Acabamos de ler na imprensa local que, a Associação de Estudantes da EB2,3/S de Caminha, convocou e concretizou uma greve geral de alunos no passado dia 10 de Novembro. As reivindicações dos alunos parecem-nos claras: 1) um estatuto do aluno negociado entre as partes (professores, alunos e “patronatos”); 2) mais emprego e fim do trabalho precário; 3) contra a pobreza; 4) recuperação do edifício do Centro Coordenador de Transportes e criação de uma Casa da Juventude; 5) melhoria das instalações da escola.
Admitimos a existência, até na nossa praça, de alguns defensores da necessidade da contenção da agitação social que, segundo eles, resulta normalmente de gente mal intencionada que não quer trabalhar e cujas manifestações a nada conduzem. No entanto, a história encarregou-se de nos ensinar que foi graças a estes “agitadores” que as classes populares conseguiram ir melhorando as suas condições precárias.
Afinal, vivemos um período em que, toda a gente, aconselha toda a gente a trabalhar sem se queixar, a fazer sem questionar, a engraxar, a lamber… para sobreviver porque a vida está difícil. E ela será mais difícil se o povo se deixar pisar e se esquecer que muito se lutou para que a democracia e a cidadania se impusessem.
Também estamos informados que ainda sobrevivem no mundo os verdadeiros inimigos da democracia. Estes só encontram como amigos os que os bajulam, obedecem e agem fortemente contra os críticos do sistema. É, por isso, que a meritocracia que proclamam não passa de uma panaceia utópica.
Dentro desta ilusão encontram-se, por exemplo, aqueles que ousam defender a produtividade nas escolas. Afinal, o que é isso? A escola é alguma fábrica de produtos inanimados, numa linha de montagem, onde se aparelham materiais mortos e prontos a ser telecomandados? Claro que não!
E, estes alunos, acabam de demonstrar que “não andam cá por ver andar os outros”. Eles têm sentido crítico e vocação de intervenção na sociedade ao serviço dos outros e da melhoria das condições dos seus concidadãos. É o exercício da cidadania que reclamam nas comemorações do centenário da república.
É bom que voltem à Câmara Municipal ali tão perto a reclamar a intervenção no centro de transportes, a luta contra a pobreza e a melhoria das condições da sua escola. É bom que mantenham o seu espírito de luta frente ao autista Ministério da Educação até serem ouvidos e respeitados como cidadãos.
Está de parabéns a sua escola e os seus docentes que educaram os alunos para o exercício da cidadania, da responsabilidade e da intervenção pública em prol dos ideais da revolução francesa que animam a nossa república: liberdade, igualdade e fraternidade.
Como escreveu Jules Renard, “o homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão” e, estes alunos, alargam a nossa confiança na sua geração poder vir a ter o engenho de trocar a produtividade pela solidariedade, o serventilismo pela liberdade e a meritocracia burocrática pelo mérito da justiça e fraternidade.