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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O papel dos professores na escola moderna

A escola mudou muito desde o século XIX até aos dias de hoje: de instituição elitista, selectiva e promotora de valores ligados às classes burguesas e eclesiásticas até ao pós - 2ª Guerra Mundial e a massificação do ensino, bem como o acesso das classes populares ao mesmo ou a integração dos jovens provenientes das mais diversas paragens geográficas que têm afluído à Europa e, mais concretamente, à Península Ibérica. A escola é hoje uma instituição incontornável dos Estados pós-modernos e merece um olhar sociológico sobre a sua realidade no contexto dos valores, costumes e crenças dos povos do século XXI.
É na escola que se constrói a sociedade do futuro mas também esta é o receptáculo mais fiel do produto social do momento: a violência escolar, o conflito, o racismo, a xenofobia…).
O problema das migrações está hoje na agenda política e social da grande maioria dos países ocidentais europeus. Se, para a Europa do norte, tradicionalmente receptora de imigrantes, esta questão tem já décadas de trabalho e reflexão, para a Europa do sul, a reflexão e o desenvolvimento de planos de acção está agora a começar. Por exemplo, a Península Ibérica tem vindo a modificar-se e a passar de terra de emigrantes a ponto de chegada de imigrantes.
A discussão continua acesa pelo facto de, na actualidade, o mundo estar a viver uma das maiores crises económica e financeira de que há memória. O crash financeiro associado ao colapso da economia americana e europeia acentuou as desigualdades entre os países e entre as classes sociais. O acesso ao emprego está cada vez mais difícil, a segurança social (na Europa) contraída, o aumento da esperança média de vida estão a provocar uma crise de valores cada vez mais evidente. O imigrante foi apanhado neste mare magno de escombros em que se transformou o chamado mundo desenvolvido. O crescimento do apoio popular aos partidos defensores de ideais xenófobos tem vindo a aumentar devido à desinformação e à demagogia utilizada para acalmar os nacionais face aos problemas do desemprego e da perda de regalias sociais.
No entanto, desde o alvor da Humanidade que o Homem tem levado uma vida errante pelo mundo, tem sido uma espécie de migrante. Aliás, desde cedo que os povos, mesmo os sedentários, se viram obrigados a procurar melhores recursos para se estabelecerem fugindo às intempéries, às guerras ou, como ainda hoje acontece, à desertificação. A demanda de melhores condições de vida tornou o Homem num emigrante e promoveu também o desenvolvimento científico e tecnológico de que os Descobrimentos e a conquista são exemplos da natureza migrante do Homem.
Depois de os europeus terem procurado as Américas como destino preferencial de uma mudança de vida é, a própria Europa, que a partir dos finais da Segunda Guerra Mundial e em consequência do auxílio norte-americano (“Plano Marshall”) se torna um espaço preferencial de imigração. O esforço de reconstrução europeu do pós-guerra apostado na construção de vias de comunicação, edifícios, portos, aeroportos, industria, comércio… devido à ausência de mão-de-obra suficiente tornou-se terreno fértil para a deslocação de pessoas da periferia da europeia.
A construção da União Europeia, a partir do Tratado de Roma (1957), vem dar não só um impulso económico-financeiro ao conjunto de países desta organização supranacional mas também uma concertação política e estratégica na gestão dos recursos europeus (materiais, humanos, ambientais…).
Com o fim do período dourado do emprego europeu a Europa comunitária começa a construir a sua política migratória assente em dois pilares: a) controlar os fluxos de imigrantes; b) criação de condições dignas de integração dos imigrantes. No entanto, fechar fronteiras constitui não só um violentar da predisposição natural do Homem para circular em busca de melhores condições de vida como um aumento do número de imigrantes em situação irregular.
Relativamente à União Europeia destacamos, a título informativo, a política europeia de imigração que é sustentada nos seguintes organismos e documentos: grupo de Trevi (1976); Convénio de Dublin (1990); Acordo de Schengen (1984); Tratado de Maastricht (1991).
Portugal foi durante séculos uns país onde a maior parte da sua população se viu forçada a emigrar para poder sobreviver. Desde os Descobrimentos que impuseram a colonização até à actualidade os portugueses continuam a sua diáspora pelo mundo. A existência, bem como a história, de inúmeras comunidades portuguesas espalhadas por todo o mundo espelham esta realidade.
Mas, à semelhança de outros Estados do sul europeu, nos últimos vinte anos Portugal tornou-se um país de acolhimento para muitos imigrantes. Inicialmente, até aos anos noventa, foi sobretudo procurado por habitantes dos países lusófonos que nuns casos procuravam fugir da guerra (Moçambique, Timor, Angola e Guiné) e noutros procurar melhores condições de vida económica (Brasil, S. Tomé e Príncipe, Cabo-verde). Actualmente pontificam os oriundos dos países do leste da Europa, China e Índia.
Com cerca de meio milhão de imigrantes legais (INE: 2008) este pequeno país a viver uma grave crise económica e social começa também a reflectir e a adoptar políticas de imigração de forma a adaptar-se a esta nova realidade e a escola desempenha, neste particular, um papel importante na humanização dos alunos promovendo a educação para a paz e os direitos humanos.
Na actualidade, mais que um local de aprendizagem tradicional, os professores enfrentam o desafio de ensinar a conviver segundo o princípio da tolerância face à diferença. Logo, além dos princípios reguladores da vida na organização escolar a classe docente vê-se confrontada com a necessidade de abordar as problemáticas da cidadania, do saber conviver, do respeito mútuo, da capacidade de autocontrolo… inerentes à escola cada vez mais universal do ponto de vista social.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A ruptura conjugal não impede a educação em família

A problemática dos direitos das crianças, embora mais presente na consciência social e científica está ainda num processo de construção. Prova disso, é o entendimento e enquadramento legal dado pelas sociedades à questão. Aprioristicamente achamos que uma das razões para este atraso se prende com o facto de o divórcio e a separação só agora terem atingido níveis de notoriedade social que, obviamente, estarão relacionados com fenómenos demográficos, económicos, culturais e sociais.
O modelo tradicional de família está agora diluído num conjunto de paradigmas que nos transportam a outros níveis de entendimento e de aceitação social (famílias monoparentais, recompostas, conjugais…) que, por sua vez, conduzem os cientistas sociais a procurar respostas no sentido de manter o equilíbrio educacional das crianças e jovens perante o colapso familiar.
As crianças não escolhem nascer e também não podem escolher os pais. Por outro lado, os pais normalmente escolhem como, quando e com quem querem constituir família. Se quisermos também acrescentar o factor dependência (física, psicológica, emocional, económica, social…) do menor em relação ao adulto, no que toca aos rumos que gostaria de dar à sua vida, então começamos a perceber a debilidade e fragilidade da criança no grande palco da vida social entre os adultos. Adultos que escolheram, de certa forma, a sua vida e que, com as suas decisões, irão desequilibrar a vida dos seus filhos.
O mundo hodierno está pleno de novidades para as quais as sociedades ainda procuram enquadramento. Em pouco mais de cem anos, a sociedade abriu-se 24 horas por dia e assistiu ao deslumbramento tecnológico, a mulher começa a experienciar a liberdade de decidir sobre si e a sua vida, as crianças saíram do banco do patrão para o da escola, vivemos mais e cada vez mais com melhor saúde, a esperança média de vida aumentou sonhos e a capacidade de amar e querer ser amado… Mas, toda esta vertigem acarreta dificuldades que não estavam calculadas pelo Homem, maior longevidade traduz-se rapidamente em igual aumento de responsabilidade. Esta responsabilidade traduz-se nas preocupações actuais com o ambiente, os valores, o emprego, a pobreza e a distribuição da riqueza… e claro, a aprendizagem e a consciencialização de que a educação é a pedra angular de todo o sistema.
A educação é um dos mais, senão o mais, representativos agentes de socialização se a entendermos, pelo menos, em dois círculos: o familiar e o escolar. Daí que, na sociedade do capital em que hoje vivemos, a educação tem um preço para os pais e para as nações. Entende-se que mais educação representa melhores cidadãos e maior evolução social. Estes princípios poderão claramente ser discutíveis quanto ao carácter manipulador e de coacção dos adultos sobre as crianças mas, não podem ser excluídos do padrão da sociedade actual. Hoje ter filhos não é pensar em mão-de-obra para o campo mas sim a assumpção de um amor e um desprendimento financeiro dos pais na procura de concretizar a felicidade dos filhos.
Com tanto desenvolvimento quase se torna impossível pensar o fim das coisas, da vida, do amor… é possível que isso aconteça! O que fazer então?
A literatura destaca a perspectiva abrangente que coloca sobre a mesa familiar todos os seus agentes: filhos e pais. Quando o relacionamento dos progenitores atinge o seu limite traduz-se em dor e sofrimento não só para as crianças como para os pais. Sofre aquele que já não ama, o que ama e os que querem continuar a ser amados e estimados.
Todo o fim implica o princípio de algo que deve ser assumido com racionalidade e responsabilidade. Os pais enfrentam não só o constrangimento emocional da relação que acaba mas também as consequências imediatas dessa separação: as hipotecas, os negócios do casal, a divisão dos salários, a quantificação da educação dos filhos, a mudança de casa, etc.
Esta nova etapa da vida familiar (pois o facto de ter acabado o casamento/relação não termina a família porque há filhos para cuidar) apanha sempre os pais num momento psicológico mais frágil o que, em diversas ocasiões, se transforma num problema pessoal (progenitor) e familiar (filho). Daí que assuma primordial importância a tomada de consciência por parte dos adultos, da situação e que, ainda sob o sofrimento do rompimento conjugal, sejam capazes de manter o amor pelos filhos acima da dor provocada pela separação.