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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tempo de mudar a escola e o curso da nossa história!

“As palavras descrevem as realidades da vida humana.
Mas têm também o poder de criar e modelar essas realidades.
As palavras dos poderosos pesam mais que as palavras dos débeis.
Na realidade, muitas vezes os débeis descrevem-se a
si mesmos com as palavras alcunhadas pelos poderosos.” (Berger, P.: Pirâmides de Sacrifício. Sal Terrae, Santander, 1979, p.21)



A educação para os Direitos Humanos está a celebrar os seus sessenta anos de existência e decidimos, por isso, fazer uma reflexão sobre este tema coincidindo com uma época do ano em que todos nós recordamos o espírito solidário e fraterno.
A sociedade actual, depois da invenção do relógio e da electricidade, passou a estar aberta vinte e quatro horas por dia tornando-nos escravos do tempo e da produtividade. Nunca na história da humanidade houve tanta riqueza e, ao mesmo tempo, um mal-estar generalizado dos cidadãos impotentes perante as instituições. Afinal, o dito desenvolvimento entendido como progresso social promotor do bem-estar e qualidade de vida, desembocou numa desilusão espelhada no desemprego, na desigual repartição do lucro, no aumento das doenças do foro psiquiátrico e nervoso, na droga, no crime, na solidão e na troca da realidade pela felicidade virtual oferecida pelas telenovelas e a internet. A sensação de déja vu parece fazer esmorecer o Homem e que Fukhuyama e seus seguidores sintetizam na afirmação de que “a História acabou… já não há mais nada”.
Nesta sociedade atemporal e anómica - alicerçada no parecer em vez do ser - e que trocou a palavra de honra pelo dinheiro começamos todos a sentir medo. Medo de morrer, de andar na rua, pelos nossos filhos… consumindo toda a nossa vontade de viver em liberdade e na felicidade. Parece que “por trás de uma utopia terá que haver sempre outra utopia” (Bakunine) mas, a nossa história, tem sido construída de sonho em sonho, desse ideal que comanda a existência.
Mas o que fazer para tornar o mundo mais justo? Investir na educação para a cidadania pois não nascemos cidadãos, fazemo-nos cidadãos. Compreendemos que é mais fácil fazer um cidadão na Europa que em África, o que não impede que comecemos a trabalhar já. É preciso que as nossas escolas ensinem valores aos nossos filhos. Que valores? Os valores universais consagrados na Declaração dos Direitos do Homem.
As decisões políticas têm falhado porque relativamente à educação, a maioria dos políticos não tem competências e conhecimentos nesta área. São mal formados. Por outro lado, a sociedade actual parece ter dificuldades em identificar os limites normativos que devem enformar a vida em comunidade tendo como consequência a alienação do indivíduo pelos valores do serventilismo e do paternalismo. Não pensar em realizar-se como cidadão mas sim como um escravo da vontade alheia.
Vivemos na obrigação de não dar opinião, mais uma vez pelo medo de perder qualquer coisa: o emprego, os amigos, a posição social… o que vão pensar de nós se decidirmos participar numa campanha política? Veja-se, a título de exemplo, o que se tem passado no concelho de Caminha.
É bom que reconheçamos que há muito a fazer pelos Direitos Humanos para que a sociedade do século XXI faça vingar os valores da paz, da igualdade, da justiça, do trabalho, da liberdade… Todos temos responsabilidades e não devemos olhar o sofrimento dos outros como um problema alheio mas como uma dificuldade da comunidade que urge resolver.
À semelhança de José António Caride acreditamos que “ainda na incerteza, assumimos que não basta saber fazer ou saber ser. Além disso, é preciso reconhecer-se e saber-se, pessoal e colectivamente, como actores de uma História que ainda não acabou: partícipes da tomada de decisão, na interpretação dos desequilíbrios sócio-ambientais, no que fazer cívico, na determinação dos estilos de vida… Tarefas às quais a educação é chamada a restabelecer muitos dos seus significados perdidos e, se possível, a aceitar desafios que ampliem o seu protagonismo no desenvolvimento humano”.
Se a decisão política for no sentido de construir uma escola investindo na formação cívica dos professores em vez de imbróglios burocráticas que, mais uma vez, estimulam o medo e geram a desconfiança nas instituições então teremos esperança numa nova sociedade.