Translate

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um Natal diferente…

Mais um ano se cumpre a tradição de celebrar o nascimento do Menino Jesus que, pelo menos por um dia, une o espírito dos homens em volta dos valores da solidariedade, da paz e do amor. É pena que o Natal não seja todos os dias!
Para o nosso concelho este é um Natal diferente. Nesta quadra, existem cerca de duas centenas de pessoas que perderam o seu emprego na indústria têxtil. É o resultado do encerramento desta unidade fabril. Vimos lágrimas de incerteza nos rostos de alguns trabalhadores preocupados com o futuro e com as responsabilidades que têm de assumir todos os meses.
Caminha está a transformar-se no cemitério empresarial do distrito de Viana do Castelo. Este é o resultado da inexistência de uma política de desenvolvimento económico para o município. É fácil, barato e até eleitoralmente rentável “fazer flores” aqui e ali. Difícil é governar a sério, sem medo de calendários eleitorais e de assumir responsabilidades. A nossa autarquia não consegue atrair empresas ao contrário dos concelhos de Viana do Castelo e de Vila Nova de Cerveira.
Contrariamente ao que seria de esperar, alienou a sua participação na indústria eólica com o único intuito de ter mais dinheiro para gastar. De que serve a quem ficou desempregado uma piscina ou uma inauguração com champanhe e caviar? Onde está a presidente da Câmara de Caminha agora? Muitos autarcas estariam atentos há meses, a fazerem todos os esforços para que a empresa não fechasse. Isso é servir a população!
Este é um Natal triste porque pagamos a água mais cara… um aumento da gestão do município liderado por Júlia Paula que não abdica da medida errada que adoptou dado que se vive pior em Caminha. Há fome, há frio, há exclusão no concelho!
A esta gestão municipal pede-se, que em mandato de despedida, coloque em primeiro lugar as pessoas. Não se pode gastar mais que aquilo que se tem. Endividar o município não é bom… nunca foi bom dever alguma coisa a alguém. O certo é que com esta administração, entre festas, fados e foguetes nos passaram a imagem de que governar era fazer passeios… e alguns acreditaram. Governar é muito mais que isso, é garantir aos eleitores a sua sobrevivência em primeiro lugar e ela depende de ter emprego. Quanto mais emprego houver menos cabazes se terão que distribuir no Natal!
Aproveitamos este artigo para sugerir à autarquia que se coloque no terreno e explore todas as opções para manter esta unidade a laborar. Inclusivamente, visto que os trabalhadores afirmam que a empresa tem viabilidade, a possibilidade de os funcionários gerirem a empresa. Da nossa parte cedemos solidariamente o dinheiro dos nossos impostos para servir as pessoas a recuperarem o seu emprego e a viverem com dignidade sustentando-se do seu trabalho.
Também é preciso que o município de Caminha seja informado das razões deste encerramento pois esta empresa recebeu apoios públicos, como foi noticiado, para permanecer na nossa terra. A culpa não é só do momento de crise pois existem indústrias têxteis que funcionam e resistem à crise.
Esperemos que a Câmara de Caminha mude a sua postura e comece a olhar para o concelho com visão política, democrática, estratégica, responsável e competente. Nós avisámos em artigos anteriores que fazer obras qualquer político faz. Hitler, Estaline, Saddam, Salazar são alguns casos que podemos estudar e verificar que conduziram os seus países à ruína moral, política e económica. Mas lá que eram “adorados”, no seu tempo, lá eram.
Há que colocar um ponto final no folclore e começar a derrubar os verdadeiros inimigos do concelho de Caminha: esperança média de vida inferior a Melgaço, dívida da autarquia, desemprego e deficit democrático.
Fazemos votos que este Natal coloque no sapatinho dos cerca de duzentos funcionários da Regency o regresso ao emprego, à independência e à qualidade de vida.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tempo de mudar a escola e o curso da nossa história!

“As palavras descrevem as realidades da vida humana.
Mas têm também o poder de criar e modelar essas realidades.
As palavras dos poderosos pesam mais que as palavras dos débeis.
Na realidade, muitas vezes os débeis descrevem-se a
si mesmos com as palavras alcunhadas pelos poderosos.” (Berger, P.: Pirâmides de Sacrifício. Sal Terrae, Santander, 1979, p.21)



A educação para os Direitos Humanos está a celebrar os seus sessenta anos de existência e decidimos, por isso, fazer uma reflexão sobre este tema coincidindo com uma época do ano em que todos nós recordamos o espírito solidário e fraterno.
A sociedade actual, depois da invenção do relógio e da electricidade, passou a estar aberta vinte e quatro horas por dia tornando-nos escravos do tempo e da produtividade. Nunca na história da humanidade houve tanta riqueza e, ao mesmo tempo, um mal-estar generalizado dos cidadãos impotentes perante as instituições. Afinal, o dito desenvolvimento entendido como progresso social promotor do bem-estar e qualidade de vida, desembocou numa desilusão espelhada no desemprego, na desigual repartição do lucro, no aumento das doenças do foro psiquiátrico e nervoso, na droga, no crime, na solidão e na troca da realidade pela felicidade virtual oferecida pelas telenovelas e a internet. A sensação de déja vu parece fazer esmorecer o Homem e que Fukhuyama e seus seguidores sintetizam na afirmação de que “a História acabou… já não há mais nada”.
Nesta sociedade atemporal e anómica - alicerçada no parecer em vez do ser - e que trocou a palavra de honra pelo dinheiro começamos todos a sentir medo. Medo de morrer, de andar na rua, pelos nossos filhos… consumindo toda a nossa vontade de viver em liberdade e na felicidade. Parece que “por trás de uma utopia terá que haver sempre outra utopia” (Bakunine) mas, a nossa história, tem sido construída de sonho em sonho, desse ideal que comanda a existência.
Mas o que fazer para tornar o mundo mais justo? Investir na educação para a cidadania pois não nascemos cidadãos, fazemo-nos cidadãos. Compreendemos que é mais fácil fazer um cidadão na Europa que em África, o que não impede que comecemos a trabalhar já. É preciso que as nossas escolas ensinem valores aos nossos filhos. Que valores? Os valores universais consagrados na Declaração dos Direitos do Homem.
As decisões políticas têm falhado porque relativamente à educação, a maioria dos políticos não tem competências e conhecimentos nesta área. São mal formados. Por outro lado, a sociedade actual parece ter dificuldades em identificar os limites normativos que devem enformar a vida em comunidade tendo como consequência a alienação do indivíduo pelos valores do serventilismo e do paternalismo. Não pensar em realizar-se como cidadão mas sim como um escravo da vontade alheia.
Vivemos na obrigação de não dar opinião, mais uma vez pelo medo de perder qualquer coisa: o emprego, os amigos, a posição social… o que vão pensar de nós se decidirmos participar numa campanha política? Veja-se, a título de exemplo, o que se tem passado no concelho de Caminha.
É bom que reconheçamos que há muito a fazer pelos Direitos Humanos para que a sociedade do século XXI faça vingar os valores da paz, da igualdade, da justiça, do trabalho, da liberdade… Todos temos responsabilidades e não devemos olhar o sofrimento dos outros como um problema alheio mas como uma dificuldade da comunidade que urge resolver.
À semelhança de José António Caride acreditamos que “ainda na incerteza, assumimos que não basta saber fazer ou saber ser. Além disso, é preciso reconhecer-se e saber-se, pessoal e colectivamente, como actores de uma História que ainda não acabou: partícipes da tomada de decisão, na interpretação dos desequilíbrios sócio-ambientais, no que fazer cívico, na determinação dos estilos de vida… Tarefas às quais a educação é chamada a restabelecer muitos dos seus significados perdidos e, se possível, a aceitar desafios que ampliem o seu protagonismo no desenvolvimento humano”.
Se a decisão política for no sentido de construir uma escola investindo na formação cívica dos professores em vez de imbróglios burocráticas que, mais uma vez, estimulam o medo e geram a desconfiança nas instituições então teremos esperança numa nova sociedade.