mundo desenvolvido. O crescimento do apoio popular aos partidos defensores de ideais xenófobos tem vindo a aumentar devido à desinformação e à demagogia utilizada para acalmar os nacionais face aos problemas do desemprego e da perda de regalias sociais.
No entanto, desde o alvor da Humanidade que o Homem tem levado uma vida errante pelo mundo, tem sido uma espécie de migrante. Aliás, desde cedo que os povos, mesmo os sedentários, se viram obrigados a procurar melhores recursos para se estabelecerem fugindo às intempéries, às guerras ou, como ainda hoje acontece, à desertificação. A demanda de melhores condições de vida tornou o Homem num emigrante e promoveu também o desenvolvimento científico e tecnológico de que os Descobrimentos e a conquista são exemplos da natureza migrante do Homem.
Depois de os europeus terem procurado as Américas como destino preferencial de uma mudança de vida é, a própria Europa, que a partir dos finais da Segunda Guerra Mundial e em consequência do auxílio norte-americano (“Plano Marshall”) se torna um espaço preferencial de imigração. O esforço de reconstrução europeu do pós-guerra apostado na construção de vias de comunicação, edifícios, portos, aeroportos, industria, comércio… devido à ausência de mão-de-obra suficiente tornou-se terreno fértil para a deslocação de pessoas da periferia da europeia.
A construção da União Europeia, a partir do Tratado de Roma (1957), vem dar não só um impulso económico-financeiro ao conjunto de países desta organização supranacional mas também uma concertação política e estratégica na gestão dos recursos europeus (materiais, humanos, ambientais…).
Com o fim do período dourado do emprego europeu a Europa comunitária começa a construir a sua política migratória assente em dois pilares: a) controlar os fluxos de imigrantes; b) criação de condições dignas de integração dos imigrantes. No entanto, fechar fronteiras constitui não só um violentar da predisposição natural do Homem para circular em busca de melhores condições de vida como um aumento do número de imigrantes em situação irregular.
Relativamente à União Europeia destacamos, a título informativo, a política europeia de imigração que é sustentada nos seguintes organismos e documentos: grupo de Trevi (1976); Convénio de Dublin (1990); Acordo de Schengen (1984); Tratado de Maastricht (1991).
Portugal foi durante séculos uns país onde a maior parte da sua população se viu forçada a emigrar para poder sobreviver. Desde os Descobrimentos que impuseram a colonização até à actualidade os portugueses continuam a sua diáspora pelo mundo. A existência, bem como a história, de inúmeras comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo espelham esta realidade.
Mas, à semelhança de outros Estados do sul europeu, nos últimos vinte anos Portugal tornou-se um país de acolhimento para muitos imigrantes. Inicialmente, até aos anos noventa, foi sobretudo procurado por habitantes dos países lusófonos que nuns casos procuravam fugir da guerra (Moçambique, Timor, Angola e Guiné) e noutros procurar melhores condições de vida económica (Brasil, S. Tomé e Príncipe, Cabo-verde). Actualmente pontificam os oriundos dos países do leste da Europa, China e Índia.
Com cerca de meio milhão de imigrantes legais (INE: 2008) este pequeno país a viver uma grave crise económica e social começa também a reflectir e a adoptar políticas de imigração de forma a adaptar-se a esta nova realidade e a escola desempenha, neste particular, um papel importante na humanização dos alunos promovendo a educação para a paz e os direitos humanos.
Na actualidade, mais que um local de aprendizagem tradicional, os professores enfrentam o desafio de ensinar a conviver segundo o princípio da tolerância face à diferença. Logo, além dos princípios reguladores da vida na organização escolar a classe docente vê-se confrontada com a necessidade de abordar as problemáticas da cidadania, do saber conviver, do respeito mútuo, da capacidade de autocontrolo… inerentes à escola cada vez mais universal do ponto de vista social.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A ruptura conjugal não impede a educação em família

A problemática dos direitos das crianças, embora mais presente na consciência social e científica está ainda num processo de construção. Prova disso, é o entendimento e enquadramento legal dado pelas sociedades à questão. Aprioristicamente achamos que uma das razões para este atraso se prende com o facto de o divórcio e a separação só agora terem atingido níveis de notoriedade social que, obviamente, estarão relacionados com fenómenos demográficos, económicos, culturais e sociais.
O modelo tradicional de família está agora diluído num conjunto de paradigmas que nos transportam a outros níveis de entendimento e de aceitação social (famílias monoparentais, recompostas, conjugais…) que, por sua vez, conduzem os cientistas sociais a procurar respostas no sentido de manter o equilíbrio educacional das crianças e jovens perante o colapso familiar.
As crianças não escolhem nascer e também não podem escolher os pais. Por outro lado, os pais normalmente escolhem como, quando e com quem querem constituir família. Se quisermos também acrescentar o factor dependência (física, psicológica, emocional, económica, social…) do menor em relação ao adulto, no que toca aos rumos que gostaria de dar à sua vida, então começamos a perceber a debilidade e fragilidade da criança no grande palco da vida social entre os adultos. Adultos que escolheram, de certa forma, a sua vida e que, com as suas decisões, irão desequilibrar a vida dos seus filhos.
O mundo hodierno está pleno de novidades para as quais as sociedades ainda procuram enquadramento. Em pouco mais de cem anos, a sociedade abriu-se 24 horas por dia e assistiu ao deslumbramento tecnológico, a mulher começa a experienciar a liberdade de decidir sobre si e a sua vida, as crianças saíram do banco do patrão para o da escola, vivemos mais e cada vez mais com melhor saúde, a esperança média de vida aumentou sonhos e a capacidade de amar e querer ser amado… Mas, toda esta vertigem acarreta dificuldades que não estavam calculadas pelo Homem, maior longevidade traduz-se rapidamente em igual aumento de responsabilidade. Esta responsabilidade traduz-se nas preocupações actuais com o ambiente, os valores, o emprego, a pobreza e a distribuição da riqueza… e claro, a aprendizagem e a consciencialização de que a educação é a pedra angular de todo o sistema.
A educação é um dos mais, senão o mais, representativos agentes de socialização se a entendermos, pelo menos, em dois círculos: o familiar e o escolar. Daí que, na sociedade do capital em que hoje vivemos, a educação tem um preço para os pais e para as nações. Entende-se que mais educação representa melhores cidadãos e maior evolução social. Estes princípios poderão claramente ser discutíveis quanto ao carácter manipulador e de coacção dos adultos sobre as crianças mas, não podem ser excluídos do padrão da sociedade actual. Hoje ter filhos não é pensar em mão-de-obra para o campo mas sim a assumpção de um amor e um desprendimento financeiro dos pais na procura de concretizar a felicidade dos filhos.
Com tanto desenvolvimento quase se torna impossível pensar o fim das coisas, da vida, do amor… é possível que isso aconteça! O que fazer então?
A literatura destaca a perspectiva abrangente que coloca sobre a mesa familiar todos os seus agentes: filhos e pais. Quando o relacionamento dos progenitores atinge o seu limite traduz-se em dor e sofrimento não só para as crianças como para os pais. Sofre aquele que já não ama, o que ama e os que querem continuar a ser amados e estimados.
Todo o fim implica o princípio de algo que deve ser assumido com racionalidade e responsabilidade. Os pais enfrentam não só o constrangimento emocional da relação que acaba mas também as consequências imediatas dessa separação: as hipotecas, os negócios do casal, a divisão dos salários, a quantificação da educação dos filhos, a mudança de casa, etc.
Esta nova etapa da vida familiar (pois o facto de ter acabado o casamento/relação não termina a família porque há filhos para cuidar) apanha sempre os pais num momento psicológico mais frágil o que, em diversas ocasiões, se transforma num problema pessoal (progenitor) e familiar (filho). Daí que assuma primordial importância a tomada de consciência por parte dos adultos, da situação e que, ainda sob o sofrimento do rompimento conjugal, sejam capazes de manter o amor pelos filhos acima da dor provocada pela separação.