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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A ruptura conjugal não impede a educação em família

A problemática dos direitos das crianças, embora mais presente na consciência social e científica está ainda num processo de construção. Prova disso, é o entendimento e enquadramento legal dado pelas sociedades à questão. Aprioristicamente achamos que uma das razões para este atraso se prende com o facto de o divórcio e a separação só agora terem atingido níveis de notoriedade social que, obviamente, estarão relacionados com fenómenos demográficos, económicos, culturais e sociais.
O modelo tradicional de família está agora diluído num conjunto de paradigmas que nos transportam a outros níveis de entendimento e de aceitação social (famílias monoparentais, recompostas, conjugais…) que, por sua vez, conduzem os cientistas sociais a procurar respostas no sentido de manter o equilíbrio educacional das crianças e jovens perante o colapso familiar.
As crianças não escolhem nascer e também não podem escolher os pais. Por outro lado, os pais normalmente escolhem como, quando e com quem querem constituir família. Se quisermos também acrescentar o factor dependência (física, psicológica, emocional, económica, social…) do menor em relação ao adulto, no que toca aos rumos que gostaria de dar à sua vida, então começamos a perceber a debilidade e fragilidade da criança no grande palco da vida social entre os adultos. Adultos que escolheram, de certa forma, a sua vida e que, com as suas decisões, irão desequilibrar a vida dos seus filhos.
O mundo hodierno está pleno de novidades para as quais as sociedades ainda procuram enquadramento. Em pouco mais de cem anos, a sociedade abriu-se 24 horas por dia e assistiu ao deslumbramento tecnológico, a mulher começa a experienciar a liberdade de decidir sobre si e a sua vida, as crianças saíram do banco do patrão para o da escola, vivemos mais e cada vez mais com melhor saúde, a esperança média de vida aumentou sonhos e a capacidade de amar e querer ser amado… Mas, toda esta vertigem acarreta dificuldades que não estavam calculadas pelo Homem, maior longevidade traduz-se rapidamente em igual aumento de responsabilidade. Esta responsabilidade traduz-se nas preocupações actuais com o ambiente, os valores, o emprego, a pobreza e a distribuição da riqueza… e claro, a aprendizagem e a consciencialização de que a educação é a pedra angular de todo o sistema.
A educação é um dos mais, senão o mais, representativos agentes de socialização se a entendermos, pelo menos, em dois círculos: o familiar e o escolar. Daí que, na sociedade do capital em que hoje vivemos, a educação tem um preço para os pais e para as nações. Entende-se que mais educação representa melhores cidadãos e maior evolução social. Estes princípios poderão claramente ser discutíveis quanto ao carácter manipulador e de coacção dos adultos sobre as crianças mas, não podem ser excluídos do padrão da sociedade actual. Hoje ter filhos não é pensar em mão-de-obra para o campo mas sim a assumpção de um amor e um desprendimento financeiro dos pais na procura de concretizar a felicidade dos filhos.
Com tanto desenvolvimento quase se torna impossível pensar o fim das coisas, da vida, do amor… é possível que isso aconteça! O que fazer então?
A literatura destaca a perspectiva abrangente que coloca sobre a mesa familiar todos os seus agentes: filhos e pais. Quando o relacionamento dos progenitores atinge o seu limite traduz-se em dor e sofrimento não só para as crianças como para os pais. Sofre aquele que já não ama, o que ama e os que querem continuar a ser amados e estimados.
Todo o fim implica o princípio de algo que deve ser assumido com racionalidade e responsabilidade. Os pais enfrentam não só o constrangimento emocional da relação que acaba mas também as consequências imediatas dessa separação: as hipotecas, os negócios do casal, a divisão dos salários, a quantificação da educação dos filhos, a mudança de casa, etc.
Esta nova etapa da vida familiar (pois o facto de ter acabado o casamento/relação não termina a família porque há filhos para cuidar) apanha sempre os pais num momento psicológico mais frágil o que, em diversas ocasiões, se transforma num problema pessoal (progenitor) e familiar (filho). Daí que assuma primordial importância a tomada de consciência por parte dos adultos, da situação e que, ainda sob o sofrimento do rompimento conjugal, sejam capazes de manter o amor pelos filhos acima da dor provocada pela separação.

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