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sábado, 19 de setembro de 2009

O caso da mulher de César.

Lançados que estamos em plena campanha eleitoral assistimos, quase diariamente, à inauguração de tudo e mais alguma coisa. Aliás, das contas que fizemos para as obras anunciadas pelo actual executivo autárquico, não chegava o orçamento da Câmara Municipal de Viana do Castelo. É claro que “o sonho comanda a vida”, o problema é que nós não vivemos de sonhos mas de realidades.
O concelho de Caminha está mais pobre, perdeu meio milhar de residentes e tem como maior empregador a Câmara Municipal de Caminha. Ou seja, a actual gestão, não conseguiu atrair emprego e riqueza para os seus munícipes. Pelo contrário, consciente das obras, sem qualidade e sempre temporárias, o executivo PSD tem feito todo o esforço para com o fórró, a televisão, os beijinhos e a apresentação de projectos, ante-projectos e ideias para ludibriar o eleitorado.
Ora, como todos sabemos – e pelo que nos contam os autarcas – a sua vida é tão difícil que até são contra a limitação de mandatos. Coitados… trabalham tanto e ganham tão pouco! Por isso, é que quando chega a época eleitoral estão disponíveis para qualquer malabarismo que garanta a sua eleição. Mas, se estar disponível para tudo fazer da parte dos agentes políticos é grave, mais será, o envolvimento de responsáveis religiosos nestes desvarios políticos.
Fomos surpreendidos, por estes dias, pelas notícias que colocavam - lado a lado - o pároco de Vila Praia de Âncora, o presidente da Junta desta freguesia e a Câmara Municipal de Caminha - todos juntos - para apresentar um projecto de recuperação do Barracão da Senhora da Bonança.
Ficámos surpreendidos pelo cinismo de tal evento que, à moda antiga, mistura política e religião de forma básica. A primeira ideia que nos veio à cabeça foi a cerimónia de há quatro anos onde, as mesmas instituições, apresentaram a maqueta do Centro Paroquial de Vila Praia de Âncora. Passados quatro anos… está morto e entregue à boa vontade das gentes da paróquia que se têm desdobrado em iniciativas e sacrifícios para a concretização deste sonho.
Este ano, a aposta política caiu sobre a Confraria de Nossa Senhora da Bonança, pois os protagonistas políticos não estavam disponíveis para renovar a maqueta do referido Centro Paroquial. Assim, atiraram-se ao barracão no intuito de prosseguir um autêntico atropelo à lei da República.
Quanto a esta iniciativa interessa-nos relevar o seguinte:
1) Quem pagou este projecto? Se não foi a autarquia, o que faziam lá os responsáveis autárquicos? Se foi a autarquia, quanto pagou e com que contrapartidas?
2) Esta confraria ( que é uma associação privada) não funciona regularmente há anos pelo que não tem órgãos eleitos conforme os estatutos que a regem. Como pode a mesma autarquia que exige às associações (que funcionam legalmente e legitimamente) um procedimento burocrático enorme para não dar um subsídio de 250€ e, de repente, oferece um projecto de recuperação de um edifício?
3) Mais, quando vai ser construído o edifício e quem o vai pagar?
4) Por outro lado, a confraria pertence, acima de tudo aos pescadores, porque não foram estes chamados a participar do processo?
5) Porque não foi convocada uma Assembleia Geral para debater o assunto?; E porque razão não foi respeitada a vontade dos fundadores?
O vício do político sobre a história do barracão também esteve presente no discurso dos oradores. Aqui, é compreensível a posição de Manuel Marques (que não é de Vila Praia de Âncora) bem como do vereador Flamiano Martins, que não sabem nada da história da confraria e do seu barracão. Mas, como quem “não se sente não é filho de boa gente” nós não podemos deixar aqui de manifestar publicamente o nosso reconhecimento e agradecimento a meu pai, Celestino Ribeiro, o grande responsável pelo regresso do barracão às mãos da Confraria de Nossa Senhora da Bonança. Eu vivi o seu esforço incansável no contacto com os herdeiros, o seu envolvimento em todo o processo que levou à decisão judicial em favor desta associação. Pena é que naquela cerimónia todos, incluindo o nosso pároco que muito estimamos, o Sr. Padre João Baptista, tenham apagado (com toda a certeza por lapso) a história do barracão. Também como ele, o meu pai, não quer morrer sem que a vontade dos fundadores seja cumprida e o edifício tenha o destino que eles desejavam.
Uma coisa ficamos sem perceber, se religião e política não devem imiscuir-se porque razão permitiu o nosso prezado pároco a instrumentalização política da cerimónia? É que depois aparecem-nos pensadores como Henri Montherlant que, se calhar com razão, afirmam que “a religião é a doença vergonhosa da humanidade e a política o seu cancro”. Nós não somos tão radicais até porque temos um profundo sentimento de amizade e fraternidade cristã para com o nosso Pastor, Sr. Padre João, e com ele partilhámos o sonho de devolver a uma confraria legalmente eleita o barracão recuperado para a finalidade que lhe estava destinada.
Parece-nos, na nossa modesta opinião, que o Pastor deve ser neutro nos combates políticos (até porque o seu rebanho tem partidários de diferentes áreas políticas) mesmo tendo o seu partido político preferido. Agora, ao permitir que, em plena pré-campanha eleitoral, se instrumentalize um acto que apenas à vida da paróquia diz respeito é que não nos parece certo.
Se nós estivéssemos no lugar do nosso amigo Sr. Padre João, educadamente diríamos aos políticos que tínhamos todo o gosto na realização da cerimónia, desde que ela decorresse depois das eleições para que ninguém nos colasse aos problemas da vida temporal. É que lá diz o ditado “à mulher de César não basta ser, é preciso parecer”.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Gripe A: “saber o que é correcto e não o fazer é falta de coragem.” (Confúcio)

O mês de Agosto terminou pondo fim a um verão tímido e pouco quente. A falta de turistas prende-se com muitos motivos que ultrapassam a meteorologia. A crise económica, de emprego, a falta de equipamentos e a ausência de uma estratégia neste sector acaba por passar uma factura dura para os empresários do concelho que irão enfrentar mais dez meses de paciente espera por novo estio. Mas esta análise não será feita neste artigo pois, consideramos urgente, debruçar-nos sobre um tema incontornável da actualidade, a Gripe A.
Se, como afirmámos, o mês de Agosto se caracterizou pela amenidade, os dois próximos meses serão intensamente cálidos. Com duas eleições à porta, os partidos políticos irão invadir-nos com muita festa, papelada, brindes, promessas, jantares, abraços, beijos, mal dizeres sobre os seus adversários… tudo aquilo a que nos fomos habituando nos últimos tempos. Os salários e o poder atraem todo tipo de pessoas à causa pública!
É bom que, nas suas campanhas, os partidos não se esqueçam da nossa saúde e não nos forcem a acções e gestos que, em último caso, nos conduzam à morte.
Todos sabemos que a campanha eleitoral autárquica é uma eleição desigual pois, quem exerce o poder, tem mais armas eleitorais para brandir que os seus adversários da oposição. A oposição não pode agendar e participar activamente nas cerimónias da responsabilidade do município. Daí que, nos meandros políticos locais, se tenha criado o adágio de que “as câmaras municipais não se ganham… perdem-se”.
Ora, a prática autárquica caminhense tem apostado em deixar para final de mandato meia dúzia de iniciativas e muitas promessas que depois não se irão concretizar (a ponte sobre o rio Minho, a elevação de Vila Praia de Âncora a cidade, a construção do Centro Paroquial de V. P. Âncora de que se mostrou maqueta há quatro anos atrás, a Academia de Música que há oito anos espera pelo edifício da antiga escola do Vilarinho…). A terminar coloca-se sempre um pouco de comida, canto, beijo e festa para fidelizar o voto dos diferentes segmentos eleitorais.
Um dos instrumentos a utilizar é o “passeio dos pensionistas” que, paulatinamente e no seu devido momento, se transformou num colosso organizacional em participação e custos financeiros atingindo milhares de euros. Também aqui não iremos discutir o assunto porque prejudicaríamos a mensagem que queremos passar. Aliás, o convívio é muito saudável desde que não seja só um dia no ano e se os políticos prezem por não estar presentes - a fim de discursar e politizar a festa - convertendo-a num comício. Mas isto exigiria uma maturidade democrática que, nós por cá, não temos.
A Gripe A está cá! Ainda não vimos nenhuma medida da Câmara Municipal que contribua para a informação com vista à prevenção deste vírus. Era bom que, como Molière escreveu, o nosso município e a sua responsável recordasse que “não só somos responsáveis pelo que fazemos, mas também pelo que não fazemos”. É essa coragem moral que marca a verticalidade dos indivíduos conscientes de que servir o outro implica ter de tomar, às vezes, medidas contra a sua vontade.
Que planos de contingência existem no nosso concelho? A câmara municipal de Caminha reuniu com que instituições? Escolas? Lares? Centros de Dia? Centro de Saúde? Bombeiros? E os funcionários municipais? Tiveram formação para se prevenirem? Foram colocados ao seu dispor instrumentos que facilitem o seu trabalho e os protejam do vírus? Os jardins de infância tutelados pela autarquia têm plano de contingência? E a Ludoteca?
Temos consciência que a preocupação com a agenda eleitoral, uma corrida contra o tempo em que se tem que prometer tudo e festejar tudo, se traduz num esquecimento de questões tão básicas como esta.
Sabemos que, dentro dos grupos de risco, estão os idosos e a realização de um passeio dos pensionistas na Quinta da Malafaia constitui um contributo para uma possível contaminação dos participantes. Meter toda a gente em autocarros, privilegiar o toque, o beijo, o abraço típicos da festa poderá colocar em perigo a vida de alguém.
A frase não é nossa mas aplica-se a este momento de teste à audácia política de Júlia Paula: “a coragem consiste em escolher o mal menor, por mais que ele possa ser”. (Stendhal) O que será “um mal menor” para a nossa presidente de câmara: 1) arriscar perder um evento útil de campanha como o “passeio dos pensionistas” e adiá-lo para um momento menos perigoso para a saúde dos munícipes mais velhos; 2) ou, por outro lado, colocar os seus interesses políticos à frente da saúde dos idosos? Não somos nós que teremos de tomar essa decisão e, como prometemos no início do artigo, propomos somente a reflexão sobre este tema tão actual e mais importante que tudo o resto pois, sem saúde, não atingimos a felicidade.
Pensamos que não seria descabida a ideia de a autarquia ter a coragem de não realizar o “passeio dos pensionistas” este ano e com os milhares de euros gastos em comida e autocarros ajudar os idosos que realmente estão fragilizados pela crise, financiando os seus medicamentos, criando uma linha de atendimento para os munícipes dando oportunidade aos jovens profissionais de saúde do concelho de se sentirem úteis ao serviço da sua comunidade e prestar apoio financeiro aos idosos que passam dificuldades.
Temos a certeza que os pensionistas mais desafogados agradecerão o carácter preventivo desta acção e apoiarão imediatamente a medida de destinar o dinheiro do município, neste momento difícil, aos que realmente mais precisam.