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sábado, 14 de novembro de 2009

“Sabura é lá na nos terra Cabo Verde”

O nosso concelho tem, ao longo dos últimos anos, vindo a acolher centenas de jovens provenientes do arquipélago de Cabo Verde. Deslocados do seu país natal procuraram as nossas escolas a fim de lhes ser proporcionada uma educação diferente e uma perspectiva mais universal das sociedades modernas. Porém, muitas vezes, as comunidades de acolhimento reagem de forma menos humanista à integração destes novos actores no seu sistema social. O presente artigo pretende contribuir para uma reflexão mais profunda da nossa comunidade, muito marcada pela emigração, sobre as exigências se uma sociedade mais global que exige uma vivência cada vez mais intercultural.
Ao longo da História, o Homem, procurou sempre encurtar as distâncias que o separavam. Inicialmente, foi a procura da segurança junto de seres da mesma espécie, depois a procura dos melhores locais para se instalar (terras férteis, seguras e com água) e, por último, as trocas comerciais.
Desde muito cedo, se verifica que os recursos são escassos e que as necessidades humanas tendem a superar os ciclos naturais de produção/reprodução. Daí a demanda de novos territórios, mundos e experiências.
A sociedade actual, fundada mais nos primados da economia de mercado impõe severamente o poder do dinheiro e do lucro. Agora não estamos perante uma tribo que guerreia com outra pelo acesso à terra… o dinheiro compra essa terra! Tudo é negócio e tudo é negociável. O dinheiro é um factor de divisão (entre ricos e pobres) e de discriminação (acesso a uma vida com mais qualidade, mais saúde, mais justiça, mais cultura…).
Por outro lado, existem países que não se libertaram das amarras do despotismo, do fundamentalismo religioso, da opressão das mulheres, da falta de liberdade de expressão, ou seja, onde não existe o respeito pelos Direitos Humanos. As suas populações vivem oprimidas, perseguidas e completamente manietadas pelos detentores do poder que as impedem de viver com dignidade.
Existem também países que, vivendo em paz e com uma economia razoavelmente boa, não oferecem aos seus nacionais aquilo que os realiza: pode não haver emprego na área específica da sua formação no país de origem; as empresas mais competitivas e tecnologicamente mais desafiadoras estarem noutras paragens; outras pessoas, podem simplesmente querer mudar completamente a sua vida e reiniciá-la noutro ponto do globo.
A globalização tornou ainda o mundo mais pequeno: a sociedade abriu-se vinte e quatro horas por dia; as distâncias deixaram de ter quilómetros e passaram a ser medidas em tempos (cada vez mais curtos); a televisão e a internet tornaram-se uma autêntica montra de luxo onde se podem encontrar os artigos que melhor servem os interesses de cada um. O mundo da imagem, do sonho, da felicidade instantânea, da realização fácil mesmo ao pé da porta desperta, mais uma vez, os genes “nómadas” do ser humano que, como sempre o fez ao longo da sua história e independentemente da cor, parte à procura do seu éden.
Ser europeu deixou, há muito de ser uma marca de atributos físicos e passou a ser uma questão de nacionalidade. Ser nacional significa o acesso ao sonho de origem do imigrante que partiu corajosamente em sua perseguição.

domingo, 8 de novembro de 2009

Unir a cidadania contra a delinquência … pelo nosso turismo e segurança!



A Federação Internacional do Automóvel divulgou, no final do passado mês de Setembro, um estudo sobre as preocupações dos portugueses na hora de escolher o seu destino de férias. Dos resultados, divulgados no "Dia Mundial do Turismo", conclui-se que - numa escala de zero a dez - a segurança (9,3), a qualidade da água e das praias (8,9) e a beleza natural (8,8) são os três factores que os turistas têm em conta aquando da escolha do seu destino de férias.

Vila Praia de Âncora, infelizmente, ainda não conseguiu resolver os seus problemas ambientais relativamente à qualidade da água embora disponha de uma beleza natural única. O que, por si, afasta os turistas que procuram qualidade e que estão disponíveis para gastar dinheiro durante as suas férias.

A nossa terra luta há décadas pelo reconhecimento de destino turístico de grande importância no contexto da região norte de Portugal e da Galiza. Mas, essa honra tarda em chegar, não só por culpa da falta de exigência dos ancorenses mas também pela fraca qualidade dos responsáveis políticos que, ao longo dos anos, têm gerido os interesses desta vila. Para além da natureza nada mais há a acrescentar a esta terra que parece um estaleiro em permanente actividade e onde os operários teimam em não acertar de vez com a qualidade final do produto.

No entanto, desde há uns anos a esta parte, veio juntar-se a este outro problema maior: a insegurança. Fenómeno multiforme, que envolve uma complexidade de conflitos e comportamentos, a violência tornou-se um drama, associado as causas predominantemente sociais, que assume contornos e dimensões preocupantes na nossa comunidade. O medo gerado pela violência amputa a vida social e isto repercute-se na mobilidade das pessoas, não apenas alterando os roteiros quotidianos, mas influenciando também as viagens e o turismo.

Neste contexto, pode-se dizer que a segurança pública constitui-se um elemento indissociável da rede de ofertas e serviços imbricados ao atendimento turístico, representando-se como um factor importante e condicionante da imagem de Vila Praia de Âncora como destino turístico. Quando o destino turístico começa a incorporar vulnerabilidades, o turista antevê riscos e tende a mudar a sua rota. Num mundo regido pela insegurança, pelo medo da violência, qualquer sinal de instabilidade pode resultar na rejeição a um determinado destino.

Já não basta a crise, a falta de qualidade da nossa água para agora assistirmos a um desconcertante flagelo social que transformou a paisagem humana ancorense. De terra de gente pacata e acolhedora passamos a ver jovens, organizados em bandos, que circulam suspeitosamente por locais que todos identificamos manifestando uma atitude agressiva e comportamentos pouco civilizados.

Infelizmente e como todos constatamos, verificam-se roubos, vandalismo, tráfico e consumo de estupefacientes, agressões e muito desrespeito pelos outros e pelo espaço público como local de convívio e de tolerância.

A nossa terra tem duas estações que outrora eram símbolo da sua importância demográfica, turística e comercial. Passados estes anos e com uma população residente muito maior verifica-se o encerramento da estação e o definhamento progressivo do nosso apeadeiro.

Um apeadeiro por onde passam diariamente centenas de pessoas e que é caracterizado por uma construção completamente vandalizada, onde se agrupam jovens para consumir e negociar e onde até agressões e furtos têm frequência garantida. Toda a gente sabe mas, ao que parece, todos consentem!

É preciso que alguém se dedique a estes jovens e os ajude a encontrar um caminho seguro para eles e para todos nós. Um trilho que se cruze com a paz e a tolerância. Resolver os problemas da exclusão social e dos estupefacientes solucionará muitos dos problemas de segurança que se verificam por cá.

Já que a nossa classe política parece alheada deste fenómeno cabe à cidadania sair à rua e manifestar-se publicamente em favor duma comunidade mais segura onde os nossos carros, as nossas casas, os negócios, as empresas e até a nossa integridade física e moral estejam devidamente acautelados como consagra a nossa Constituição.

A manifestação cívica é uma marca das sociedades que perderam o medo e que saiem à rua contra o crime, veja-se o caso dos nossos vizinhos espanhóis ou de outros movimentos que, por esse mundo fora, lutam pacífica e democraticamente pela paz e a segurança de todos.